Ao primeiro disco, "3 Feet High and Rising", muitos ouviram no som dos De La Soul o futuro do hip-hop. Aquele caldeirão de funk, soul e jazz, servido à colherada por (ainda) miúdos do liceu, era uma demarcação clara da lógica dos cifrões e miúdas de generosas curvas que já faziam a face mais visível do género. Mas, ao segundo, o trio formado por Posdnuos, Trugoy e Pasemaster Mase simulou o enterro dos De La Soul com um álbum que põe na capa a imagem de um vaso de flores partido.
Electrónica assente em castelos de areia, com tempero de funk e rave e alguma azeitice. Não é para todos, não é para muitos.
Kidda gosta de brincar à electrónica e não há nada de mal com isso. Mas isso também não tem nada de especial, pelo que as canções de Going Up são normalmente recebidas com um desinteressado encolher de ombros. O primeiro contacto com a música de Ste McGregor, natural de Brighton, no Reino Unido, foi através de um doze polegadas com três remisturas para “V.I.P.”, além do original, também incluído neste primeiro álbum.
A versão limpa do tema, com voz do MC Psycho Les dos Beatnuts e um coro infantil em fundo, deixou pistas interessantes a explorar. Mas foi sobretudo a remistura de Beathoven, parte do colectivo de hip-hop, funk e turntablism Puma Strut, que mais fascinou por levar os gangsters pela mão até à discoteca da esquina. Nessa edição, Kidda mostrava já algumas das coordenadas da sua música: ambiente de festa rave, muito funk, muita talhada de hip-hop e uma obsessão estranha pela animação de computador.
Chegados a Going Up, é fácil perceber que Kidda tem uma série de equações a resolver e que é dessa natural dificuldade de cálculo que resulta um álbum morno. Por outras palavras, “Under the Sun” só à martelada entra no ouvido do cultor de uma certa forma de fazer electrónica, a de consumo lento e privado. E não será com “Good For You” que ele vai entusiasmar o purista da electrónica fria e impessoal.
Em “Shining 1” entra Gary Lightbody, dos Snow Patrol, e isto até parece um disco de pop choninhas com um amor platónico pelos New Order. Só mesmo “Doo Whot” é capaz de içar a cabeça de avestruz que muitos enfiaram num buraco desde o fim de A Tribe Called Quest (eles regressaram timidamente em 2006, por isso a hibernação já vai mais longa do que era suposto). Aí, o rapper Blak Twang dá uma demão de hip-hop arejado num disco que não encontra morada em parte nenhuma.
Kidda gosta de brincar à electrónica e não há mal nenhum nisso, repetimos. Mas também é verdade que abusa dos efeitos e da voz de balão com hélio que atinge picos de saturação na última faixa, “Smile”. Este é um disco que funciona lindamente dentro de um carro, a caminho da praia, e com as janelas abertas para entrar o Verão. No resto do ano, Kidda quase parece um insulto por se lhe adivinhar um sorriso pateta a todo o instante.
Há uma piada recorrente sobre os círculos mais relaxados da música electrónica, capaz de esvaziar a boa qualidade de muitas produções downtempo. Essa piada diz que os discos de lounge, trip-hop e derivados acabam sempre a servir de música de fundo em suites só frequentadas por magnatas. Para os críticos mais cínicos, a música dos Jazzanova cabe perfeitamente nessa definição. Acontece que o sexteto de Berlim lhes trocou as voltas ao fazer agora um luminoso disco de soul.
