02/11/2008
The Little Ones - Morning Tide
2008
Heavenly Records / Nuevos Medios
Pop tão luminosa que desafia a paciência e lembra que já envelhecemos todos um pouco.
Quem gosta do sol do meio-dia ou do friozinho da manhã ao ponto de lhes dedicar um disco inteiro não pode ser bom da cabeça. Ou, pelo menos, anda completamente arredado de um mundo afogado em números, aos quais, afinal, já não é assim tão seguro entregarmos a vida. The Little Ones são um quinteto de Los Angeles, que resolveu editar 40 minutos cheios de sol quando o Hemisfério Norte começa a sentir os rigores do Outono.
Só por isso, pela ousadia e pela transgressão, quando a conjuntura manda amealhar as nozes para enfrentar os tempos mais difíceis que hão-de vir, já merecem que passemos pela tormenta de ouvir estas onze canções de enfiada. Isto é catecismo pop, a espaços pleno de evocação daqueles momentos irrepetíveis (tão irrepetíveis eles são) em que fomos realmente felizes. Falamos daquela felicidade parvinha e inconsequente, sem arranhão no joelho que nos fizesse adiar a brincadeira.
Mas uma coisa é ter os Beach Boys a cantar para nós, outra completamente diferente é ter apenas uma galopada de notas excitadíssimas por saírem de dentro dos instrumentos. Porque é isso que este Morning Tide tem. Com muita pena nossa que até estávamos dispostos a mandar os índices do Dow Jones e do PSI-20 (e todos os outros) às malvinhas e seguir rua fora com canções bonitinhas para mostrar às namoradas.
Ainda podemos impressionar miúdas com “Boracay”, por exemplo, o tema que mais nos derrete o coração de metal, muito por lembrar Neutral Milk Hotel naquelas sombras da voz que aprendemos a amar em Jeff Mangum. Sobretudo quando recordamos aquelas longas tardes de Verão em que descobríamos o corpo do sexo oposto. (Na altura nem nos ocorria, agora já compreendemos muito bem o que raio queria dizer Cummings ao enunciar aquele princípio básico da relação carnal: “gosto do meu corpo quando está com o teu”.)
Ainda conseguimos gostar das “Tangerine Visions” destes Little Ones, mais por nostalgia, mais pelo bilhete postal que nunca chegámos a pôr no correio. Mas, se não fosse muito incómodo, ficávamos por aí. É que depois segue tudo naquele decalque baladeiro e maçador que vai ocupando os tempos mortos das séries de TV norte-americanas mais sofríveis (a música deles passa na Anatomia de Grey).
Quando ouvimos “Gregory’s Chant” e “Rise & Shine”, só nos lembramos que passámos demasiado tempo em bares cheios de fumo e que já não conseguimos sair de casa sem uma chávena de café. Estamos velhos e estas canções só acentuam a nossa idade e multiplicam por quatro a nossa resmunguice. Isso não se faz.
http://www.bodyspace.net/album.php?album_id=1429
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