a deusa sonhada

Estava para ali sentada num banco de comboio. Meio adormecida, a deusa de verde e ganga. Ele sentou-se no banco da frente para olhar mais de perto a divindade. Não é todos os dias, não é todos os dias. Ele com a cabeça apoiada no braço. Ela adormecida agora, desperta a seguir. Como um farol. As mulheres são assim, como um farol: emitem um feixe de luz tão intenso que é capaz de salvar o náufrago. Que é capaz de cegar o mundo. São, vamos lá, intermitentes e caprichosas, as mulheres - iluminam quando querem. Passou-se um bom quarto de hora, o comboio a percorrer os carris, a vida suspensa na dúvida (oh, a eterna dúvida!) de saber se uma nova vida se abria ali. Ela levantou-se para sair. Ele, com a deusa já de costas voltadas:

- Espera!

e estendeu-lhe um pedaço de cartão onde tinha rabiscado um número de telefone. Ela agradeceu e encaminhou-se para a porta. Só depois olhou para o cartão. Ele não viu a expressão que lhe dançou no rosto e ela saiu.

E não ligou, a deusa de verde e ganga.

Não há telefones no Olimpo.

SYLVIA PLATH

Sylvia Plath suicidou-se há 46 anos. No início da semana passada, o filho Nicholas Hughes fez o mesmo.

Sempre que leio o nome dela, sinto um arrepio na nuca e lembro-me de duas coisas:

1) a frase dela "I talk to God but the sky is empty" impressa no livrinho que acompanha "Generation Terrorists", o álbum de estreia dos Manic Street Preachers:



2) na contracapa do disco "Gold" de Ryan Adams, o nome dela destaca-se no alinhamento de músicas porque é o único todo em maiúsculas: SYLVIA PLATH



"and maybe she'd take me to France
or maybe to Spain and she'd ask me to dance
in a mansion on the top of a hill
she'd ash on the carpets
and slip me a pill
then she'd get me pretty loaded on gin
and maybe she'd give me a bath
how I wish I had a Sylvia Plath"

Little Ghetto Boy (rep.)

Esta semana, o Coffee Breakz volta à galáxia do downtempo soulístico para uma hora de relaxamento criativo. O nosso piloto automático nem precisa de GPS - é só seguir as notas como migalhas caídas no chão. Vamos ouvir música de Kojak, Pete Rock, Donnie Hathaway (foto) e Avatars of Dub. E mais. É a mudança de estação a afectar os nossos frágeis circuitos internos.

01 The Roots Intro/There's Something Goin' On
02 Kojak Soulful
03 Mighty Bop Life Is a Gamble
04 Unsung Heroes One We Made Earlier
05 Louise Vertigo La Femme Fin de Siecle
06 Ifir Osmosis
07 Spearhead Plenty O' Nothing
08 Donnie Hathaway Little Ghetto Boy
09 Avatars of Dub Sexelevatormusic
10 Slide Five Streamline
11 Sweetback feat. Bahamadia Au Natural (Roots rmx)
12 Pete Rock feat. Loose Ends Take Your Time
13 Corrina Joseph Wanna Get Down
14 Mama Oliver East West (Kruder and Dorfmeister rmx)
15 Esthero Superheroes




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emitido a 24 Março

Handsome Furs e a nuyorican soul

O Coffee Breakz começa por servir um bife cortado pelos Nadja no lombo dos My Bloody Valentine, uma vaca sagrada que muitos nem ousam ordenhar. Depois, perde-se em Joanesburgo com os BLK JKS mas fixa-se no Canadá para estender o microfone ao casalinho Handsome Furs (na foto). Ainda há tempo para apanhar o expresso de Wavves e dos Super Furry Animals (muito animalesca esta edição). Na segunda parte, abrimos a antena a três deliciosas fatias da nuyorican soul e uma de Savath y Savalas, uma das máscaras de Guillermo Scott Herren (Prefuse 73).

