30/09/2008
Vários - Hip Hop: The 2008 Collection
Sabemos que a face mais visível do hip-hop tem um lado de ostentação que afasta o ouvido mais exigente. Sabemos ainda que é justamente essa divisão mais comercial da coisa que molenga demoradamente nas rádios e nas tabelas de vendas. E não somos indiferentes ao facto do hip-hop ser hoje uma linguagem de liceu, como antes era o rock alternativo, por exemplo. Tudo somado, percebemos que o tempo é de contaminações várias. E que já não dá para ignorar a forma como o comercial e o criativo se tocam mais intensamente do que antes.
Não queremos legitimar mais a lógica dos cifrões e menos a palavra do gueto, bem pelo contrário. Haverá sempre um lugar especial no coração para os De La Soul, A Tribe Called Quest ou Company Flow. Mas a marcha triunfal da indústria sobre o jargão de rua tornou-se ensurdecedora. Kanye West, Snoop Dogg, 50 Cent, Busta Rhymes e The Black Eyed Peas são nomes que se confundem com a vaga de fundo que entretanto se abriu no hip-hop. Todos eles têm contas bancárias com muitos dígitos e, se não se aburguesaram mais com o tempo, é porque sempre tiveram vocação para o lucro instantâneo.
É também neste contexto que surge uma compilação como "Hip Hop: The 2008 Collection". Trata-se de um conjunto de temas orelhudos que fizeram carreira durante este ano, ainda que, em muitos casos, as edições originais já levem mais do que um bom par de anos. Mas, em vez de seguir desgovernada a distribuir os salteadores dos tops, a compilação consegue resistir à tentação de satisfazer de enfiada o apetite do ouvinte mais distraído, logo mais exposto às leis do rebanho. Por isso, roda um insuspeito Lupe Fiasco depois de Gwen Stefani, Rihanna e Ne-Yo.
A digestão fácil dos dois pratos servidos (a compilação é dupla) vai depender do grau de simpatia pelos artistas incluídos. O primeiro disco está mais carregado de testosterona - casos de 50 Cent, Akon e will.i.am - e de pernas mais bem torneadas - como as de Fergie, Mutya Buena e, de novo, da Rihanna da vida. Esse é um complexo que não descola do hip-hop burguês, o da sexualidade latente, do culto da imagem e de uma certa primazia sobre a música.
Já o segundo disco atalha mais vezes pela rima elaborada, através da inclusão de pequenos mas cirúrgicos golpes de teatro. Afinal, não é todos os dias que o 'Ghetto Gospel' de 2Pac roda antes da estafada 'Don't Phunk With My Heart', dos Black Eyed Peas. E também se percebe aqui um risco maior, com Basement Jaxx a remisturar Missy Elliott ou com Dr. Dre a revisitar o 'No Diggity' dos Blackstreet (no vídeo, eles são transformados em fantoches). É esse o valor maior desta compilação que, no resto, parece um trabalho de casa feito por cândidos e bem comportadinhos rappers. O hip-hop que interessa segue dentro de momentos.
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25/09/2008
Thievery Corporation - Radio Retaliation
Convém esclarecer, logo à partida, que os Thievery Corporation são a vaca sagrada do downbeat. Neles não se toca para dar pau sem que as bases da electrónica de bolso se agitem em revoltas apaixonadas e intestinas. Mas para perceber a dimensão do culto, é necessário juntar também o manto dub, a cultura reggae, as infusões indianas e os ritmos latinos, que sentam à volta da mesma chávena de chá sensibilidades tão distintas como o corretor de Wall Street, o funcionário público de Hong Kong e o favelado do Rio.
Rob Garza e Eric Hilton são assim um duo de garimpeiros sonoros da era moderna, mais reconhecidos na remontagem da música dos outros do que na gravação de discos próprios. Ficou célebre o trabalho que desenvolveram para as compilações "The Outernational Sound" e "Sounds From the Verve Hi-Fi". Menos conhecidos são talvez os álbuns com o selo único do duo, como "The Mirror Conspiracy" de 2000 (que apresentou aos mortais uma incrível loira libanesa) e, cinco anos mais tarde, "The Cosmic Game", com entradas em cena de Wayne Coyne, dos Flaming Lips, Perry Farrell, dos Jane's Addiction, e David Byrne.
