29/03/2009

a deusa sonhada

Estava para ali sentada num banco de comboio. Meio adormecida, a deusa de verde e ganga. Ele sentou-se no banco da frente para olhar mais de perto a divindade. Não é todos os dias, não é todos os dias. Ele com a cabeça apoiada no braço. Ela adormecida agora, desperta a seguir. Como um farol. As mulheres são assim, como um farol: emitem um feixe de luz tão intenso que é capaz de salvar o náufrago. Que é capaz de cegar o mundo. São, vamos lá, intermitentes e caprichosas, as mulheres - iluminam quando querem. Passou-se um bom quarto de hora, o comboio a percorrer os carris, a vida suspensa na dúvida (oh, a eterna dúvida!) de saber se uma nova vida se abria ali. Ela levantou-se para sair. Ele, com a deusa já de costas voltadas:

- Espera!

e estendeu-lhe um pedaço de cartão onde tinha rabiscado um número de telefone. Ela agradeceu e encaminhou-se para a porta. Só depois olhou para o cartão. Ele não viu a expressão que lhe dançou no rosto e ela saiu.

E não ligou, a deusa de verde e ganga.

Não há telefones no Olimpo.


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