26/08/2008

Especial: Reggae Clássico

Lee Perry

Não há como escapar: as origens do reggae confundem-se com a história da Jamaica. Perdida no mar das Caraíbas, a sul de Cuba, a ilha é a pátria desse descomplexado estilo de música popularizado por Bob Marley. Uma análise aturada do fenómeno situa as raízes mais fundas no R&B de Nova Orleães, nos Estados Unidos. Quando tentam esgravatar na procura de pedaços de história, os entusiastas do reggae deparam-se sempre com um problema: na Jamaica não há factos, há em abundância versões diferentes da mesma história.

Talvez mais do que qualquer outro, este estilo de música é também um estilo de vida. Por volta de 1960, os músicos jamaicanos começaram a apurar o ska, uma derivação mais festiva do R&B que chegava dos EUA via rádio a pilhas. Os locais chamavam ao ska qualquer coisa como R&B do avesso, uma transgressão que atravessou facilmente o Oceano Atlântico até ao Reino Unido mas que mais dificilmente voltou ao epicentro de Nova Orleães.

Por sua vez, foi de uma ligeira desaceleração do ska que brotou o reggae. Na certidão de nascimento pode ainda ler-se que o género terá surgido nos bairros de lata de Kingston. Entretanto, florescia nas ruas da capital jamaicana uma geração de DJs que actuavam ao ar livre com os chamados “sound systems”. Eles foram decisivos para o lento despontar de uma indústria de gravação e produção de discos. No final dos anos 50, surgiam a R&B Records, precursora da mítica editora Island, e a West Indies Records, esta pelas mãos do futuro primeiro-ministro jamaicano Edward Seaga.

Com o ska cada vez mais popular, a descendência não pára de crescer. A voz chega-se à frente, o ritmo torna-se mais lento e eis que nasce o rocksteady. Mas se este tinha a disciplina da pop feita por brancos, o reggae insistia em faltar ao baile de formatura. A sua preocupação foi, desde muito cedo, inscrever-se num certo espiritualismo que há-de dever muito aos espirituais negros da América opressora. É então que a comunidade rastafari adopta o reggae como uma espécie de candeia numa sociedade cada vez mais fragmentada.

A Jamaica, que se tornara independente da coroa inglesa em 1962, falhava as promessas sociais e o reggae tornava-se mais político. Recorde-se que os rastafaris acreditavam que um rei negro seria coroado em África e libertaria as tribos perdidas da Babilónia. É em terras sedentas de liberdade que o reggae encontra pasto para arder, consumindo-se em apelos à paz e, aqui e ali, de dedo em riste apontado ao regime. Ao mesmo tempo, os antigos colonizadores apropriavam-se agora do som que chegava da Jamaica, tornavam-no mais agressivo e deixavam em solo britânico as sementes do punk rock.

Para continuar a ler sobre as origens do reggae, Bob Marley, Lee Perry (na foto), Peter Tosh e a Trojan Records, clicar aqui.

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