O mais recente "Radio Retaliation" é o disco mais politizado do duo de Washington e Rob Garza nem tenta esconder esse facto: nos textos de promoção, lá foi dizendo que é difícil fechar os olhos quando o mundo está a arder, ocupado com práticas de tortura, guerras ilegais e crises económicas. Segundo ele, o momento certo para um artista falar é agora. E o ninja verde que se vê na capa é afinal um guerrilheiro zapatista mexicano, que usa máscaras para esconder a sua identidade dos esquadrões de morte da extrema-direita que perseguem os membros do movimento popular.
Tudo no disco é denunciado, tudo é dito com megafone em punho. Ou não fossem os primeiros segundos do disco ocupados por uma sirene a anunciar 'Sound the Alarm', tema repartido com Sleepy Wonder, rapper dividido entre Nova Iorque e a Jamaica. Esta é apenas a primeira de uma série de colaborações que tornam o disco também o mais internacional dos Thievery Corporation, importando sons da Jamaica, do Médio Oriente, da América Latina, da Ásia e do continente negro. Em 'Mandala', ouve-se a cítara da indiana Anoushka Shankar, num dedilhado que faz mais por aproximar o Ocidente do Oriente do que qualquer tratado internacional.
Outra presença feminina pertence à cantora e violinista eslovaca Jana Andevska que nos deixa agarrados à sua 'Beautiful Drug', numa tripe assombrosa de jazz planante e rendilhado downtempo. Os ritmos mais quentes ficaram em 'Vampires', onde entra o afro-beat do nigeriano Femi Kuti, que vê vampiros nos políticos de toda a parte, do Darfur a Lagos e Kinshasa. E em 'Hare Krsna', um apelo à meditação e filosofia zen, feito em português pelo músico brasileiro Seu Jorge. Mas ainda se ouvem pelo menos outras duas línguas: o castelhano de Verny Varela em 'El Pueblo Unido' e o francês de LouLou em 'La Femme Parallel'.
Chuck Brown pica o ponto em 'The Numbers Game', ele que é considerado o padrinho do go-go, uma derivação do funk que floresceu em Washington na década de 70. O tema é um excelente resumo do espírito que atravessa "Radio Retaliation". O disco é menos de retaliação do que de comunhão de estilos, que tenta escrever uma língua global e, como sempre acontece com os Thievery Corporation, tornar a nossa passagem pela Terra mais suportável. Desta vez, o manifesto pacífico vem num impecável cartão reciclado. E é mesmo disso que se trata, de reciclar sons e reaproveitar restos para imprimir a mensagem.
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23/09/2008
Kardinal Offishall - Not 4 Sale
E se, por absurdo, um disco agradasse aos entusiastas de circunstância e aos defensores da causa (perdida) do hip-hop? O rapper canadiano Kardinal Offishall não anda muito longe de conseguir isso com o mais recente "Not 4 Sale". Se o hip-hop de causas parece confinado ao estado norte-americano de New Jersey, mais acima, Toronto parece apostada em fazer a síntese e convidar os dois pólos a gingarem as ancas ao som da mesma canção, mais com k-os e menos com Buck 65, por exemplo.
Com convidados na maior parte dos temas, Kardinal fez um disco que se deixa contaminar pelo dancehall mais transpirado, pelo reggae mais desfeito e pela soul menos convencional. "Not 4 Sale" segue-se a uma dança de cadeiras com editoras, da Warner à Virgin e desta à Kon Live, a etiqueta de Akon, que divide com Kardinal o single 'Dangerous'. Mas ficamos convencidos logo à primeira, com um 'Burnt' esmigalhado segundo a tradição da Jamaica e devolvido em papel de rebuçado canadiano.
'Digital Motown' é a primeira grande lição deste álbum: não é necessário ficar a cheirar a bafio quando se olha para o passado e isso percebe-se no R&B futurista, via Los Angeles, de J-Davey. A meio do disco, 'Numba 1 (Tide Is High)' faz a primeira concessão ao mercado, com Kardinal a partilhar o microfone com a jovem Rihanna. Mas, sacrilégio ou não, o tema resulta muito bem pelo contraste entre o registo delicodoce da menina e a voz cavada do MC canadiano.
