21/08/2008

José Cid - Ao Vivo no Campo Pequeno

José Cid - Ao Vivo no Campo Pequeno

Palco de touradas na capital do Reino, o Campo Pequeno já nos foi habituando a tristes espectáculos. Este foi só mais um. Mas em José Cid a barbárie é mais ao nível dos ouvidos do que no plano visual. Aos olhos o que se apresenta é o que se conhece de há vários anos: os óculos escuros, o cabelinho com risco ao lado, um piano e um ocasional par de velas. E aquele sorriso de quem sabe mais do que diz. Justiça seja feita ao homem, no meio de todo aquele kitsch, ele também não resiste à paródia de si. E isso é de louvar, até porque poupa trabalho aos críticos.

Numa edição que ultrapassa largamente as três horas, repartidas por um DVD, com o registo do concerto, uma faixa-bónus ('Favas com Xóriço') e uma entrevista, e por um disco generosamente recheado de êxitos, a música é alfinetada atrás de alfinetada e quase dá vontade de fugir do país. Há imagens que, por força de artistas como ele, não descolam de Portugal, por exemplo, a de um povo à espera de um qualquer Messias. Ouça-se a 'Lenda d'El Rey D. Sebastião' com aquelas gaitinhas em fundo e percebe-se tudo.

E o que dizer da 'Cabana Junto à Praia'? Simplesmente que, entre "as dunas e os canaviais", a libido cai de forma vertiginosa e nem chegamos lá com suplementos azuis. Mas enfim, José Cid tem público, esgota arenas e coliseus e ainda vai tocando com regularidade nos santuários-pimba do audiovisual. O que não deve desviar-nos do essencial: as letras são tão bafientas que até causam náusea ("tu ficas louquinha quando eu tiro a casca à banana/ ficas tão tontinha que a tua cauda abana") e a música é de uma ligeireza insuportável.

No concerto, por três vezes se tenta recuperar a memória do Quarteto 1111, a começar em 'Domingo em Bidonville', e por três vezes se falha. Mais à frente, sobem ao palco André Sardet para 'Perto Mais Perto' e 'Foi Feitiço', depois Luís Represas para '125 Azul' e 'Feiticeira'. Diz-me com quem andas... Mas também por aqui não há nada de novo. Quando se trata de tricotar o moralista manto da música portuguesa cantada em português, manda-se o bom gosto às urtigas e quase ninguém falta às aulas de costura.

A música de José Cid rima com um Portugal anacrónico, atrasadinho, longe da Europa e do mundo, e felizmente esse Portugal já não existe, salvo pequenas ilhas de resistência. Só quem nunca viu nevar em Nova Iorque pode pensar que 'Cai Neve em Nova York' é um retrato fiel da cidade e das suas gentes. Há tempo e espaço para tudo e para todos mas também há uma dignidade que quase nunca é tida em conta. As centenas ou milhares de pessoas que seguem em romaria para ver José Cid não deviam servir de desculpa para adiar a reforma do senhor.

http://cotonete.clix.pt/quiosque/novos_discos/body.aspx?id=379

14 comentários:

Anónimo disse...

É triste saber que ainda há neste país muitos pseudo-intelectuais que insistem em querer convencer os outros que percebem de música.
Gostam de ter palas à frente dos olhos, quais cavalos que devem seguir sempre em frente vendo não mais que uma tira da grande estrada que se apresenta diante deles?
É incrível como conseguem ainda hoje vir criticar José Cid e sempre pelas mesmas músicas. Pois bem meus caros...As Favas com chouriço e Como o macaco gosta de banana foram escritas a pensar justamente nos pobres de espírito como vós…É bom saber que o seu propósito foi atingido. E que dizer do absurdo embirranço com Cai neve em Nova York? Estaremos a falar de música ou de uma aula de história? Desde quando é que a música deve representar fielmente a realidade? Da cabana nem sequer vou falar, iria falar de coisas que vocês só podiam compreender se fossem pessoas de todo, um ser humano completo e não umas peças de propaganda fraca e grátis que inundam os nossos meios de comunicação.
Será necessário falar mais uma vez no 10.000 anos entre Vénus e Marte? Considerado por mais que uma vez como um dos melhores discos de rock progressivo de sempre, mas mais uma vez quem o disse devia ser cego surdo e mudo não?
A verdade é que José Cid incomoda muita gente, há mais de 40 anos que incomoda muita gente e só acabará a carreira quando morrer. Vão festejar esse dia? Pois a vossa festa será curta, ele poderá partir mas muitos ficarão para vos relembrar que ele existiu e foi um dos melhores músicos que este país deu ao mundo.

