românticos e trágicos

Da próxima vez que me falarem de romantismo, eu vou contar esta história:

Joan Downes, com 74 anos, soube na Primavera que tinha um cancro terminal que já só lhe dava meses ou até semanas de vida. O marido Edward, com 85, não tinha nada que comprometesse a sua vida no imediato, apesar de estar praticamente cego e cada vez mais surdo. Decidiram morrer juntos numa clínica suíça ingerindo uma solução letal. Edward era, ao que parece, um conceituado maestro com uma longa carreira que passou pela Royal Opera House de Londres e pela Filarmónica da BBC. Mas não era ninguém sem ela.

Românticos e trágicos agora e na hora da sua morte, da morte deles. Como na literatura, na música e na vida.

"And if a double-decker bus crashes into us
To die by your side is such a heavenly way to die"
(The Smiths, 'There Is a Light That Never Goes Out')

Prodigy - Diesel Power

Os Prodigy tocam esta sexta-feira no festival Optimus Alive! 09, que decorre no Passeio Marítimo de Algés, em Lisboa. O concerto servirá essencialmente de apresentação do mais recente disco "Invaders Must Die", editado na primeira metade deste ano. A recepção ao álbum foi mista mas tendeu, a maior parte das vezes, para a mediania: não houve críticas excessivamente entusiastas nem muitas apreciações demolidoras.

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Wilco - Ashes of American Flags (DVD)

Os músicos que acompanham a respiração dos tempos sabem que actualmente o maior esforço (físico e financeiro) terá que ser gasto nos espectáculos ao vivo. Com as vendas dos discos em queda, um bilhete é, hoje mais do que nunca, o passe para tocar o nervo de uma banda. Ora, um DVD que tenta recriar um ambiente live terá de se fazer acompanhar por um valor acrescentado porque parte sempre em desvantagem (nada substitui estar num concerto).

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Putumayo Presents Italia

Um disco dedicado à música de um país corre sempre o risco de deixar muita coisa de parte. Em "Putumayo Presents Italia" haverá inevitavelmente quem não veja representada a sua Itália ou quem considere que estas onze canções não recriam de todo a Toscânia ou a Sicília guardadas na memória. Mas se essa recolha cobrir um bom quinhão da diversidade cultural da terra tratada, terá cumprido um papel muito importante.

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os caracóis

Era sábado ao fim da tarde e, antes de continuar, é importante dizer que era sábado ao fim da tarde depois de um dia de trabalho que começou às 08h30 da manhã de sexta-feira e só terminou às 07h do dia seguinte, sábado portanto. Pus-me em casa ainda não sei bem como, dormi qualquer coisa e acordei um pouco antes da hora de almoço. Nessa noite, ia jantar a um sushi com uns amigos mas antes eu e um desses amigos passámos pela Fnac. Na zona dos discos havia um plasma a passar um DVD ao vivo do Michael Bublé. Aquilo estava a incomodar-me e eu lamento muito mas há limites. Não fui de modas e baixei o som daquilo, tanto que ficou sem som. O meu amigo chamou-me "terrorista" e eu só lhe disse "vamos sair daqui".

Quando na segunda-feira seguinte, ao almoço, ela me perguntou o que se passava para eu estar tão pensativo, expliquei que estava cansado e relatei o meu fim-de-semana sem esquecer o episódio do terrorista da Fnac. Caíram-me todos em cima, que o Bublé até tem coisas giras e é romântico e o camandro. Ela não disse nada, não se pronunciou sobre o Bublé mas percebi que, no fundo, achou graça ao meu acto de rebeldia.

Quanto ao romantismo, consigo encontrá-lo aqui por exemplo - mas nunca no Bublé:

"I'm getting lost in your curls. I'm drawing pictures on your skin, so soft it twirls" (Bluish, Animal Collective)





Tenho um enorme fascínio por morenas de caracóis!

Mos Def - The Ecstatic

Mos Def é daqueles MCs que deixam saudades entre edições mesmo quando mantêm uma produção regular mas não necessariamente transcendente. No seu caso, desde "The New Danger" de 2004 (um disco que tem uma capa francamente melhor do que a música lá dentro) que não fica mais de três anos sem gravar. O novo álbum, o quarto do rapper nova-iorquino, sucede ao medíocre "True Magic", que não foi mais do que uma obrigação contratual com a Geffen e que Mos Def quis que saísse sem capa nem promoção.

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Konono Nº1 - Kule Kule

A edição recente do álbum de estreia dos Staff Benda Bilili voltou a desviar a atenção de alguma comunicação social para a República Democrática do Congo. "Très Très Fort" gerou falatório, não apenas pela música, mas também pelas circunstâncias em que foi gravado: consta que com electricidade roubada do jardim zoológico de Kinshasa. Antes deles já os Konono Nº1 eram alvo de um mediatismo a que estariam pouco habituados.

