17/01/2009

solidão

Um dia eu hei-de enlouquecer de solidão. Olho em volta e só vejo pessoas agarradas a uma vida pequenina, falha de desafios para lá da milimétrica sucessão de dias e noites. De bicas e sandes mistas antes do trabalho, de churrascos ao domingo, de filas na ponte no regresso a Lisboa, depois do fim-de-semana na casa de Sesimbra. De metal retorcido na estrada pela aceleração descuidada, do Benfica sucessivamente derrotado em casa, de políticos egoístas e autistas, irremediavelmente autistas e egoístas, perdidos na vertigem do poder. Podres. Torpes. Perto do fim? Não mexam na normalidade estupidificante desta gente! Racista. Automatizada. Xenófoba. Intolerante. Ignorante. Não lhe mostrem a diferença, odeiam-na! Não lhe tentem mostrar as páginas da História, manchadas de mortes estúpidas, guerras evitáveis, ódios provenientes do goto. A diferença não cabe. A diferença é diferente, logo perigosa, logo a combater. Que nada desvie esta gente da maratona de novelas da noite. Das músicas gastas e chatas. Do lugar-comum pronto a tirar da algibeira e atestar nas outras gentes. Das glórias fáceis. É, um dia destes, não me safo e enlouqueço de solidão.


2 comentários:

eu disse...

Vidas pequeninas e certas e sempre com a garantia do que irá surgir no dia seguinte... os que preferimos a vertigem somos poucos mas nao estamos sozinhos. Sabes que nao estás sozinho, nao sabes? Mesmo a 700 km de distância...

Helder Gomes disse...

Eh pá, sim, mas sabes como eu sou. Deixo-me facilmente levar pela ansiedade e pela dificuldade de respirar. Mas, como diziam os Mão Morta há muitos, muitos anos, "há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável"... Obrigado pela força! ;)