Anónimo disse...

Pseudo críticos: continuem a ler blogs, e a ouvir a respectiva música que brota deles. Continuem também a deliciar-se com pseudo bandas, que conseguem lançar albuns completamente banais, muitas das vezes cópias do que se fez há mtos anos...Mas pronto, como são das novas tecnologias já devem ser bons. Já para não falar que as bandas de hoje em dia, salvo raras excepções são todas iguais. Boa música, (e quando digo "Música" ,é uma coisa que desconhecem, apenas postam clichés)é, e será sempre bem vinda. Allez Cid !

Helder Gomes disse...

Obrigado a ambos (ou será o mesmo Ricardo?) por terem gasto uma fatia do vosso precioso tempo a ler a minha crítica. Vocês que aconselham os "pseudo-críticos" / "pseudo-intelectuais" como eu a continuarem a ler blogs. É verdade que o faço mas vocês também o farão certamente ou não teriam comentado... o meu blog. Reli a minha crítica e não encontrei nada que ultrapassasse o mero exercício de crítica livre, se bem se recordam, uma das maiores conquistas de Abril. Por mim, o José Cid pode continuar a fazer música a metro. Eu por cá continuarei a criticá-la, se vir motivo para isso. Com prejuízo da minha vida social, dirão vocês com um sorriso triunfal. Bem, só posso dizer que ficariam espantados com a minha riquíssima vida social! No teor dos vossos comentários eu não encontro nada mais do que um portuguesismo barato e até um nadinha reaccionário. Mas enfim, a liberdade existe para isso também, para se ser livre de desejar ficar sempre na mesma, na mesma poça de inutilidades de sempre. Até o próprio José Cid compreende isto. E se bem se recordam, a dada altura da crítica, eu elogio a capacidade dele de fazer troça de si próprio. Será que vocês também são? Para finalizar, apenas uma nota que não devem esquecer nunca: o crítico é quase sempre uma besta! Por isso, não esperem muito deste lado... Opiniões contrárias são sinónimo de liberdade e democracia. Voltem sempre, serão sempre bem recebidos. E obrigado.

Anónimo disse...

Iremos por partes...
Falas tu do portuguesismo...pois...cheio de razão, pensas tu hein?? e a tua atitude de te dares ao trabalho de escreveres um artigo unicamente a dizer mal do homem é o quê? Americanismo? Marxismo? Africanismo? Não meu caro.Portuguesismo. E em saldos. Por aqui, estamos conversados.
Ponto seguinte. Conquistas de Abril... Sabes porque é que Abril aconteceu? Não foi por causa da censura, não foi por causa do "medo", não foi o povo que fez Abril. Foram os militares para os militares. Para tirar o Exército de Angola, Moçambique e Guiné. Que lindo. Vais lá agora e vês como aquilo está. Abril de facto foi muito bom. Mas foi para o comunismo de Cuba, Rússia e China. Lê história e vais perceber. Mas ainda bem que dizes que as opiniões contrárias são bem vindas, assim fico mais descansado.
Ponto seguinte. José Cid e a sua música. Sabes, eu gosto do Cid, tive o prazer de privar com ele, na sua própria casa. Senhor simpático, amável, educado. Por aqui, também não esperes muito de mim. Decerto que até a tua banda favorita teve, ou está a ter, o seu período mau. A menos que a tua banda favorita seja o ultimo grito dum blogue inglês postado à 12 minutos atrás. Essas ainda não o tiveram, nem o mau nem o bom, porque ninguém olha para elas. As minhas bandas favoritas também tiveram o seu, e são bandas com 40 anos. Deixa lá o Cid em paz, que ele não te fez mal nenhum. E se um dia ligares a rádio e estiver a tocar Cid, desliga o rádio, e liga o computador. É muito melhor. Obrigado

Alexandre

Helder Gomes disse...

