28/01/2009

Robert Strauss - Mr Feelings




Robert Strauss - Mr Feelings

2007
BBE Records / PopStock!

Uma tentativa nada inglória de reanimar os gloriosos tempos do disco. O paramédico Strauss sai-se bem com o desfibrilhador.

Este disco dá vontade de mudar de penteado, vestir uma camisa de folhos e umas calças imensas e calçar umas botas com tacão de 10 centímetros de altura. Mr Feelings tem todo o ar de álbum dos anos 70 e 80, no tempo em que o disco era mais do que uma rodela de plástico e patrocinava as gloriosas “boogie nights”. O canadiano Robert Strauss é um assumido cultor do kitsch da pista de dança mais inflamada, derramando litros de brilhantina vintage nas produções que assina.

A acompanhá-lo na tarefa de esgravatar fundo para trazer esse El Dorado para os dias de hoje, tem uma banda de oito elementos que está para o disco como os Jazzanova do último Of All the Things estiveram para a soul. O que sai deste forno revivalista é um apurado sentido de estética que abusa dos mais apimentados ingredientes: o jazz de cocktail de “Party in My Body”, o hip-hop da velha escola em “Fukk Around” (com Moka Only) e a techno-soul elegante de “Close Your Eyes”.

O produtor Leroy Burgess, autêntico monstro do disco, dá um toque de charme classicista a “Hot Like an Oven”, na segunda parte de Mr Feelings e quando já nem damos pelas estopinhas a escorrer azeite para a pista. Este é também um disco de prazeres privados e algo inconfessáveis, que desafia os limites do bom gosto e chega a tocar a piroseira. Mas a verdade é que enquanto ele roda, queremos as luzes apagadas e uma bola de espelhos a talhar feixes de inúmeras cores.

Nos últimos momentos do disco, percebe-se até uma preocupação em fechar a pista, arrumar ideias e voltar a pôr o pé na rua para regressar a casa. Assim de rajada, “Slow Dancing” é embalo romântico para os amores começados numa hora e não consumados na seguinte. “Night Rhythm”, com Miles Raine, é techno minimal e house microscópica a convergirem para a frieza dos metais. E “Song For Vanja” é já só jazz fora de horas onde antes havia camadas de temperos e sabores.

O regresso de Robert Strauss, em 2007, apela mais às ancas do que à cabeça e vem em contramão relativamente à produção electrónica actual, mais apostada em apontar para o sofá. E é favor enviar este disco ao cuidado de Matt Groening. Disco Stu, uma das personagens mais conseguidas dos Simpsons, devia ouvir Mr Feelings logo ao pequeno-almoço. Talvez assim não se sentisse tão deslocado no tempo.

http://www.bodyspace.net/album.php?album_id=1491


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