15/12/2005

Nirvana - Sliver - Best of the Box

Geffen



Rating: 5/10

Anyone familiar with the intricacies present in Bleach, Nirvana’s debut record, will tell you how different it sounds from the great rock n’ roll swindle that followed, Nevermind. Songs like "Floyd the Barber" and "Paper Cuts" seemed to surrender themselves to the slippery purgatory of college radio. At least, that’s what happened with Dinosaur Jr. and The Melvins.

To put a long story in a small paragraph, let’s just say that, a few years after formation, Nirvana inadvertently left their insurrectionary status as a band from Aberdeen, Washington, and toured the world. From transgressive art vandals, Nirvana became pop stars. In the end, Kurt Cobain took his own life and another rock mimesis act was accomplished. And after Nirvana, no band was ever capable of outdoing the legacy inherited.

I know it sounds terribly lame and everything in music (and art, for that matter) has to be put in some kind of perspective - and I do have a perspective, but choose the emotional one whenever Nirvana is the subject. But that doesn’t stop me from stating that nothing reverential has to be said about Sliver: The Best of the Box. As the title suggests, this release is a brief summary of last year’s much-balyhooed boxed set, With the Lights Out.

That, of course, and three previously unreleased tracks, but that is too weak of an argument to put an album out. Sure it’s always a delight to hear "Clean Up Before She Comes" or their cover of Leadbelly’s "Ain’t It a Shame", but it must be really frustrating for the diehard fan to purchase an album with 19 (out of 22) tracks that were released the year before. But mind you, that’s how the music industry works. Besides, Christmas is fast approaching.

What really sets the tone for a record that, otherwise, would sound merely revisionist (and, in a way, this surely is) is the first track. Unreleased before the Geffen marketing machine roared to life, aiming to put a hand or two in your wallet, "Spank Thru" is one hell of a track. Particularly because this is the version taken from the now mythical Fecal Matter demo tape, released in 1985 and featuring Cobain on guitar and vocals, and Dale Crover (of the mighty Melvins) on bass and drums.

The second reason why this makes any sense is "Sappy", a studio recording from 1990, which is a candelabrum of a song that documents Kurt Cobain’s love for the folksy side of music. This one here crosses his poppy voice with a bassline reminiscent of Motown. Ironically, this is the sort of music most fans of Nirvana’s more oblique side will have to grit their teeth to get through.

Finally, the pre-Nevermind, rougher version of "Come As You Are" included here lacks the rhythmic anchor of the more polished versions of the track. It doesn’t set things on a knife edge as most Nirvana tracks do. Besides, this is the kind of tune that deserved a less-abrupt ending, one that would serve as a proper instrumental postscript.

To really break it down for you, let me just say that if you haven’t bought With the Lights Out, don’t make the mistake of trying use this compilation as a surrogate. Save a few more bucks and get the real deal. If you are a devoted fan, you may want to consider getting this for the meager novelties it encloses but, at the end of the day, you will agree that Sliver: The Best of the Box is just a pair of sloppy brackets encapsulating ever more interesting takes, still hidden in the vault. This is clear for anyone who knows which end of a guitar goes through the amp.

http://www.lostatsea.net/review.phtml?id=927236035439e7038d0740

NEU! - NEU! / NEU! 2 / NEU! 75

1972 / 1973 / 1975 (2005)

Gronland Records/Popstock!

Chamaram-lhe shoegaze porque as bandas tocavam imóveis enquanto fixavam os olhos no chão do palco. Esta é uma das pistas possíveis para redescobrir os NEU! mas não é talvez a mais correcta. Quando se reeditam os três álbuns com que fizeram história (na verdade, são dois mais um, mas já lá vamos), importa situar a formação germânica num conceito-chave: o “motorik”, um tipo de som industrial que soa às engrenagens que fizeram falta nalguma da cinematografia de Chaplin. Assim sendo, e indo um pouco mais à frente na árvore de conceitos, encontramos outro para designar os dissidentes kraftwerkianos: nem mais nem menos que “krautrock”. Mas relativamente a esse terão de repartir louros com uns Faust ou uns Can. O rigor de enquadramento oblige.