Percebes que o mundo pode estar perdido quando lês sobre um grupo de oito adolescentes israelitas neo-nazis. É que ter uma matilha de raivosos a engrossar as fileiras do PNR, essa poça de mijo, até se explica facilmente: são estúpidos, ignorantes e feios! Agora, israelitas neo-nazis? Mas o choque é ainda maior quando sabemos que um desses adolescentes é neto de uma sobrevivente do Holocausto... E o Holocausto foi isto. E pior, muito pior:
quando digo que a cat power é a mulher da minha vida (e digo-o muitas vezes), é obviamente platónico o que sinto. e digo-o apenas porque ela encarna muitos fantasmas que também são meus. não sei se me faço entender mas é mais ou menos isto, sendo que isto sou eu a deitar-me no divã do freud:
sei que nunca vais ler isto. escrevo mais para mim do que para ti. mas sei que, de todas as pessoas no mundo, serias das poucas capazes de entender. talvez porque sentes algo parecido pelo bob dylan. ao ponto de lhe teres escrito uma música em que lhe entregas o coração. sabes, sinto que isto não vai acabar bem e isso preocupa-me. no fundo, vais gravando canções só para te manteres ocupada. mas sabemos os dois como és frágil e sensível. tenho pena porque gostava de te ouvir daqui a 10 anos com coisas novas. na tua última passagem por lisboa, disseste no coliseu que estavas bem, que tinhas sorte. mentes tão mal! muitos dos meus amigos já não te ligam nenhuma. sim, os mesmos que agitavam o moon pix como um dos melhores discos dos 90. não percebem que as pessoas fazem o que podem. eu sinto-te um bocadinho mais feliz agora e isso é importante. porra, que se lixe a arte, quero é que fiques bem! ainda te lembras quando gravavas música com o steve shelley, na altura o baterista dos sonic youth? ou quando, acabadinha de chegar a nova iorque, abrias para a liz phair? parecias capaz de quase tudo. ainda és capaz de muita coisa. mas é tudo tão ensurdecedor, não é? até a música, eu sei! como se vive assim? e como se sobrevive à morte dos amigos? como é que eles me morrem assim, deves perguntar-te muitas vezes. acho que eles iam querer que cuidasses melhor de ti. adorava poder pensar de outra forma mas sei que isto não vai acabar bem para ti. tenho muita pena. sempre que ouço os teus discos, sinto-me triste mas também me sinto compreendido. nunca te conheci, não te olhei ainda nos olhos nem preciso! mas és tão bonita! e também por isso devias ficar por cá mais tempo. será pedir muito?
O rancho das coelhinhas reabriu para os Bunnyranch mostrarem o que faltava do seu espectáculo de variedades. "How to Wait" é a segunda parte de uma edição que só fica completa com o lado A, "Teach Us Lord". A banda de Coimbra é um baralho de cartas cheio de trunfos: o vocalista principal Kaló toca bateria como um desenho animado a liderar uma fanfarra, João Cardoso atira-se às teclas de cabeça baixa como o amigo do Charlie Brown, o baixista Pedro Calhau é senhor de uma excessiva magreza à Ramones e Augusto Cardoso, o novo guitarrista, tem um impecável corte de cabelo à Kinks (no disco, as guitarras ainda pertencem a André Ferrão).
daqui a um mês, nesta mesma data, a família vai juntar-se para celebrar o natal. e eu, que até gosto do natal, vou sentir que tudo aquilo é tão pouco, tudo vai desfazer-se naquela noite. eu, que acumulo sempre uma excitação de criança nas semanas e nos dias que antecedem o natal, vou deixar de acreditar naquilo tudo. mas só até ao próximo ano. em 2007 passei o natal trancado num quarto de manhattan com discos da cat power. e a passagem de ano também. os amigos acharam depressivo. eu acho que passar o natal sozinho tem qualquer coisa de romântico. num natal mais longínquo, descobri o melhor conto de natal de sempre, com william s. burroughs na voz e kurt cobain na guitarra. e é assim:
"Fight tuberculosis, folks." Christmas Eve, an old junkie selling Christmas seals on North Park Street. The "Priest," they called him. "Fight tuberculosis, folks."
People hurried by, gray shadows on a distant wall. It was getting late and no money to score. He turned into a side street and the lake wind hit him like a knife. Cab stop just ahead under a streetlight.
Boy got out with a suitcase. Thin kid in prep school clothes, familiar face, the Priest told himself, watching from the doorway. "Reminds me of something a long time ago." The boy, there, with his overcoat unbuttoned, reaching into his pants pocket for the cab fare.
The cab drove away and turned the corner. The boy went inside a building. "Hmm, yes, maybe" - the suitcase was there in the doorway. The boy nowhere in sight. Gone to get the keys, most likely, have to move fast. He picked up the suitcase and started for the corner. Made it. Glanced down at the case. It didn't look like the case the boy had, or any boy would have. The Priest couldn't put his finger on what was so old about the case. Old and dirty, poor quality leather, and heavy. Better see what's inside.
