17/08/2008

The Mars Volta - The Bedlam in Goliath

The Mars Volta - The Bedlam in Goliath

Para quem não conhece, a história resume-se em poucas frases. Em 2000, os At The Drive-In editavam "Relationship of Command" e o mundo esperou deles não menos do que a salvação do rock, à época dominado por um nu-metal que perdia em cérebro o que ganhava em músculo. Poucos meses depois, os cinco de El Paso, no estado norte-americano do Texas, separavam-se numa lógica de divergências de estilo e não por questões capilares. Ainda assim, os três de penteado normal formaram os Sparta, que se aproximam perigosamente do punk mais pop. Os dois com cabeleira afro, Cedric Bixler-Zavala e Omar Rodriguez-Lopez, formaram os Mars Volta.

Desde "De-Loused in the Comatorium" de 2003, disco inspirado na morte de Jeremy Ward (ele chegou a tocar no EP "Tremulant"), que se sabe que eles são de todo o lado menos deste mundo. Não se pode estranhar, por isso, que agora editem um álbum que convoca as forças do oculto. Crendices à parte, os Mars Volta não devem suportar o silêncio: "The Bedlam in Goliath" acentua ainda mais a artilharia sónica, pontuada pelo novo baterista Thomas Pridgen e elevada ao infinito pela guitarra de John Frusciante (dos Red Hot Chili Peppers), também ele membro de pleno direito da banda.

Depois dos exercícios extremos de "Frances the Mute" (2005) e "Amputechture" (um ano depois), os Mars Volta levam ainda mais longe uma espécie de terrorismo sonoro que nenhuma jihad é capaz de conter. E ao quarto capítulo, ei-los que partem em direcção a um rock progressivo que só está bem a estilhaçar tudo o que lhe apareça pela frente, seja funk metaleiro, seja psicadelismo pincelado a ritmos latinos. Em solos de guitarra com os wah-wahs multiplicados por mil ou com a voz manipulada da raiz até às pontas, o aviso fica logo na faixa de abertura, 'Aberinkula'. Como que a prevenir que o sossego acabou durante a próxima hora.

O primeiro single a ser retirado do álbum, 'Wax Simulacra', não chega aos três minutos mas tem argumentos que convencem aos primeiros segundos, numa jam curtinha e enxuta. Os grandes épicos estavam reservados para mais tarde, 'Cavalettas' e 'Soothsayer', cada um a ultrapassar os nove minutos e o primeiro com direito a flauta. Ikie Owens, outro dos Mars Volta, também com os Long Beach Dub Allstars, atalha por 'Agadez' com teclas tão endiabradas que caem mal no goto depois de uma refeição bem regada. Enfim, praticamente todos os temas são tocados com a urgência de um mundo a arder lá fora.

Uma pequena nota em relação ao trabalho gráfico, sempre de uma beleza irrepreensível. Se em "De-Loused in the Comatorium", tínhamos uma cabeça dourada a emitir um feixe de luz pela boca, agora temos o que parece ser uma rua árabe, dominada por senhores de vestes brancas.

Sem nos alongarmos em prognósticos, com este excesso todo (sonoro e visual, já percebemos que uma coisa não existe sem a outra), é difícil que os Mars Volta continuem por muito mais tempo sem se tornarem aborrecidos, por se repetirem, ou inofensivos por amansarem, o que seria bem pior. Mas esse é um risco que eles parecem dispostos a correr.

http://cotonete.clix.pt/quiosque/novos_discos/body.aspx?id=372

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