A cidade de Düsseldorf pariu-os em 1971, depois de Klaus Dinger e Michael Rother terem abortado nos Kraftwerk. No início do ano seguinte, os NEU! lançavam o disco homónimo de estreia. Gravado com Conrad Plank, produtor com os Can no cabeçalho do currículo, NEU! é a cábula a que se recorre quando o que importa é perceber as matizes do krautrock. Até porque, como veremos adiante, foi o único trabalho gravado em condições ditas “normais”, se descontarmos o facto de ter sido gravado em apenas quatro dias. Lapso de tempo manifestamente curto para apurar estruturas tão complexas quanto as que se declinam, por exemplo, em “Negativland”.

Imaginemos um fio de contas em que cada uma destas se desmultiplica em outras tantas e estas últimas teimam em constituir família. Daí até se decantar de cada tema uma nebulosa de espirais de guitarra, uma percussão maquínica, um baixo descomplexado mas parco nas notas, um sentido de comunidade, nem que seja entre roldanas e parafusos, locomotivas e trovões (um deles até cunhou a expressão “apache beat” para definir o som que faziam no interior da banda) é um pequeníssimo passo e um salto grande na direcção de abrir novos caminhos. Para pôr as coisas numa perspectiva histórica, diríamos, sem grandes achaques, que sem os NEU! nunca os My Bloody Valentine ou os Stereolab teriam existido, ou, a existirem, seriam certamente pouco mais do que interessantes.

Mas ao disco o que é do disco: um Dinger endiabrado a levar a bateria ao céu, a fazer descer sobre as nossas cabeças uma Via Láctea de peles esticadas ao invés de as fazer seguir pela Via Verde. A música é lenta mas tocada a um volume impossível, denso, nada circunstancial, aglomerador de empatias e ouvidos em sangue. É aqui que devem procurar as bases fundadoras desse estilo barroco de tocar alto e devagar. Já o baixo de Rother é da ordem de grandeza de uma rede de pesca para peixe graúdo, em cujos nós ficam suspensas linhas de guitarras que são protagonistas nos sonhos húmidos dos melómanos que nunca calçam o sapato errado. Mas não vejam na pintura pinceladas de virtuosismo desmesurado: só para terem uma ideia, “Hallogallo” é o mesmo acorde de guitarra em distintas variações. Por aqui até parece simples ser-se complexo.

E, no entretanto, enquanto o disco evolui – aqui sem metade da piada da edição original, porque nesta tinha que se mudar de lado –, aquilo que se afere é um estado liquefeito, quase de narratividade, apesar dos drones afoitos, do feedback a rodos e de fades capazes de deixar qualquer produtor mais académico com os nervos à flor da pele. O eco, empilhado em montanhas de outros efeitos, e um toque despudoradamente industrial estão para “Im Glück” como o carimbo de “essencial” está para o resto do disco. Mas isto foi só o princípio do fim.

Em 1973, era NEU! 2 que saía para alemão ver (note-se que, durante o período de carburação da máquina, os sons foram de difícil exportação para lá da Alemanha Ocidental). Com prazos muito difíceis de cumprir e um orçamento dificilmente deduzível em sede de IRS, este segundo tomo conta apenas duas canções acabadas: “Super” e “Neuschnee”. E é isto. Bom, isto mais umas sobras e diferentes velocidades para aqueles temas para encher um disco e fazê-lo seguir para as lojas.

Ou seja, tudo o que seria frontalmente dispensado por músicos sem vocação para o suicídio, todas as imperfeições, as minudências de estúdio – tipo o som da fita de cassete a sucumbir ao traquejo do gravador ou o tradicional ruído de disco riscado – fizeram uma aparição fulgurante num disco que também começou a dar mostras do aflorar de problemas internos. Vale sobretudo pelo “statement” absolutamente contra-sistema que representa, bem mais do que pelos retalhos de experimentação avulsa que seguiram para serem prensados.

Claro que os tais problemas no seio dos NEU! deram em bronca e a bronca deu em reunião, que por sua vez deu em disco – NEU! 75 de 1975 e nova separação. Depois, Rother começou uma carreira a solo, Dinger e Hans Lampe começaram os La Düsseldorf, nova reunião dos NEU! na década de 80 e compasso de espera até ser editado NEU! 4, em 1996. Mas a história que aqui se conta termina ali em cima, em 75. Arrumemo-lo pois em três ou quatro frases porque até é o menos interessante do material reeditado. Despachemos já a faixa alienígena: “Hero” é tão desajustada que mais parece hino punk à Johnny Rotten (e o pior é que acaba com o chilrear de pássaros). “Isi” é New Order para a estrada. O disco fica salvo por “E-Musik”, tema sombrio, sequenciadores no sítio certo, fogo de artifício rítmico, com uma verdadeira noção de perspectiva, espaço e vagas dentro do som. Noves fora, será sempre um prazer ouvir os NEU!, sentir-lhes os ossos e as articulações de novo e reaprender, a cada escuta, a gostar de música. Trinta anos depois. Antes mesmo de muitos de nós termos nascido ou aprendido a gostar da música que interessa.