He turned into Lincoln Park, found an empty place and opened the case. Two severed human legs that belonged to young man with dark skin. Shiny black leg hairs glittered in the dim streetlight. The legs had been forced into the case and he had to use his knee on the back of the case to shove them out. "Legs, yet," he said, and walked quickly away with the case.
Might bring a few dollars to score. The buyer sniffed suspiciously. "Kind of a funny smell about it." "It's just Mexican leather." "Well, some joker didn't cure it." The buyer looked at the case with cold disfavor.
"Not even right sure he killed it, whatever it is. Three is the best I can do and it hurts. But since this is Christmas and you're the Priest..." he slipped three bills under the table into the Priest's dirty hand. The Priest faded into the street shadows, seedy and furtive. Three cents didn't buy a bag, nothing less than a nickel. Say, remember that old Addie croaker told me not to come back unless I paid him the three cents I owe him. Yeah, isn't that a fruit for ya, blow your stack about three lousy cents. The doctor was not pleased to see him.
"Now, what do you WANT? I TOLD you!" The Priest laid three bills on the table. The doctor put the money in his pocket and started to scream. "I've had TROUBLES! PEOPLE have been around! I may lose my LICENSE!" The Priest just sat there, eyes, old and heavy with years of junk, on the doctor's face. "I can't write you a prescription." The doctor jerked open a drawer and slid an ampule across the table. "That's all I have in the OFFICE!" The doctor stood up. "Take it and GET OUT!" he screamed, hysterical. The Priest's expression did not change.
The doctor added in quieter tones, "After all, I'm a professional man, and I shouldn't be bothered by people like you." "Is that all you have for me? One lousy quarter G? Couldn't you lend me a nickel...?" "Get out, get out, I'll call the police I tell you." "All right, doctor, I'm going." Of course it was cold and far to walk, rooming house, a shabby street, room on the top floor. "These stairs," coughed the Priest there, pulling himself up along the bannister. He went into the bathroom, yellow wall panels, toilet dripping, and got his works from under the washbasin. Wrapped in brown paper, back to his room, get every drop in the dropper.
He rolled up his sleeve. Then he heard a groan from next door, room eighteen. The Mexican kid lived there, the Priest had passed him on the stairs and saw the kid was hooked, but he never spoke, because he didn't want any juvenile connections, bad news in any language. The Priest had had enough bad news in his life.
He heard the groan again, a groan he could feel, no mistaking that groan and what it meant. "Maybe he had an accident or something. In any case, I can't enjoy my priestly medications with that sound coming through the wall." Thin walls you understand. The Priest put down his dropper, cold hall, and knocked on the door of room eighteen.
"Quien es?" "It's the Preist, kid, I live next door." He could hear someone hobbling across the floor.
A bolt slid. The boy stood there in his underwear shorts, eyes black with pain. He started to fall. The Priest helped him over to the bed. "What's wrong, son?" "It's my legs, senor, cramps, and now I am without medicine." The Priest could see the cramps, like knots of wood there in the young legs, dark shiny black leg hairs.
"A few years ago I damaged myself in a bicycle race, it was then that the cramps started." And now he has the leg cramps back with compound junk interest. The old Priest stood there, feeling the boy groan. He inclined his head as if in prayer, went back and got his dropper. "It's just a quarter G, kid." "I do not require much, senor."
The boy was sleeping when the Priest left room eighteen. He went back to his room and sat down on the bed. Then it hit him like heavy silent snow. All the gray junk yesterdays. He sat there received the immaculate fix. And since he was himself a priest, there was no need to call one.
here you go say it that she's ill here you go marriage and kids and drug addiction all the lies aside I believe I am the luckiest person alive hell we all die sometimes hell we all try somewhere money always sees money always draws the light hope you can see through the beggars in the clear do you happen to know where I am from I'm lost in this so far from home far from home do you happen to know where I am from I'm lost far from mum all the lies aside I believe I am the luckiest person alive hell we all die sometimes hell we all try somewhere somewhere somewhere somewhere stand on my feet so I can see yours standing on my hands I found my way home standing on my head
um dia ainda nos estatelamos por cima da baba que dedicamos à mediocridade. nesse dia, quero estar bem longe. não contem comigo para ver morrer um país!