01 Nadja Only Shallow
02 BLK JKS Lakeside

03 Handsome Furs
3.1 Cannot Get Started
3.2 What We Had
3.3 I'm Confused

04 Wavves So Bored
05 Super Furry Animals Inaugural Trams

06 Nuyorican Soul
6.1 The Joe Cuba Sextet Mambo of the Times
6.2 Celia Cruz Guedia Zaina
6.3 Perez Prado Que Rico el Mambo

07 Savath y Savalas La Llama
08 The Tough Alliance A New Chance (Tanlines remix)
09 Miike Snow Burial (Benny Blanco remix feat. Neon Hitch)
10 Nickel Eye (feat. Wale) Brandy of the Damned (Mark Ronson remix)




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emitido a 17 Março

Maldoror por Mão Morta (DVD)

Há uma teoria facilmente defensável sobre as bandas e o tempo certo para acabarem ainda em glória. Segundo essa teoria, as bandas que mantêm uma longa carreira sempre com bons discos (e elas são pouquíssimas) têm bons amigos, que certamente os aconselhariam a corrigir a mira ao primeiro tiro ao lado. O que não faltam são exemplos de músicos que reincidem no erro da fórmula mil vezes tentada e quase tantas outras falhada: têm maus amigos, está bom de ver.

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Lotus Plaza - Whiteout

Os Deerhunter caracterizam-se por uma abordagem da música experimental que a própria banda define como "ambient punk". Em apenas três álbuns, mais um disco-bónus editado com o último "Microcastle", a formação de Atlanta movimentou-se (ainda o faz) nas franjas do indie rock. A este, junta-lhe a dimensão "arty" que anda a definir esta primeira década do novo milénio (do Animal Collective às encantadoras Vivian Girls) e um inconformismo que puxa os limites da pop até à estratosfera.

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Blog da Semana: Queridos Anos 80

Queridos Anos 80 é um blog que responde a duas paixões do seu autor, identificado apenas como tarzan boy, e que são «a música e escrever». O primeiro post remonta a Novembro de 2003, numa altura em que o blogger andava numa «onda de revivalismo» e pesquisava na Internet espaços dedicados à música da sua adolescência: os anos 80, pois claro!

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estados de alma

Nada de novo.
Continuo a odiar dormir sozinho.
Continuo a ter insónias todas as noites.
Continuo a acordar cansado todos os dias.
Continuo a apaixonar-me todos os dias e sempre pelas pessoas certas.
(Não há pessoas erradas.)
Ainda não morro de amores pela mulher que mais devia venerar, a Vida, que as mais das vezes é uma cabra fria e caprichosa.
Continuo a pôr toda a esperança do mundo em causas perdidas.
Continuo sem saber se devo continuar. Mas continuo sempre.
Sempre é melhor assim.

E continuo a ficar com o coração às postas quando vejo e oiço coisas destas:

Fever Ray - Fever Ray

Parece que, nos últimos tempos, da Suécia só chegam bons ventos e bons casamentos. Ainda no ano passado, Lykke Li, espécie de deusa menor da pop, encantou com as suas "Youth Novels". Agora, é Fever Ray quem leva o troféu do melhor disco de estreia no primeiro trimestre deste 2009, enquanto vai reservando um lugar que se espera destacadíssimo na lista dos melhores do ano. Trata-se do projecto a solo de Karin Dreijer Andersson, que partilha com o irmão Olof o duo The Knife.

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as mulheres do islão

Só mesmo uma mulher destas poderia pôr-me a ouvir a monarquia:

"No que diz respeito às mulheres, não posso dizer que o mundo árabe é perfeito. As mulheres não têm direitos iguais - ainda! Mas há países que têm feito progressos excelentes. A violência contra mulheres não é exclusiva da nossa região. Em todo o mundo, uma em cada três mulheres é vítima de abusos. É uma vergonha mundial e nenhum país venceu essa batalha."

sobre os "crimes de honra":
"Não é uma prática generalizada. Não tem nada a ver com o islão. Não é um indicador do estatuto da mulher na nossa cultura - e estamos a desafiá-lo."

(Rania, Rainha da Jordânia)

Lenine, o feiticeiro em Lisboa

Foi preciso esperar seis anos para ouvir novo disco de Lenine, ainda que pelo meio tenha havido acústico para a MTV e várias produções de outros músicos. Mas, quando o cantor e compositor pernambucano sobe a uma Aula Magna cheia, na sua fabulosa figura de Kurt Cobain cigano, a celebração do regresso acontece numa hora e meia sem uma única falha. A fome pode dar nisto!

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Foto: Vanessa Krithinas

The Bug - Poison Dart

The Bug ia tocar esta sexta-feira na ZDB, em Lisboa, e este sábado no Plano B, no Porto. Mas já não vai. No início da semana, o site da galeria alfacinha divulgava a nota: "É com muita pena que anunciamos o cancelamento da actuação de The Bug feat. Flowdan. Pedimos muitas desculpas por este incómodo." Não houve qualquer explicação oficial para o cancelamento e o MySpace do insecto mantém, à hora de escrita destas linhas, as datas portuguesas (ainda que estas apareçam trocadas).