Logo a seguir, 'Ill Eagle Alien' pega no refrão de 'Englishman in New York' de Sting para o vergar à batida roots e falar de integração de imigrantes e não mais de um mero choque lúdico de culturas. Para quem ainda não se deu conta, o hip-hop também é isto.
Depois do patrão Akon, Kardinal visita o que resta da actual santíssima trindade da palavra bem esgalhada, primeiro em 'Gimme Some' com The Dream, depois em 'Go Home With You' com T-Pain. E o rapper também não dorme noutras latitudes mais distantes: 'Nina' é atravessada por um ritmo brasileiro a lembrar um funk carioca mais enxuto, enquanto a britânica Estelle atira soul contra uma parede de arestas hip-hop, classe de 80, em 'Due Me a Favour'.
Falta só falar da bonita capa que acompanha este disco: o retrato de um soldado, com o capacete descaído, o carimbo "Not 4 Sale" e um código de barras no lugar da boca. É o discurso anti-guerra a servir de montra a um disco que tem tudo de inclusivo. Nele, Kardinal convida ao circo mas é circo de palhaço triste e sem animais amestrados.
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19/09/2008
Produtores: Mapa do Tesouro
Os produtores de música não se medem aos palmos. Mas o número de edições em que vão participando e a respectiva carreira comercial pesam muito na hora de os requisitar ou dispensar. Por exemplo, não é exactamente o mesmo trabalhar com um Sixtoo ou com um Timbaland. O primeiro é um produtor canadiano com um respeitável culto mas ainda relativamente obscuro para as massas. O outro tem um inesgotável currículo de participações em discos de artistas tão diversos como Justin Timberlake ou Björk.
Ainda que não o saiba, qualquer cidadão do mundo, munido apenas de um pequeno rádio, já ouviu uma produção de Timbaland. Está na moda colaborar com ele mas não é certamente pelas tendências da estação que o produtor está em quase tudo o que mexe. Senhor de uma assinatura muito própria, parece ter uma receita de sucesso para cada tema que produz. Com ele, Justin Timberlake passou de besta a bestial. Mesmo quem embirre com o miúdo não pode deixar de notar o profundo abismo que existe entre os tempos dos *NSYNC e de “FutureSex/LoveSounds”, o álbum a solo de 2006. O rapaz fez-se um homem e a culpa maior foi de Timbaland.
Entretanto, o mundo da pop levou mais uma volta. A música é agora mais democrática, chega a todos e o difícil é mesmo encontrar uma ilha de silêncio na cidade - simplesmente não existe. A pop já dialoga bem com uma incursão mais ousada de ritmo: já se ouve e vê hip-hop nas televisões do metro, por exemplo. Há uns anos, o género tinha apenas duas saídas: ou se acantonava em guetos mal frequentados e vivia sempre na sombra, ou deixava corromper-se pelas leis do mercado, passando a ver cifrões onde antes via questões sociais.
Produtores como Timbaland ou a dupla The Neptunes souberam fazer a ponte de ligação. Na maior parte das vezes, o resultado é um tema orelhudo, apontado para as rádios, mas que não cai no jogo do mercantilismo primário que só pensa a música como um negócio. A face mais visível do hip-hop (a outra sabemos que permanece fiel às origens) passou a integrar gente que cresceu a ouvir discos e não mais gente programada para ser relações públicas a vida toda. A música sai a ganhar e fica aberto o caminho para a comunicação com outras artes.
Quando, ao virar do milénio, Damon Albarn, Dan The Automator e o criador das tiras de BD Tank Girl apresentaram os Gorillaz, o mundo estava longe de perceber a dimensão do fenómeno. O certo é que, pouco depois, Danger Mouse estava a ser convidado para produzir o segundo álbum da primeira banda hip-hop virtual. É óbvio que algo mudou e mudou muito. A música na era digital já não tem de suportar o peso do mundo e pode até aproximar tribos que viviam de costas voltadas. Os produtores dão uma ajuda preciosa e se hoje entendemos melhor o hip-hop, é sobretudo a eles que devemos os ouvidos mais abertos à novidade.
Para continuar a ler sobre os produtores da alta costura, clicar aqui.