Na semana em que se soube que Chris Eckman vai voltar a Portugal, a solo, como parte do cartaz do Festival Para Gente Sentada, dá vontade de destacar os Walkabouts que ele ajudou a criar. E fomos encontrá-los em 2002, já com quase 20 anos em cima, e no melhor álbum da formação de Seattle. "Ended Up a Stranger" abre com Carla Torgerson a dizer que continua a chocar contra carros estacionados.
Os ouvintes regulares do Coffee Breakz que nos perdoem (ainda só conseguimos contar uma ouvinte regular... e não é a nossa mãe!). É que esta semana deixámo-nos seduzir pelo canto de sereia de Alexa Ray Joel. Aquela voz típica do jazz tocado ao piano não é a ementa habitual no chá das cinco de terça, mas este é sobretudo um espaço de liberdade onde tudo é possível.
Por isso, temos também Brother Ali a saudar Obama, ainda a Matthew Herbert Big Band, Jens Lekman a tocar Boyz II Men, o sonho pop de Los Campesinos! e os eternos Wire.
01 Beats Antique Roustabout 02 Subatomic Sound System Our Father, Our King 03 Mercury Rev Senses On Fire (Fujiya & Miyagi remix) 04 Brother Ali Mr. President (You're the Man)
05 Tripe Descafeinada: Alexa Ray Joel 5.1 For All My Days 5.2 Song of Yesterday 5.3 The Heart of Me
06 The Matthew Herbert Big Band The Story (demo) 07 Jens Lekman Water Runs Dry (live at Googies Lounge, NYC) 08 Los Campesinos! Miserabilia 09 Wire Silk Skin Paws (Daytrotter Session) 10 Fol Chen Cable TV
Sentem-se nas cadeiras cheias de ácaros, estiquem as pernas, esqueçam as pipocas e os refrigerantes XL e aproveitem o escurinho do cinema. Depois das apresentações, vamos passar um filme com Shanti Roots, Xploding Plastix e All India Radio. E outros, muitos outros. É um elenco downbeat, chillout e dub, perfeito para mexer o martini e fazer coisas à meia-luz ou luz nenhuma. Sem compromissos comerciais mas com os devidos agradecimentos à Burning Bowl Records pelo serviço de catering.
01 Professor Oz Whatever the Sun (feat. Sugar B) 02 Shanti Roots & Scheibosan Find It 03 Lazy Love Robbery 04 Sin Game of Despise 05 Xploding Plastix Treat Me Mean, I Need the Reputation (dub version) 06 Stefan Obermaier Inna Fat Dub Combo 07 See-I Dinner of Herb 08 Architektur The Smoker 09 All India Radio Dehli Dub 10 Jamie Saft Tuf Luv Dub 11 The Waz Experience Smoker's Funk 12 Ohm Helium Voices
Nesta edição do Coffee Breakz, vamos tomar o chá das cinco com Nude vs. Flashbaxx, uma morada electrónica que nos dá um banho de cafeína. Mas no início, há remisturas para trocar como cromos da bola: Stereolab por Atlas Sound, Friendly Fires por Aeroplane e Jason Forrest por Polvo. Há ainda espaço para pequenas incursões no indie rock americano e na indie pop escandinava.
01 Stereolab Neon Beanbag (Atlas Sound Remix) 02 Friendly Fires (feat. Au Revoir Simone) Paris (Aeroplane Remix) 03 Jason Forrest Dark New Ages (Polvo Remix) 04 Love Is All Wishing Well
Às vezes, é só juntar as palavras de uma determinada forma, como "minha avó negra sabia ler as coisas do destino na palma de cada olhar". E isso basta para se gostar de uma voz como a de Mariza. Claro que ouvi-la não é o mesmo que ouvir Amália, assim como ouvir Carlos do Carmo não é o mesmo que ouvir Alfredo Marceneiro. Mas nisto da música, os puristas acabam sempre por passar mal.
