17/05/2005

A Eternidade e um Dia, de Theo Angelopoulos

Grécia / França / Itália, 1998



Há pelo menos duas boas ideias que o realizador grego explora neste filme. Duas boas ideias e uma passagem que rivaliza com outras igualmente boas nos circuitos mais marginais do cinema. Uma história dentro da história central de A Eternidade e um Dia: um poeta que compra palavras, porque as não conhece e precisa delas para escrever um poema. A outra é a resposta que o protagonista vê devolvida para a pergunta que faz a Anna: "uma eternidade e um dia" é quanto demora o amanhã.

A passagem de que falávamos acontece, é noite cerrada, quando Alexander pára o carro em que circula ao sinal vermelho do semáforo. Quando volta a verde, o afamado escritor em fim de vida não arranca, obrigando os outros condutores a desviarem-se dele. E assim fica até que, quando cai novamente o vermelho, já novo dia tinha começado, ele arranca a grande velocidade. A noite foi passada em vigília, em contemplação, estados de alma que o percorrem durante grande parte do filme e que o levam a olhar em flashback para episódios da sua vida amorosa com Anna.

Gravemente doente, Alexander pensa que se entrar no hospital, nunca mais de lá sairá com vida. Decidiu passar lá amanhã e amanhã é anunciado, recordado sempre que arvoram planos para o dia seguinte. É por isso que não se compromete para além de amanhã com um miúdo albanês, perseguido por uma rede de tráfico de crianças, que as vende a pessoas endinheiradas que não podem adoptar dentro das balizas da lei. Tenta fazê-lo chegar à Albânia em busca da avó que diz ter, mas o puto mente.

Alexander estava envolvido na bizarra empresa de acabar um poema incompleto do século XIX, mas também isso fica em suspenso. Porque talvez lhe faltassem as palavras, porque amanhã vinha já a seguir. Não é assim, como veremos no final. Entretanto, o enredo ganha mais com a cena do autocarro, com Alexander e o miúdo acompanhados de uma banda de músicos, do que em quase todo o registo em analepse. Contas feitas, não é um mau filme mas não se compreende o furor nem a Palma de Ouro de Cannes. É sobretudo um filme que ganhava se fosse encurtado nas pontas.

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