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Idan Raichel - The Idan Raichel Project

Há muito que a tradição não é o que foi em tempos. Este enunciado ganha uma força enorme nas músicas do mundo, que, aos poucos, abandonam o discurso obsessiva e restritamente baseado no passado para se passearem com lantejoulas. Esses acessórios são, a maior parte das vezes, electrónicos e fazem mais por espalhar a voz de um povo do que qualquer tentativa de, a pretexto de o preservar, atirar para uma redoma museológica o seu legado cultural.

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Blog da Semana: Ouve-se

O Ouve-se é uma tentativa. As palavras são do criador e único dinamizador do blog em destaque esta semana no Cotonete. Filipe Marques é consultor de comunicação e diz que, «no limite», criou o Ouve-se porque gosta de música. «Gosto de escrever e gosto de escrever sobre música», conta-nos. «Mais do que um melómano», Filipe vê-se como um fã: «compro CDs, vou a concertos, compro a ocasional t-shirt».

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atrás das grades

Os dias ficam sempre mais bonitos quando este monte de merda nazi vai dentro, juntamente com seis das suas carraças amestradas.

Já reparaste como os neonazis são sempre feios?

beatices papais

Isto já nem devia perturbar-me mas, como até nem me lembro de nada mais interessante para fazer agora, aqui vai. Ora, o Papa anda a espalhar a boa nova por África e resolveu dizer que o preservativo não combate a Sida - não, não, a abstinência é que vale, corrige! Antes de mais, ele lá saberá do que fala, terá certamente mais experiência que todos nós. E depois, eu pus-me a pensar: os africanos, além da miséria, dos que vivem com menos de um dólar por dia serem aos milhares (multiplicar as vezes necessárias até fazer um número realista) e de serem governados por líderes essencialmente corruptos quando não abertamente criminosos, ainda devem passar sem sexo. Assim é o mundo ideal de Bento XVI. E eu que, na minha ingenuidade, sempre pensei que a humanidade faz a guerra e outras merdas porque não copula o suficiente.

Com um céu destes, começo sinceramente a preferir o inferno.

Bonnie 'Prince' Billy - Beware

Will Oldham já foi um dos barbudos mais miserabilistas do cancioneiro americano, agora é ainda um barbudo mas parece mais feliz - ainda bem para ele. No entanto, essa nova "joie de vivre" não pode deixar de assustar os seguidores mais devotos do senhor. Quando Oldham, já na pele de Bonnie 'Prince' Billy, em 1999 nos jurou ver as trevas ("I See a Darkness") e cantou "death to everyone is gonna come", cantámos e jurámos com ele.

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o peso

Claro que nada no mundo tem o peso que eu lhe dou - ou a leveza com que eu me iludo. Um dia, eu vou saber dar às coisas do mundo o peso que realmente têm. Mas, até esse dia, a noite segue longa e fria. E eu só quero sobreviver a este Inverno.


please don't confront me with my failures. I have not forgotten them (Nico)

Themselves no clã da formiga

Esta semana, começamos por falar nuyorican, antecipando uma edição dedicada aos ritmos latinos e soulísticos dos anos 70. Depois, chega uma importante mensagem do quartel-general de Ghostface Killah. Pelas mulheres. Porque, em boa verdade, o que seria de nós sem elas?

O Coffee Breakz volta a entrar no clã Anticon, que edita a nova mixtape dos Themselves (na foto). Temos ainda a insistência em I.U.D. (Gang Gang Dance + Growing) e a descoberta de Lotus Plaza, o outro projecto paralelo dos Deerhunter.

01 Captain Planet Speakin Nuyorican
02 Deradoorian High Road
03 Ghostface Killah Message From Ghost
04 Speech Debelle The Key
05 Shuanise Masudanante Naima
06 Themselves FREEHoudini excerpt (feat. Aesop Rock, Busdriver, Why? & cLOUDDEAD)
07 I.U.D. Daddy (Aaron Warren Remix)
08 Lotus Plaza Whiteout
09 Asobi Seksu Layers
10 St. Vincent The Strangers
11 Audion I Am the Car




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emitido a 10 Março

Flaming Lips em novo vídeo

Os Flaming Lips (na foto) acabam de disponibilizar o vídeo de 'Borderline', em exclusivo na loja online Amazon.