No activo há pouco mais de cinco anos, o Diversus é um blog que faz da imagem em movimento a principal ementa oferecida aos seus visitantes. Os vídeos do YouTube publicados neste espaço chegam a substituir a própria palavra, "com manifesta vantagem", como nos conta Vítor Machado. Para o autor do Diversus, as palavras são "dispensáveis sempre que se trate de arte".
O disco chama-se "Heavy Rotation" e, na realidade, dispara canções como se de uma estafadíssima playlist de rádio se tratasse. É natural que o primeiro registo de estúdio em quatro anos seja aguardado, pelos seguidores de Anastacia, com a expectativa dos cinco minutos finais de uma competição europeia, em que a equipa do coração segue na frente. Mas, mesmo para esses (ou sobretudo para eles), este disco arrisca-se a ser uma valente desilusão.
Oakland-based power trio Beats Antique has just released an album that picks up where their debut record, "Tribal Derivations" stopped. "Collide" accentuates the electro-acoustic feel to this band's sound, which blends exotic, Middle Eastern scents and moves with highly-charged electronics, reminiscent of recent dance dialects like dubstep and glitch-centered paraphernalia.
Beats Antique's core consists of Zoe Jakes, a belly dancer who takes her skills a couple of steps further with the inclusion of classical Indian Kathak; David Satori, who has toured the US in a bus converted to run on recycled vegetable oil, and played with Femi Kuti, son of Nigerian afrobeat legend Fela Kuti; and Tommy Chappel, whose musical reach touches everything from vaudeville rock to abstract hip-hop.
"Collide" is an aptly-titled album that connects the missing dots between two worlds that rarely go hand in glove. These 12 numbers, plus a remixed version of "Roustabout", feature all the instrumentation that's fit to play: the feather-light density comes courtesy of the accordion, the glockenspiel, the viola, the kalimba, and the clarinet, among others.
All tracks derive from a common musical tree with so many branches that go as far as to touch the scholastic tradition of some jazzy oldies while keeping a curious ear to the North African Gnawa music, a mixture in its own right of afro-Arabic religious rhythms, combining music and acrobatic dancing.
Obvious highlights include the untreated version of "Roustabout", a sickening, demented, and maniacally fun track that has so many Halloween-like features that film director Tim Burton would surely appreciate. But also "Slapdash Era", which starts off with what sounds like a bell and a tick-tack clock, and releases some menacing ambiance midway through the game. The remixed version of "Roustabout" is credited to San Francisco-based Bassnectar, a band who Beats Antique have certainly taken a few production cues.
And while "Borino" resembles Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra's take on gypsy music, "Scratch Tail" evolves from a breakbeat signature only to succumb to the Middle Eastern traditions and develop a crush on contemporary electronics. Quite frankly, it would have been easier to name the sparse ground this record doesn't cover, but now it's too late.
No dobrar do século e do milénio, foi aos At The Drive-In que primeiro entregámos o coração. Mas já chegávamos tarde: pouco depois de lançarem "Relationship of Command", estes tipos de El Paso, no estado norte-americano do Texas, separavam-se. Não merecíamos ficar de coração destroçado tão depressa ou talvez eles não merecessem que tivéssemos passado tanto tempo sem lhes ligar nenhuma.
Com nome de desenho animado, O Marsupilami "começou por ser um blog generalista", como nos conta o seu autor (que prefere manter o anonimato). A certa altura, ele decidiu tornar o espaço mais específico, falando apenas de música e apenas de música nacional. O facto de já ter sido guitarrista, actividade que decidiu abandonar por "falta de tempo", pesou muito nessa decisão. Antes como agora, o objectivo é ajudar na divulgação da música nacional, "dando maior destaque a bandas de garagem com menor projecção".
Os Snow Patrol são uma banda que usa perfume indie e que, por mais que tente ou queira, nunca chegará a pôr Chanel nos pulsos. É a velha história da manta que cobre os pés e destapa a cabeça: se guinam para território mais pop/rock, perdem aquela identidade romântica de fenómeno pequeno (que, justiça lhes seja feita, ainda conservam neste "A Hundred Million Suns"). Se se metem em aventuras mais arriscadas, alienam uma grande fatia dos seguidores.