Acho impressionante a tua argumentação: então porque eu não gosto de José Cid, assumes logo que a minha banda preferida será uma dessas que pululam na blogosfera? Qual é o sentido disto?!

Acredito nas tuas palavras quando dizes que ele é um tipo simpático, mas sempre pensei que estávamos aqui a discutir a sua música, nunca o carácter do senhor. De resto, compreendo que te sintas incomodado com a minha crítica, afinal eu também não gosto quando dizem mal dos meus amigos (já quanto ao seu trabalho, concedo mais facilmente essa legitimidade). Mas, estava aqui eu a pensar, será que essa tua proximidade ao senhor não te desqualifica um pouco como observador isento? Parece-me que sim.

Não entro em acusações sobre os teus conhecimentos da História ou falta deles. Mas deixa-me que te diga que, ao metralhares conceitos avulsos, não demonstras senão um conhecimento muito superficial dos factos...

Vá lá, faz um esforço e aceita posições contrárias às tuas - é isso que faz também a beleza da vida. E sobretudo não te dediques a policiar os gostos dos outros. Para além de ser uma atitude muito 24 de Abril, é profundamente deselegante! Um povo nunca é feliz quando está sujeito ao pensamento único.

Confesso que nunca tive muita paciência para as primadonices dos artistas ou amigos de artistas que não sabem encaixar uma crítica má. Será assim tão importante o que eu escrevo para o José Cid continuar a trabalhar? Não me parece. Certamente concordas comigo neste ponto!

E obrigado por voltares. A blogosfera respira sempre melhor com pára-quedistas que jamais visitam estes espaços (como se fartam de lembrar) mas que, ainda assim, vão deixando o seu rasto luminoso em posts cirúrgicos.

Helder Gomes disse...

E o que dizer desta brilhante prosa?

"(...) não foi o povo que fez Abril. Foram os militares para os militares. Para tirar o Exército de Angola, Moçambique e Guiné. Que lindo. Vais lá agora e vês como aquilo está. Abril de facto foi muito bom. Mas foi para o comunismo de Cuba, Rússia e China."

Uma coisa é ignorares olimpicamente a verdade dos factos (e isso eu terei de aceitar), outra completamente diferente é fechares-te num casulo revisionista e dizeres, de forma implícita, que o 25 de Abril não valeu de nada! Pensei que o José Cid estivesse mais bem representado. Mas lá vou admitindo que ele felizmente não pensa assim.

Anónimo disse...

Por acaso quem voltou, fui eu. Mas foi agora. Sou o anónimo das 20.12.

Horácio

Anónimo disse...

Coffee:
Por partes, de novo.
Tu dizeres que eu sou parcial no que escrevo porque sou amigo do homem. O que dizer da tua atitude de baseares um artigo inteiro na tua opinião negativa que tens do Cid? Chamemos-lhe parcialidade.
Assunto Abril. Assunto sério e alvo de algum estudo, pelo menos da minha parte. Conhecimento avulso é dizer que Abril foi uma maravilha, isso sim, é barato e fica sempre bem. Citaste a minha frase sobre as colónias, e dizes a seguir "até parece que Abril não serviu de nada". Serviu. Mas não foi Portugal. Espantaste-te que os comunas andaram aqui metidos?? Lê lá este excerto dum artigo. "Que falhou no plano político? Otelo e Costa Gomes, de novo. O general Otelo Saraiva de Carvalho, comandante operacional do MFA no 25 de Abril, fora preparado, depois de Março de 1975, para ser o "grande líder" da revolução. É namorado pelo PCP e por Cuba. Tem encontros a sós com Cunhal e Fidel Castro convida-o repetidamente para visitar a ilha.(...) Otelo regressa aparentemente convencido, diz que vai mandar os "contra-revolucionários" para a praça de touros do Campo Pequeno e é portador de uma mensagem de Fidel para Costa Gomes anunciando a intervenção cubana em Angola." Fantástico, não é ? E há casos semelhantes com Moçambique, pelo lado da Rússia e da China. Isto não é conhecimento avulso, lembro-te. Parece-me oportuno lembrar-te o 25 de Novembro de 1975. Sabes porquê esse dia? Para tirar o poder à esquerda radical que fez o 25 de Abril. É só pesquisares os famosos Capitães de Abril, um por um, e já vês de que matéria eram/são feitos.
Faz lá tu o esforço e aceita os gostos musicais de outros, sem enxovalhares gratuitamente os artistas, bons ou maus, do teu país pós Abril. Eu também não gosto do Toy, Emanuel, Ágata, White Stripes, Strokes...E não me vês aí a dizer o que disseste do Cid. E estar a pôr o Cid dentro do "saco" acima referido é misturar água com vinho. Eu já percebi que gostas de música, e convido-te a ouvires a melhor fase do Cid, o disco 10000 anos entre vénus e marte. A fase má nem eu a consigo ouvir, e aí dou-te razão. Mas , mais uma vez, considero inapropriado crucificar o homem porque fez música para o povo inculto do nosso país. Não lhes dês razão. Já Salazar dizia que não podia convocar eleições livres, porque o povo era demasiado injusto e inculto para tal...