Para ouvir uma rádio programada com música produzida por Timbaland, The Neptunes e Danger Mouse, clicar aqui.
17/09/2008
B.B. King - One Kind Favor
B.B. King é uma figura maior entre os grandes. Se W.C. Handy foi o pai dos blues, por ter enxertado a música negra sulista nas consciências populares, nas longínquas primeiras décadas do século passado, King reina sem sucessor, sendo para muitos o mais importante guitarrista eléctrico do último meio século. Senhor digno de entrar directamente para um Panteão Nacional, depois de correr a existência terrena a pontapé, é a medo que avançamos para este "One Kind Favor".
Um disco que abre com 'See That My Grave Is Kept Clean' pode parecer toque de finados - afinal, o homem já não caminha para novo e acaba de completar 83 anos. Felizmente, o toque aveludado, negro como uma noite sem lua, não é senão um exercício de despojamento para recentrar atenções na forma mais tradicional de tocar blues. O aviso estava dado: B.B. King iria gravar um disco de regresso às origens, com a ajuda do produtor T Bone Burnett. E fê-lo, mas sem nunca soar fora de prazo.
A proeza maior destas 12 canções é conseguirem resgatar o período de reflorescimento dos blues, em meados do século passado. A música de King, como o melhor cinema de Oliveira, avança mais quando fica parada. 'I Get So Weary' e 'The World Gone Wrong' são duas belíssimas peças de colecção porque têm o ar de outros tempos, estão insufladas de um aroma a fumo de bares, a caminhos-de-ferro a ligar uma América mítica, com o Mississípi em fundo.
Tal como nos melhores discos de standards de jazz e blues (ouça-se quando Louis Armstrong revisita o trabalho de W.C. Handy), as canções assumem uma vocação algo reverencial. Talvez porque a melhor forma de tocar blues seja citá-los, temos 'Get These Blues Off Me', 'Blues Before Sunrise', 'Midnight Blues' e 'Backwater Blues'. Em qualquer um deles, o sentido da palavra atira para os blues tocados e para os blues sentidos: em inglês, "blues" também se refere a um estado de espírito, que, traduzido para Camões corrente, há-de significar qualquer coisa como "estar com a neura".
Num registo mais baladeiro ('My Love Is Down' e 'Sitting On Top of the World') ou num estilo mais conciliador (como no brilhante final que é 'Tomorrow Night'), B.B. King nunca perde a elegância nem a subtileza vintage de soar clássico e moderno na mesma nota. Para isso, faz-se acompanhar pelo baixista Nathan East, que já trabalhou com Clapton, o pianista Dr. John e Jim Keltner na bateria. O resultado é um disco que faz da escuridão luz e que devolve o classicismo à geografia dos blues. Ainda se vai falar muito deste "One Kind Favor" no futuro.
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14/09/2008
#81: Sonata de Outono
Download MP3
No regresso de férias, o Coffee Breakz pinta as cores da estação que se aproxima. Os novos discos de The Boggs, Nneka (na foto) e Tricky são deste Verão mas fazem mais sentido no Outono. Vamos ainda descobrir a história de Sugar Man, que é como quem diz o homem do cavalo, e o que acontece à equação que junta The Ex e os Mekons. E ainda uma banda que faz instrumentais a pensar em David Lynch. Mas tudo começa com James Brown, por isso só pode correr bem.
01 James Brown Three Hearts in a Tangle
02 Ike & Tina Turner Don't Believe Nothing
03 Rodriguez Sugar Man
04 Hello Saferide Anna
05 Lou Reed Caroline Says, Pt. II
06 Sonata de Outono
6.1 The Boggs One Year On
6.2 Nneka Something to Say (feat. Pat Attah)
6.3 Tricky Past Mistake
07 KatJonBand Bad Apples
08 High Places From Stardust to Sentience
09 Lake Blue Ocean Blue
10 The Donkeys Nice Train
11 Michael Zapruder Ads For Feelings
12 Peter Bjorn & John Inland Empire
emitido a 16 Setembro
12/09/2008
Mêlée - Devils & Angels
Do que o mundo anda a precisar qualquer aspirante a miss pode elucidar-nos: mais paz, menos fome e uma operação plástica por habitante da Terra. Nenhuma iria certamente lembrar-se de indicar um disco para salvar o planeta. Menos ainda quando dessa rodela se desprendem sons da segunda divisão B do punk: aquele que soa a pop açucarada de fazer cair dentinhos. Assim são os Mêlée, espécie de caldeirão pós-adolescente que faz das franjas mais comerciais do punk a sua poção mágica.