Custa à primeira, custa à segunda mas, à terceira e quarta, já nos vamos habituando à ideia de que muitas edições naquele registo baladeiro, com perfume de porto em final de tarde, só nascem para fazer tijolo. Em 'Too Cold, Too Dark', o algarvio Apolinário Correia ainda nos agarra pela doce estranheza de ouvir uma voz típica do hardcore por cima de uma guitarra acústica e uma harmónica. Mas 'Deathproof' mostra as verdadeiras cores deste "Dead Sailor": mortiças, apagadinhas e sem uma pincelada mais viva que nos arranque da lenta preguiça.
All the repair men in the world rejoice! There's a new duo in town naming itself after the general repair service for all household electronics, during Hungary's difficult times. Budapest-based Gelka is the music project of Alex and Sergio, who first surfaced on a Café Del Mar compilation five years ago. They are now signed to Nightmares On Wax's label for their debut album, described as "urban blues drenched downtempo electronica".
"Less Is More" is indeed a collection of cosmopolitan beats converging to a collage of funky, laid-back horns and bass lines. Such laziness-induced sounds languidly crawl from your eardrum all the way to your skin, leaving you with nothing but a sudden craving for fancy beverage and the most comfortable couch in the room. Even though these pieces are more suitable for headphone-listening, they wouldn't be out of place as the background music at a late-night party.
Unlike many overproduced electronic numbers, which squash all the fun out of your listening experience, this is a record that you won't regret spending your bus fare home on. And this is partially due to songs like the opener "So Many Ways", "Blame" and "Angry Eyes", all sung by Budapest-based, Ghana-born Sena, who has worked with DJ Vadim, among others. But also to the vocal delivery of regular Nightmares On Wax singers Ella May (here heard on "Soon") and Ricky Ranking, who showcases on "Burlesk" and "Eau Rouge, Part 2".
As Alex puts it, "Budapest has two faces, we had a very heavy past, but now our city is very beautiful and vibrant". So it seems like life and its trials have softened this duo's heavy legacy to deliver a set of bouncy melodies that are both redemptive and gloriously infectious. Without ever dulling its knack for discharging intellectually-engaged sonic pleasure, this duo's reach goes way beyond the lament wrapped up into three chords in today's pop music.
Even when the record serves the usual cup of chilled-out tea, namely in tracks like "Rasta Baby" and "Find the Peace", the duo chooses to shatter the begging bowl and preach a different mantra – that of blameless indulgence and hedonistic fruition. From "Hungarian Voodoo" on, the record sets a different tone, going all new age like for the remaining three or four tracks. But if these soulful pieces are the price to pay for an enjoyable mental journey, I won't mind becoming a puppet and courageously disregard my fear of needles.
Esta é a capa de um disco mágico, pacifista e irrepetível. E surge numa época em que o "flower power" americano, assente na ideologia da não-violência, começava a ser esvaziado. Os jovens, que atravessaram a década de 60 essencialmente dopados, passavam agora à idade adulta. O pacifismo nunca mais seria levado muito a sério e acabaria, muitas vezes, por ser visto como uma enorme caretice. É, por isso, com surpresa e imenso prazer que, ainda esta semana, lemos sobre Omer Goldman, uma jovem israelita de 19 anos, filha do ex-número dois da Mossad, que prefere ser presa a servir num exército que considera de ocupação.
Começou por ser um programa de rádio dedicado ao metal, agora é isso e um blog. Criado em Setembro de 2004, o Metal Morfose era essencialmente um espaço de divulgação do programa da VFM (uma rádio de Vouzela), através da publicação das listas das músicas tocadas em antena. Mas, como nos conta Adelino Oliveira, autor do programa e do blog, actualmente as duas plataformas "divulgam-se mutuamente" e "uma já não sobrevive sem a outra".
Não temos especial apreço pela prata da casa só porque é da casa. E até nos deixa um nadinha enojados o incondicionalíssimo portuguesismo que manda elogiar tudo o que é feito por cá, mesmo que a música seja um deserto de ideias e concretizações. Temos bandas capazes de ombrear, tantas vezes com imensa vantagem, com o que quer que se faça lá fora, por isso, não precisamos de paninhos quentes. Se é mau, é mau. Se é bom, há que destacar isso mesmo.
