04/06/2005

Os Bravos Não Têm Descanso, de Alain Guiraudie

França / Áustria, 2003

Temos a imagem do penúltimo sono, sonha-se e depois morre-se. Mas sabe-se: um dia vamos ter que acabar por dormir. É um filme de vigília em permanente rota de colisão com os filmes de vigília orientados para o segmento pré-adolescente. O protagonista foi beber um copo e só voltou dois meses depois, em Agosto, queixa-se a mãe. Souleilhes é uma aldeia pacata onde morreram vinte pessoas numa noite, assassinadas.

Há cenas de uma ironia mordaz, como aquela em que um rapaz toca guitarra e outro ordenha as cabras. Ou quando, pela inércia, o autocarro pára e o rapaz é projectado pelo vidro da frente (que não existe). A cena de sexo na mesa de bilhar, as cores inebriantes, estamos à superfície dos sonhos, geografia de todos os desejos e luxúrias. A conversa à janela, uma vela atrás, com um vizinho. Planos quentes.

Basile é o rapaz que não dorme porque não pode. Mas arranja forma de descansar um pouco. Se puser o despertador para daí a algumas horas, acorda e aquele não será o seu último sono. Johnny Got é o outro, preso a um baloiço por alegadamente ter roubado bolinhas vermelhas. E há ainda Igor. Há um que repete as perguntas que lhe fazem. E depois há cidades imaginárias como Bairoute.

Um ano depois regressa, o filho pródigo. A mãe queixa-se, claro. Mas só não o viu porque não procurou por ele. O plano de fecho dos três amigos, com a ficha técnica a passar, é qualquer coisa de inenarrável.

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