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Mazgani - Tell the People

"Come closer, Moses! Come closer, Jesus! Bring me a water to heal my thirst!" É desta forma, em jeito de cântico religioso, quase de espiritual negro, que abre o EP "Tell the People" de Mazgani. As palavras, a voz e as palmas de 'Thirst' lembram muito o cancioneiro maldito de Nick Cave ("God is in the house, oh I wish he would come out") e de Leonard Cohen ("the baffled king composing Hallelujah"). E não é por acaso que o luso-iraniano os cita como influências e lhes acrescenta o nome de Tom Waits.

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Buju Banton, o artilheiro jamaicano

Senhor de uma voz funda como um poço e ruidosa como um trovão, Buju Banton é pura prata jamaicana em estreia absoluta em Portugal. Na primeira noite da edição de 2009 do Delta Tejo, o cantor de Kingston entrou como um furacão, hiperactivo e elástico, levantando os joelhos quase até ao peito. A camisa listada, a calça e o sapatinho domingueiro fizeram do jamaicano a figura da noite com uma presença notável e uma insuperável capacidade de mobilização.

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Skank chutam para golo

Uma entrada quer-se triunfante e, pouco antes dos Skank subirem ao palco no primeiro dia do Delta Tejo, ouvia-se o genérico do filme "O Bom, o Mau e o Vilão" de Sergio Leone. A inconfundível peça de Ennio Morricone preparou a entrada em cena de uma das formações brasileiras mais queridas entre portugueses. Vestindo um casaco à motard e uma camisa de flanela, o vocalista e guitarrista Samuel Rosa começou por entoar 'Pára-Raio' do novo "Estandarte", o disco em apresentação.

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Playlist > Junho 09

Washington DC, capital do hardcore

Fugazi - Waiting Room
The Evens - You Fell Down
Minor Threat - Seeing Red
Rites of Spring - Nudes
The Teen Idles - Deadhead
Embrace - Last Song

Balanço do Semestre

Fever Ray - When I Grow Up
Dirty Projectors - Stillness Is the Move
Animal Collective - My Girls
Grizzly Bear - Cheerleader
Neko Case - Middle Cyclone
Mayra Andrade - Tchápu na Bandera
Mulatu Astatke & The Heliocentrics - Masenqo
Isis - Stone to Wake a Serpent

O homem do cavalo

Bob Dylan - Mr. Tambourine Man
Rodriguez - Sugar Man
The Velvet Underground - I'm Waiting for the Man
Johnny Cash - Cocaine Blues
Neil Young - The Needle and the Damage Done
People Under the Stairs - Acid Raindrops
GZA - Hell's Wind Staff/Killah Hills 10304
Helmet - Drug Lord

Katy Perry, a Barbie atrevida

Katy Perry joga muito com ambiguidades e, na maioria das vezes, não se sai nada mal com isso. A sua língua afiada já lhe valeu críticas de campos opostos: foi acusada de homofobia e de dar mau nome aos homossexuais e já mereceu reparos das hordas conservadoras em que foi educada, supostamente por promover a homossexualidade. Mesmo descontando a lógica dos cifrões e do marketing, que anda sempre associada a estas coisas, não deixa de ser interessante tentar perceber o fenómeno.

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cinema

Ele já andava farto de pensar que nela o único defeito era mesmo ter namorado. As questões morais são lixadas, são inibidoras de movimentos. Os dias foram passando, um após outro, e nada acontecia - apenas minúsculos avanços e enormes retrocessos no plano de conquista. Uma mulher não é uma aldeia mas não restam dúvidas de que o amor é um campo de batalha. Era nisso que ele pensava quando, num dia como os outros, ela lhe pergunta: "Queres ir ao cinema?". Claro que o mundo ruiu!

Tortoise - Prepare Your Coffin

Estava tudo mais ou menos preparado para um desfecho a médio prazo, um ponto final que, não tendo sido anunciado, andava a pairar sobre os Tortoise há já algum tempo. A espantosa colaboração com Bonnie 'Prince' Billy no álbum de versões, "The Brave and the Bold", seguida da compilação "A Lazarus Taxon", ameaçava tornar-se o cair do pano para o quinteto de Chicago. Afinal, o pós-rock já foi chão que deu uvas (a repetição torna-se inevitável) e é hoje assumido por outros sob outras formas.

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Os Tornados - Twist do Contrabando

Com tão obcecado revivalismo dos anos 80, já ia sendo tempo de olhar ainda mais para trás e retirar dos 60s as referências que interessam e aplicá-las à gramática actual. Em traços mais grosseiros do que grossos, é isso que fazem Os Tornados, espécie de vendaval sónico na recente produção discográfica cá do burgo.

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Little Boots - Hands

No final do ano passado, a inglesa Little Boots era dada e achada como uma das mais certeiras promessas para 2009: da BBC ao Independent, da revista Fader ao Times, todos apostavam nela, Cotonete incluído. O historicamente sisudo The Times até lhe aplicou o rótulo de "estrela pop perfeita". Com o disco de estreia finalmente editado, é importante olhar para trás e perguntar se estavam errados os oráculos da imprensa especializada. Não, nada disso! Mas...

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