10/04/2005

Bordadeiras, de Éléonore Faucher

França, 2004

Como os cucos põem os ovos nos ninhos dos outros, também Claire pretende dar à luz a criança que carrega no ventre “sob a alínea X”. Dá-la para adopção, bem entendido. A viver num lúgubre apartamento longe dos pais, a adolescente culpa a cortisona pelos quilos a mais que os seus colegas do Intermarché começam a notar nela.

O filme é uma metáfora deliciosa sobre o mistério da concepção. A primeira efabulação acontece com os cucos que Claire usa para se justificar perante a bordadeira para quem passa a trabalhar. Entre agulhas e brocados, estas duas mulheres constroem uma ligação afectiva assente numa envergonhada troca de palavras de quando em vez. Quando Madame Mélikian, a patroa, a quem lhe morreu o filho num acidente de mota, tenta o suicídio, é Claire quem a salva. Porque precisava do dinheiro, porque dela dependia, também porque gostava dela.

A fotografia de Bordadeiras é a sua mais-valia estética. Há um plano muito bonito e singular da amiga de Claire, sentada no telhado, em Lyon, lendo a carta que falava da gravidez não planeada. Era o irmão desta sua amiga quem conduzia a mota que vitimou o filho de Mélikian. E é Guillaume, a braços com um profundo sentimento de culpa, quem recupera a metáfora que é a marca de água desta película.

“É uma fêmea cheia de ovos”, explica Guillaume depois de devolver ao lago o peixe que havia apanhado. “Também eu estou prenha”, desabafa Claire e desfaz-se num pranto.

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