12/12/2008

imigrantes




Paulo Portas é um oportunista seboso. Radicaliza o discurso quando sente que isso lhe pode render votos. E como o tempo é de crise, vá de espingardar sobre os mais desprotegidos. (Não faltará quem concorde que o mal maior vem dos que vêm de fora.) Ontem na Assembleia da República, apresentou as propostas do seu partido para maior controlo da imigração. Manhoso, fez-se acompanhar de números da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais. Ao que parece, esta entidade assegura que metade dos crimes relacionados com droga e com condenação foi praticada por estrangeiros. E depois? Mas por que raio isso espanta alguém? Sabe-se que, quando não se fala das grandes negociatas de droga (essas são um quase-exclusivo dos endinheirados), é normal que sejam as classes mais desfavorecidas a sentir o apelo da marginalidade.

Ignorará por acaso o senhor Portas que, por outro lado, são os imigrantes que nos equilibram a demografia, contribuindo para fazer arrancar os números da natalidade das miseráveis estatísticas? Saberá o douto senhor que é necessário equilibrar esses números para que, quando adultas, as crianças que nascem agora entrem no mercado de trabalho e paguem as reformas e a Segurança Social destas nossas gentes cada vez mais envelhecidas? E o que dizer da medida que sugere a expulsão de imigrantes do país? Pensará porventura que este rectângulo é um paraíso para os imigrantes? Não é.

Para senhores como Portas, os imigrantes apenas servirão para nos construírem as pontes e as Expos - ou até mesmo, quem sabe, a casa onde essa besta arrogante mora. No final do dia, recebem guia de marcha para ir encher as Quintas da Fonte da vida. Entendo que a sede de poder provoque estes ataques de cegueira. Afinal, o homem o que queria era voltar a ocupar um lugar no Governo para afundar o dinheiro em submarinos.

Pois eu agradeço aos 409.185 cidadãos estrangeiros a viver em Portugal (dados de 2007) tudo o que fizeram por mim. E peço desculpa por este país e esta gente cada vez mais intolerantes, ignorantes e racistas. Ainda sobre a criminalidade: já fui assaltado na rua por brancos e não-brancos. E eu, que até nem me considero muito abonado de intelecto, não tenho qualquer dificuldade em perceber que a criminalidade não tem cor nem raça. O que dói é que Portas não é estúpido, é só estupidamente oportunista. E é tão mais fácil perdoar os estúpidos, não é?

Na sessão legislativa de ontem, as restantes bancadas parlamentares, que habitualmente se comportam como amibas dormentes e ociosas, aplicaram ao projecto centrista mimos como "xenófobo", "estigmatizante", "repugnante", "populista", "demagógico" e "a mais reaccionária (proposta) alguma vez apresentada" no Parlamento. Achei bonito e digno.


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