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Jack White forma The Dead Weather

O vocalista e guitarrista dos White Stripes, Jack White, acaba de formar The Dead Weather, uma nova banda que junta elementos dos Queens of the Stone Age, The Raconteurs e The Kills.

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Kutiman remistura YouTube

O músico israelita Kutiman (na foto) acaba de lançar um álbum que cruza vários vídeos do YouTube e que revoluciona a arte do corte e costura na era digital.

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Blog da Semana: Drops Cultural

Escrever sempre fez parte da vida de Alê dos Santos, criadora e dinamizadora do blog brasileiro Drops Cultural. «Antes de começar a escrever na Internet, eu fazia e-mails para os meus amigos com as coisas que hoje publico no blog», explica. Agora, limita-se a direccionar a sua escrita para os assuntos de que gosta e, no caso do blog desta semana, «o assunto mais recorrente é a música (indie, pop, rock e música popular brasileira)».

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l'heure d'été

Não estava preparado para ver a minha Juliette Binoche loira e num filme aborrecido como a eucaristia dominical:



A parte boa é que ninguém lhe tira aquele belo nariz arrebitado.

Handsome Furs - I'm Confused

Há na música alguns exemplos de relações amorosas que convivem bem com simultâneas relações criativas. Thurston Moore e Kim Gordon, nos Sonic Youth, são talvez o exemplo mais bonito, como o foram um dia Johnny Cash e June Carter. (Neste caso, a história é tão romântica que Cash nem chegou a viver quatro meses sem Carter, juntando-se-lhe na morte no fim do Verão de 2003.) Os Handsome Furs também juntam marido e mulher no momento da criação e o segundo filho acaba de nascer.

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Rupa & the April Fishes - Extraordinary Rendition

Rupa Marya nasceu em São Francisco, nos Estados Unidos, mas os pais são da região de Punjab no norte da Índia. Aos 10 anos, mudaram-se para França onde Rupa integrou uma grande comunidade de imigrantes árabes. De volta aos EUA, lança agora o álbum "Extraordinary Rendition", que descreve como um mosaico. Notam-se, de facto, neste disco de estreia, influências de vários pontos do globo, de França à Argentina, do leste europeu à Índia, do imenso mundo latino às Américas.

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Noiserv - One Hundred Miles From Thoughtlessness

É muito provável que esta crítica venha a destempo. Afinal, "One Hundred Miles From Thoughtlessness" já saiu no ano passado, em edição de autor, com o apoio da netlabel portuguesa Merzbau. No entanto, nunca é tarde para falar desta música, sobretudo quando Noiserv anda na estrada a apresentá-la e prepara-se para, em Abril, tocar na Áustria e na Alemanha, ao lado do músico Bernhard Eder.

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Jeff Buckley - Hallelujah

Como toda a gente sabe, não há no mundo versão mais bonita do que esta (aqui ao vivo, onde ele se tornava um animal):

Elliott Smith - Between the Bars

Hoje dói-me esta música do Elliott Smith. Correcção: doem-me sempre todas. Ele foi o último junkie suicida na Terra a fazer-me soluçar.




Drink up baby
Stay up all night
With the things you could do
You won't but you might


Há um lado fascinante de doce depressão na música dele. Fico sempre longos períodos sem o ouvir mas, quando regresso a ele, ouço-o também durante longos períodos. Até o abandonar outra vez à sua sorte. É quase doentio e ridículo.

boletim clínico

Hoje fui à farmácia por iniciativa própria, uma deslocação que assume a dimensão de um pequeno escândalo junto das pessoas que me conhecem há mais tempo. Mas o que posso dizer? Talvez a minha saúde já não seja a mesma ou a idade comece a fazer sombra no meu corpo. Sou um péssimo doente porque não estou habituado a ter problemas.

Errare humanum est. Mas há erros e erros. Há erros lindos e outro muito feios. Uns são mais facilmente desculpáveis do que outros. E depois há disparates como este (que me fez ficar agarrado à barriga, contorcido de tanta dor provocada pelo riso):

mantinha há mais de dois anos relações homossexuais com a vítima (...). Há quem o ache 'simpático e delicado', mas também quem sempre o tenha visto como 'um tipo esquisito, com um problema qualquer por trás' (Público, 14 Outubro 1991)
(passagem recordada pelo Provedor do Leitor do jornal, na coluna de hoje)

Mas também, só não se solidariza com o autor daquela bela prosa quem nunca sentiu o aperto do fecho da edição (em papel, na rádio, etc.). O jornalismo é agora e sempre a melhor profissão do mundo!

