11/10/2008

Skalibans - Is It Voodoo?!




Skalibans - Is It Voodoo?!

Começamos a ouvir 'Mary Marry Me', tema que abre "Is It Voodoo?!", o disco de estreia dos Skalibans, e pensamos que isto até não ficava mal num filme de Emir Kusturica. Mas, ao contrário do realizador sérvio, que se perde (e bem) na tontice aparvalhada, mas com graça, das caricaturas de gente que filma, a banda de Almada é mais centrada e sobretudo encarna respeitosamente a herança punk e ska que lhe está no sangue.

A tripe cigana fica-se então pelo primeiro tema porque o que se segue, se é ainda um disco de celebração, é-o na medida exacta da festa que não acorda os vizinhos. Com os níveis de ruído controlados, as canções evoluem como um rosário de temas caros ao imaginário ska e reggae: temos a pseudo-balada da descompressão que se ouve na esplanada entre um copo e outro ('Sunshine'), temos também a canção do bandido que segue o protocolo da gravata e do fato ('Ties and Suits') e temos ainda a canção de protesto contra o alvo fácil ('HamBush').

O que se percebe no som dos Skalibans é que estes temas já rodaram muito na estrada, acumularam quilos de pó e, quando foram gravados, já estariam no ponto de rebuçado. Não é para menos: formados há quatro anos, eles são essencialmente uma banda ao vivo. Por isso, quando vertida para disco, a música soa coesa, bem ligada e fica à mostra essa experiência de palco. Além disso, os temas viajaram até Nova Iorque para serem masterizados por Alan Douches, que já trabalhou com os Chemical Brothers, os Sepultura e os Misfits. Não se deve estranhar portanto o som maduro e profissional de "Is It Voodoo?!".

No desfiladeiro de barulheira e calmaria em que, sem avisar, o disco se transforma, 'Utopia' é mais punk do que rock e certamente mais rock do que ska. Mas logo vem uma 'Late Night Phone Call' para falar mais de perto aos ouvidos adolescentes. Nada contra mas aí o punk torna-se emo, perde em força bruta o que ganha em capital emotivo. Para as despedidas, fica um par de canções rasgadíssimas, que põem a farta instrumentália (guitarra, baixo, bateria, trompete, trombone e saxofone) a pontuar o ritmo acelerado para fechar a pista.

Em poucas palavras, os Skalibans têm piada, jogam bem o jogo das influências que carregam no seu ADN mas fica a sensação de que não passam de um analgésico. Ou seja, aliviam a dor pela falta de ska nacional que não seja cópia rasurada de glórias passadas, mas não curam a fome. Mas, bem ouvidas as coisas, talvez a culpa seja mesmo do vudu.

http://cotonete.clix.pt/quiosque/novos_discos/body.aspx?id=406

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