Não me compete julgar um homem que não conheço. Menos ainda à hora da sua morte. Mas posso escrever sobre um episódio que se passou comigo, no final de Setembro de 2007. À época, eu era assistente de produção da Rádio ONU em Nova Iorque. Aproveitando o embalo da Assembleia-Geral e a presença das grandes figuras no edifício, fizemos entrevistas com os chefes de Estado dos cinco países africanos que falam português. No estúdio de gravação, o agora "rei morto" fazia-se acompanhar por grandes e grossos capangas. O que eu senti foi que, se tocasse com apenas um dedo no Nino, era logo neutralizado ali. Senti na pele o peso daquela atmosfera e senti uma espécie de paz podre, um estado de putrefacção nas palavras daquele homem. Vim a perceber depois que era aquilo afinal uma óptima metáfora para o estado actual das Nações Unidas - irremediavelmente desunidas mas sempre a fingir consensozinhos. Num ano ele diz que a Guiné-Bissau precisa de ajuda por causa do flagelo do narcotráfico. No ano seguinte, a situação era já calma. Dizia ele. E os líderes africanos lá saltam de corrupção em corrupção como rãs de nenúfar em nenúfar. E o destino daquelas gentes sempre adiado. Mereciam bem mais e melhor.
02/03/2009
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