Leio no Ípsilon de sexta-feira:
"Portugal é um país romântico, mesmo que saibamos pouco sobre o país" (Patti Smith)
Leio também que o marido de Patti, Fred "Sonic" Smith, costumava dizer-lhe que um dia ela ia acordar e começar a falar como um pescador português, porque tinha tantos livros sobre Portugal.
Às vezes, preciso de ler estas coisas para aprender a gostar um bocadinho mais deste rectângulo. É triste, eu sei, mas é a pura verdade.

Finalmente, apontar este link é deselegante e umbiguista. Mas também não é todos os dias que se vê o nosso trabalho reconhecido desta forma.

Está feito o boletim clínico.

O raio da febre no Coffee Breakz

Chove sobre Kinshasa, apesar das simpáticas temperaturas, e foi certamente essa combinação de factores que nos deixou engripados. Esta semana, o Coffee Breakz segue pois em modo constipado e começa por lá, com os Staff Benda Bilili, que gravaram a música de abertura no exterior do jardim zoológico do sítio, com electricidade roubada.

Ainda na primeira parte, vamos conhecer Fever Ray (na foto), o projecto a solo de uma das metades dos suecos The Knife. E também Laura Gibson, que gravou o último disco numa casa com vista para um dos cemitérios mais antigos de Portland. No posto de escuta, encostamos os ouvidos ao som garagista dos Lizards From Afar. Depois, insistimos no novo disco de Neko Case no dia em que sai para as ruas e abrimos a pista para palpitações electro e dub.

01 Staff Benda Bilili Moziki
02 Bon Iver Blood Bank
03 Fever Ray If I Had A Heart
04 Alela Diane White As Diamonds
05 Laura Gibson Spirited

6 Lizards From Afar
6.1 Kung Fu Lover
6.2 Batphone
6.3 Clipboard

07 Neko Case Middle Cyclone
08 Mammút Svefnsýkt
09 Vivian Girls Lake House
10 Ladytron Tomorrow (Great Northern Remix)
11 Vampire Weekend vs Miike Snow The Kids Don't Stand a Chance
12 Lost Valentinos Serio (Jacques Renault Dub)




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emitido a 3 Março

Laura Gibson - Spirited

Da mesma cidade que nos deu (e já não dá) Elliott Smith, chega Laura Gibson, um pequeno culto local em Portland, que tem tudo para crescer ainda mais. O terceiro álbum, "Beasts of Seasons", é já de 2009 e foi gravado numa casa com vista para um dos mais antigos cemitérios da cidade. E talvez por isso, o disco está dividido em duas partes, as "communion songs" e as "funeral songs".

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Setlist.fm revela alinhamentos

O Setlist.fm é um novo site que permite consultar e actualizar o alinhamento dos concertos em vários locais e datas. O projecto, com sede física no Liechtenstein, usa a tecnologia wiki, que possibilita aos utilizadores sugerir e fazer alterações às informações fornecidas.

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Little Boots tira fotos para disco

Little Boots passou esta quarta-feira em sessões de fotografia para o trabalho gráfico do seu álbum de estreia. A informação é revelada no Twitter da artista, que adianta ainda que "Mad It Back" pode vir a ser o título do disco.

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Blog da Semana: O Velho Blitz

Paulo Ramoa reconhece que tem tendência para o coleccionismo: «ainda tenho o meu livro de leitura da 2ª classe», conta-nos. Por isso, manter um blog que se dedica a recuperar as edições do jornal Blitz, que foi «guardando no sótão», é uma coisa natural. Iniciado em Novembro do ano passado, «com a publicação da capa do número 1», O Velho Blitz reaviva-nos a memória, à razão de «um, dois números por semana».

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o pó das estrelas

Acho incrível que passes a noite nos meus braços, a ver explosões de estrelas, e depois não me deixes sacudir (dos teus ombros) o pó das estrelas.

Do meu quarto vê-se o céu todo.


"well I don't need anybody because I learned to be alone"


Sinto o contrário do que escrevo. Sabendo isso, podia escrever o oposto e assim estaria a escrever verdade. Mas parece-me sempre mais sincero escrever o que escrevo. Mesmo sendo mentira, mesmo sentindo o oposto.

