23/12/2008

revoluções

O meu pensamento político é desalinhado. Porque é bom ser desalinhado num mundo que nos puxa constantemente para o buraco negro do pensamento único. A TVI e a RFM são dois bons exemplos dessas pulsões estupidificantes. O meu pensamento político é, portanto, desalinhado. Escrevo isto com um sorriso triunfante no rosto. Não o podes ver agora mas ele está aqui. Mas se é assim o meu pensamento, ideologicamente alinho-me (ou desalinho-me) mais à esquerda. Há, no entanto, uma coisa que me irrita como poucas: o esquerdismo chique, protagonizado pela maltinha do Bloco, que agora se engalfinha para colocar os rabinhos nas cadeiras quentes do poder. Há mais: há, por exemplo, a Natura que, sendo uma loja, gosta de se passar por qualquer outra coisa que não uma loja, essa vil cuspidela do capitalismo que ela finge denunciar. Fá-lo através de frases idiotas ou slogans viciados mil vezes. O que raio vem a ser, afinal, a "Christmas Revolution" que eles estampam nos sacos por esta altura? O que é isso da revolução do Natal? Será que os produtos que a Natura comercializa são, na realidade, disfarçados mosquetes que devem ser usados quando o cliente se vir mais à rasca, no calor da revolta? E onde vai estalar a revolução? No quartel do Carmo? Na Quinta da Atalaia? Então e a noção do ridículo, por onde anda ela?

Declaração de interesses (que devia estar lá em cima): gosto de entrar na Natura. Essencialmente porque cheira bem. Não vou deixar de o fazer. Nem de me desalinhar à esquerda.

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Já não há paciência para a merda da crise! Inventem outra desculpa para nos continuarem a explorar. Sempre é mais adulto. Não falta quem nos diga que no próximo ano é que vai doer. Que o tempo não é para brincadeiras. Não duvido que 2009 vai ser mau, com o aumento do desemprego, as falências nas fábricas, as famílias desesperadas, a agitação social. Qualquer idiota que demora os olhos mais do que dois minutos nos títulos de jornais percebe isso. Agora não me tirem a vontade de brincar. Aguentem-se que eu também me aguento e não é por isso que ando por aí a maltratar os outros! Nunca como agora a brincadeira foi (e será) tão importante!

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