http://www.bodyspace.net/album.php?album_id=557

13/12/2005

Sonic Youth - Goo [Deluxe Edition]

Geffen



Rating: 9/10

Two years after Sonic Youth’s Dirty got the deluxe treatment it deserved, Goo emerges from the vaults and is upgraded for a new generation of sonic prospectors. The addition of outtakes, B-sides and material never before released is indeed what makes this 2xCD set appealing to the diehard fans who bought the follow-up to Daydream Nation in its heyday.

Retrospectively, Goo, originally released in the summer of 1990, was extremely important for at least a couple of reasons: a) it hinted at the direction the New Yorkers were heading in, both musically and as a cohesive art ensemble, and b) it pulverized all scepticism that inevitably blossomed after they had signed with a major label. (Before moving on, let’s just thank everyone involved for keeping the original Raymond Pettibon artwork intact.)

In the liner notes for this expanded edition, music writer Byron Coley recalls: "A college student named Debbie told me… ‘When I was 12 years old someone gave me a copy of Goo. It’s the only thing that saved me from being a teenybopper." In a time when it was the rock star, and not the DJ, who could save your life, the guitar/bass and drum slugfest that occurs throughout the course of this album is tentatively provocative and rather inspiring, to say the least. Anyone expecting a softened detour in Sonic Youth’s path, after Daydream Nation broke its way to the masses, must certainly have felt really confused with tracks like "Mildred Pierce" and "Disappearer", the latter a song about UFOs. Some even dismissed it as mere artistic filler before pointing to an overall artistic failure circa Experimental Jet Set, Trash and No Star. But Thurston Moore, Kim Gordon, Lee Ranaldo and Steve Shelley are still here to prove them all wrong.

The real highlight of this record remains Kim Gordon’s collaboration with Public Enemy’s Chuck D on "Kool Thing". Her vocal mannerisms defy any sort of categorization when assisted by the always ferocious and poignant presence of the storied MC. But, for the purists, there’s also the clean, Chuck-less version of "Kool Thing" on Disc Two. Of course Goo would never be the same without "Mary-Christ", a song about dating Jesus’ mother, which gets all the exposure it deserves on both discs of the release; or "Tunic (Song For Karen)", a tribute to the lead singer for the Carpenters, who died of heart failure brought on by anorexia nervosa, in the early 80s – a song also featured on side two as an 8-track demo, along with other revisited luminaries like "My Friend Goo" and "Cinderella’s Big Score".

As it is normally the rule when these expanded records come out, the tracks featured on side two strip the original album to its barest essentials and all manner of studio-induced glimmer goes out the window. Those not connected to the Sonic Youth galaxy – and therefore a thousand light-years away from the genesis of everything interesting – will now have the chance to pull the plug twice on this album. All others - meaning those who understand that these songs aren’t supposed to be sung in the bath and who despise self-pitying arguments about a certain taste in music - will delve into the lethargic moan of Moore, and the incontinent emotion enclosed in Gordon’s voice.

As an addendum, those who understand will know how it feels like to be one of the first to put their hands on valuable material such as "That’s All I Know (Right Now)" and "I Know There’s an Answer" – amazingly-crafted covers of the Neon Boys and the Beach Boys songs, respectively – as well as the instrumentals "Can Song" and "Isaac", and the essential "Dr. Benway’s House", which was Sonic Youth’s contribution to William Burroughs’ Dead City Radio. Some will argue that this deluxe edition flattens Goo’s primal scream into a commercial item, full of extras, and overexposes its fundamental truth (the inclusion of a six-minute, promotion-only interview may also be regarded as a marketing appetizer per se). But I would say that the least we can do for Sonic Youth is to sacrifice our philosophical argumentation on the altar of their music, updated or otherwise.

http://www.lostatsea.net/review.phtml?id=1539382983439e4981346f1