Sempre gostei de desajustados. Como aquele tipo do Expresso da Meia-Noite, de Alan Parker, que vai parar a uma prisão turca por transportar droga. Numa passagem, os detidos (já na ala psiquiátrica) arrastam-se em marcha maquínica e circular, todos no mesmo sentido. Um colega de cela armado em filósofo diz-lhe que eles são máquinas com defeito.






"for she loves you for all that you are not"

neko + bonnie

Esta semana, Neko Case e Bonnie 'Prince' Billy puseram-se a falar dentro da minha cabeça.

Disse a bruxinha boa:

"can't give up actin' tough
it's all that I'm made of
can't scrape together quite enough
to ride the bus to the outskirts of the fact that I need love"



(e ouvi uma caixinha de música)

Respondeu o feiticeiro triste:

"and then I see a darkness
and did you know how much I love you
is a hope that somehow you,
you can save me from this darkness"

Umalali: The Garifuna Women's Project

Descendente de escravos africanos naufragados nas costas das Caraíbas, a comunidade Garifuna luta por manter vivas a sua língua, música e tradições, ameaçadas pela globalização. Este povo, fruto da união entre os escravos e os indígenas caribenhos, começou por habitar as zonas costeiras da Guatemala, Honduras, Nicarágua e Belize. E, como em muitas comunidades, são as mulheres a espinha dorsal da Garifuna e as principais responsáveis por manter acesa a chama deste rico legado cultural.

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Sonic Youth em pré-escuta

Uma pequena parte do próximo álbum dos Sonic Youth encontra-se em pré-escuta, no site da revista norte-americana Newsweek.

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Neko Case - Middle Cyclone

A magia encantatória de "Middle Cyclone" começa logo na capa: Neko Case aparece acocorada no capot de um carro sem condutor, em posição predatória e empunhando uma espada. A presa é sempre quem escuta as suas palavras escritas com pop solarenga, mas atravessadas por uma fina camada de ironia e bom humor, que a maior parte das vezes é negro. E, neste caso, a teia que a bruxinha boa vai tecendo é mais espessa do que nunca.

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Mars Volta e Hella criam novo grupo

Elementos dos Mars Volta e dos Hella juntaram-se para criar uma nova banda, chamada El Grupo Nuevo de Omar Rodriguez-Lopez, com disco a sair já em Maio.

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a predadora

Hoje, ela voltou a nascer para mim:

Telepathe - Dance Mother

2009
V2 / Nuevos Medios

O disco de estreia das Telepathe, produzido por um dos TV on the Radio, é mais um cancioneiro de danças tribais e descoordenadamente coreografadas.

As Telepathe são Busy Gangnes e Melissa Livaudais, formaram-se em Brooklyn, em 2004, e Dance Mother é um dos discos mais aguardados dos últimos meses. E se não é, devia ser. Produzidas por David Sitek dos TV on the Radio, estas nove canções transpiram aquele apelo tribal, definitivamente dançante, que faz de Brooklyn um dos mais excitantes núcleos criativos da actualidade.

Depois de anos a definir as coordenadas do hip-hop, o "burrough" de Nova Iorque tem criado, na última década, as mais duradouras tendências da pop de pedaços electrónicos. Com Saint Dymphna do ano passado, os Gang Gang Dance estabeleceram um novo padrão de "coolness" que a letrista, percussionista e instrutora de yoga Gangnes e a multi-instrumentista Livaudais cumprem sem mácula.

Exactamente a meio do disco, encontra-se "Lights Go Down", um tema que glorifica a pulsão ao nível da linha do ventre, que sentimos quando submetidos a um concentrado de teclas, detritos eléctricos e retalhos sonoros de jogos de computador de outros tempos. Não há nada de novo nisto e, no entanto, as Telepathe conseguem soar mais frescas do que a secção de congelados de um hipermercado.

Os sintetizadores andam por todo o lado, a acentuar a componente hipnótica desta música que não é techno nem house mas que, em voo predatório, rapina alguns dos seus princípios. O ritmo é quem manda nesta montanha russa de palpitações ziguezagueantes apuradas em estúdio. É por ele que "Michael" começa por levar linhas de techno a gratinar para depois, entre frases como "he hides behind the rocks and waits for you", sair um refogado de reverberações e outras delicadas aberrações experimentais.