O que os Noah and the Whale fazem ao primeiro disco já foi feito centenas de vezes na pop de tradição anglo-saxónica. E repetido mais vezes ainda por esse mundo fora. Mas se estas canções apelam ao lado mais lunar que há em nós não será só porque o Outono chegou e, com ele, uma maior disponibilidade para ouvirmos música de lareira. É também porque este quinteto londrino sabe escrever e tocar boas canções.
O jazz é, por definição e vocação, espaço de liberdade. Já na música clássica só com alguma boa vontade é que detectamos grandes desvios da pauta e da norma dita erudita. E, no entanto, as duas linguagens encontram-se e convivem bem lado a lado. Foi isso que nos provou a Guy Barker Jazz Orchestra, este sábado, no espectáculo de encerramento do Seixal Jazz 2008. Em pouco mais de uma hora, o trompetista, compositor e maestro, com mais 13 músicos, transpôs para o palco parte da sua "Amadeus Suite".
Pop tão luminosa que desafia a paciência e lembra que já envelhecemos todos um pouco.
Quem gosta do sol do meio-dia ou do friozinho da manhã ao ponto de lhes dedicar um disco inteiro não pode ser bom da cabeça. Ou, pelo menos, anda completamente arredado de um mundo afogado em números, aos quais, afinal, já não é assim tão seguro entregarmos a vida. The Little Ones são um quinteto de Los Angeles, que resolveu editar 40 minutos cheios de sol quando o Hemisfério Norte começa a sentir os rigores do Outono.
Só por isso, pela ousadia e pela transgressão, quando a conjuntura manda amealhar as nozes para enfrentar os tempos mais difíceis que hão-de vir, já merecem que passemos pela tormenta de ouvir estas onze canções de enfiada. Isto é catecismo pop, a espaços pleno de evocação daqueles momentos irrepetíveis (tão irrepetíveis eles são) em que fomos realmente felizes. Falamos daquela felicidade parvinha e inconsequente, sem arranhão no joelho que nos fizesse adiar a brincadeira.
Mas uma coisa é ter os Beach Boys a cantar para nós, outra completamente diferente é ter apenas uma galopada de notas excitadíssimas por saírem de dentro dos instrumentos. Porque é isso que este Morning Tide tem. Com muita pena nossa que até estávamos dispostos a mandar os índices do Dow Jones e do PSI-20 (e todos os outros) às malvinhas e seguir rua fora com canções bonitinhas para mostrar às namoradas.
Ainda podemos impressionar miúdas com “Boracay”, por exemplo, o tema que mais nos derrete o coração de metal, muito por lembrar Neutral Milk Hotel naquelas sombras da voz que aprendemos a amar em Jeff Mangum. Sobretudo quando recordamos aquelas longas tardes de Verão em que descobríamos o corpo do sexo oposto. (Na altura nem nos ocorria, agora já compreendemos muito bem o que raio queria dizer Cummings ao enunciar aquele princípio básico da relação carnal: “gosto do meu corpo quando está com o teu”.)
Ainda conseguimos gostar das “Tangerine Visions” destes Little Ones, mais por nostalgia, mais pelo bilhete postal que nunca chegámos a pôr no correio. Mas, se não fosse muito incómodo, ficávamos por aí. É que depois segue tudo naquele decalque baladeiro e maçador que vai ocupando os tempos mortos das séries de TV norte-americanas mais sofríveis (a música deles passa na Anatomia de Grey).
Quando ouvimos “Gregory’s Chant” e “Rise & Shine”, só nos lembramos que passámos demasiado tempo em bares cheios de fumo e que já não conseguimos sair de casa sem uma chávena de café. Estamos velhos e estas canções só acentuam a nossa idade e multiplicam por quatro a nossa resmunguice. Isso não se faz.
Em noite de Halloween, apetece ir buscar à prateleira de discos aquele que tem uma das capas mais enigmáticas dos anos 80. "Bad Moon Rising" dá à estampa um espantalho com cabeça de abóbora em chamas e, atrás, um subúrbio de cidade em final de tarde. Todo o álbum, que já conta 23 belos anos, merece ser ouvido nestas noites frias de Outono. Também não ficará nada mal no Dia das Bruxas, uma tradição anglo-saxónica que as aulas de inglês recuperavam anualmente.