Alexandre

Helder Gomes disse...

A tua última frase nem merece comentário.

Helder Gomes disse...

E isto depois de dar de barato a brilhante defesa de uma tese a partir do "excerto dum artigo", cujo autor nem sequer é referido! Mas enfim, não se pode esperar muito de alguém que se arroga o direito de afirmar que o povo é estúpido para participar em eleições...

Anónimo disse...

"Portugal anacrónico, atrasadinho, longe da Europa e do mundo, e felizmente esse Portugal já não existe, salvo pequenas ilhas de resistência." Deixa-me rir! gostaria de ver o curriculum da tua banda comparado com o e José Cid, sabes qual é o teu mal? Eu digo-te inveja e, realmente a inveja rói-nos por dentro, levando-nos a escrever coisas irracionais como o que escreveste em TODA a tua dissertação, alias, monte de lixo que escreveste. Queres um conselho? Não interessa se queres ou não, porque eu dou-to na mesma. mete uma corda ao pescoço e mata-te!

Helder Gomes disse...

Olá Veríssimo,

Eu, que até não tenho banda nenhuma, li o teu comentário e pus-me a pensar de que lado estaria a maior irracionalidade, se do meu, se do teu.

Vamos pensar juntos: eu limitei-me a escrever a crítica de um disco. Tu, que até tens todo o direito de discordar de cada palavra que escrevo, fazes isso e ainda me sugeres o suicídio... Quanto a irracionalidades, penso que ficamos conversados. Não concordas?

Um abraço e volta sempre!

Anónimo disse...

O não gostares da música e do senhor é para se respeitar.
É pena é usares o mesmo "portuguesismo", que criticas no teu texto, para fazer a tua própria crítica do cd/dvd.
Não, não sou um fã de José Cid, longe disso, mas posso-te dizer que vi um concerto dele em Setembro de 2008 e vim de lá bastante surpreendido. Ia à espera de uma romaria pimba (citando quase as tuas palavras), mas estava enganado.
Muita gente (aqueles que tu quase chamas de "desgraçados" ou "atrasadinhos", por gostarem de ouvir e ver aquilo que tu não. Adjectivar as pessoas pelo que ouvem, pode muitas vezes ser um erro grande, mas continuemos...), muitos êxitos (quer se queira, quer não, José Cid anda lado a lado com a história da música portuguesa) e muito bons músicos portugueses.

E não, também não suporto Pimba, mas respeito (ou por vezes, tento!) que ouve. E meter José Cid no mesmo saco de outros nomes e nomezecos da música portuguesa...

Anónimo disse...

É pena ver o desprezo pela música portuguesa; pior ainda... esse desprezo ser dado pelos próprios portugueses! Se não gostam não ouvem! SIMPLES! agora vir publicar comentários dizendo mal do que é nosso é uma vergonha! José Cid é dos melhores musicos deste país! Se não gostam da musica portuguesa, nem deste país gostam!