Lá em cima, tínhamos deixado "So Fine", o tema de abertura sempre indeciso entre um destemido disco e uma pop açucarada, e "Chrome's On It", espécie de roleta que distribui, em partes desiguais, guitarras lúcidas e marados sintetizadores. Depois, ainda há a trilogia "Breath of Life, Crimes and Killings, Threads and Knives", uma fascinante instalação artística atirada para o final do álbum, e "Drugged", que fecha Dance Mother num farto e demorado elogio da auto-satisfação em veludos privados.

http://www.bodyspace.net/album.php?album_id=1517

Dragons of Zynth preparam disco

Os Dragons of Zynth estão a trabalhar num novo álbum, que será o sucessor do disco de estreia, "Coronation Thieves".

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Blog da Semana: Posso Ouvir um Disco?

Posso Ouvir um Disco? é um blog criado na ressaca de uma recuperação. Quem o diz é o próprio autor, Nuno: «estive dez anos numa clínica de reabilitação para viciados em música». Logo que saiu, pôs um walkman, gravou «todos os programas de rádio que podia» e começou a «poupar o dinheiro das mesadas para comprar discos». Na época das rádios pirata, colaborou com várias e com a Rádio Universidade Tejo. Também foi «correspondente, nos Estados Unidos, do Blitz e depois do Se7e».

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nino

Não me compete julgar um homem que não conheço. Menos ainda à hora da sua morte. Mas posso escrever sobre um episódio que se passou comigo, no final de Setembro de 2007. À época, eu era assistente de produção da Rádio ONU em Nova Iorque. Aproveitando o embalo da Assembleia-Geral e a presença das grandes figuras no edifício, fizemos entrevistas com os chefes de Estado dos cinco países africanos que falam português. No estúdio de gravação, o agora "rei morto" fazia-se acompanhar por grandes e grossos capangas. O que eu senti foi que, se tocasse com apenas um dedo no Nino, era logo neutralizado ali. Senti na pele o peso daquela atmosfera e senti uma espécie de paz podre, um estado de putrefacção nas palavras daquele homem. Vim a perceber depois que era aquilo afinal uma óptima metáfora para o estado actual das Nações Unidas - irremediavelmente desunidas mas sempre a fingir consensozinhos. Num ano ele diz que a Guiné-Bissau precisa de ajuda por causa do flagelo do narcotráfico. No ano seguinte, a situação era já calma. Dizia ele. E os líderes africanos lá saltam de corrupção em corrupção como rãs de nenúfar em nenúfar. E o destino daquelas gentes sempre adiado. Mereciam bem mais e melhor.

"Ladies and gentlemen we are floating in space"

O Coffee Breakz desta semana antecipa os regressos de Cage, Neko Case e Black Dice. Celebra os discos novos de Charles Hamilton, Swan Lake, Black Lips e Dum Dum Girls. Recorda a beleza da madrilena Russian Red e da sueca Lykke Li. Rende homenagem a Charlie Cooper, uma das metades dos Telefon Tel Aviv. E liga-se à estação espacial N.A.S.A., a colaboração entre Squeak E. Clean e o brasileiro DJ Zegon, com um batalhão de convidados: por cá, vamos conhecer as duas improváveis reuniões de David Byrne com Chuck D e de Tom Waits com Kool Keith. A não perder!

01 Whitefield Brothers American Nightmare (feat. Guilty Simpson)
02 Cage Nothing Left to Say
03 Charles Hamilton Scorpion
04 Midwest Product A Genuine Display (Telefon Tel Aviv Remix)
05 El Guincho Kalise (Tanlines remix)
06 Lykke Li Little Bit (AutoErotique Bootleg Remix)

07 N.A.S.A.
7.1 Gifted (feat. Kanye West, Santogold & Lykke Li)
7.2 Money (feat. David Bryne, Chuck D, Ras Congo, Seu Jorge & Z-Trip)
7.3 Spacious Thoughts (feat. Tom Waits & Kool Keith)

08 Swan Lake A Hand at Dusk
09 Russian Red Cigarettes
10 Neko Case People Got a Lotta Nerve
11 Black Lips Short Fuse
12 Black Dice Glazin
13 Dum Dum Girls Catholicked
14 Anamanaguchi Dawn Metropolis




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emitido a 24 Fevereiro

Fever Ray - If I Had a Heart

Que bela música, que belo vídeo!