Em "Devils & Angels", o terceiro disco da banda, primeiro para uma multinacional, os corações estão ao alto na recuperação dos piores momentos de Ben Folds e de qualquer momento dos Jimmy Eat World. O prato emo servido em 'Build to Last', e generosamente regado por guitarras choramingas, é a entrada para uma refeição que se engole por obrigação, não por prazer. 'Frequently Baby (She's a Teenage Maniac)' só vem azedar ainda mais o repasto, com uma atitude próxima de Avril Lavigne. Ou seja, tudo espremido, não fica grande coisa.
A capa do disco é o espelho do som que os Mêlée praticam: quando o punk se quer garrido e desafiador, eles forram as paredes com um papel estilo vitoriano, típico da classe média inglesa. E olham para nós com aquele ar juvenil mas arranjadinho. A páginas tantas, reclamam uma liberdade oca (como em 'Can't Hold On') e uma criatividade ainda mais vácua, numa 'Imitation' transformada em hit de rádio.
Em 'She's Gonna Find Me Here', eles ainda tentam insinuar-se com um piano meloso mas também não é por aí. Os três minutos mais interessantes acabam por ser a faixa-bónus, na revisão de 'You Make My Dreams' de Hall & Oates.
"Devils & Angels" é muito higiénico, não tem nicotina, não tem fumo nem um grãozinho de poeira. É, por isso, o disco indicado para as meninas de liceu que usam correntes nas calças, descobriram o punk com os Green Day e ignoram olimpicamente o movimento formador (e reformador) da Londres e Nova Iorque de meados de 70.
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10/09/2008
09/09/2008
Thievery Corporation > Radio Retaliation
Get your own signed copy of Thievery Corporation's forthcoming album Radio Retaliation!
You heard right. Properly Chilled is proud to bring you this giveaway where you just might be one of a select few Properly Chilled members to win your own autographed copy of Thievery Corporation's Radio Retaliation. The album will be released on Sep. 23, 2008.
The deadline for entry in this giveaway is midnight (US Pacific) on Sep. 20, 2008
(any entries received afterward will not qualify)
About Radio Retaliation
August 13th, 2008 - Internationally acclaimed artists Thievery Corporation are set to release their 5th studio album entitled Radio Retaliation on September 23rd on ESL Music. Thievery Corporation, comprised of the highly regarded DJ and production duo Rob Garza and Eric Hilton, are best known for fusing a vast array of cultural influences in their music. This record takes their trademark "outernational" aesthetic to the next level with inspiration from sounds from Jamaica, Latin America, Africa, Asia, and the Middle East.
The album was recorded in the band's hometown of Washington, DC and the vibe is decidedly political which is no surprise given the high profile presidential campaign happening this year.
"Radio Retaliation is definitely a more overt political statement," says Garza of Thievery Corporation. "There's no excuse for not speaking out at this point, with the suspension of habeas corpus, outsourced torture, illegal wars of aggression, fuel, food, and economic crises. It's hard to close your eyes and sleep while the world is burning around you. If you are an artist, this is the most essential time to speak up."
The Act-Ups - Play the Old Psychedelic Sounds of Today
Os Act-Ups são uma banda do Barreiro a fazer barulho desde 2001. O som deles é sujo e directo, aliando a soul encorpada dos Zen Guerrilla à pose glam dos Black Halos. Estes são dois nomes da história recente do garage e do punk que vêm à cabeça quando ouvimos "Play the Old Psychedelic Sounds of Today", ainda que possam não ser influências directas para os Act-Ups. O título do disco não engana: eles são nobres executores da reciclagem sonora, retirando da classe de 70 a vontade de mudar o mundo em três minutos.
Ao terceiro disco, os Act-Ups conseguem soar fresquinhos mesmo que a cartilha punk que seguem já tenha amarelecido com o passar dos anos. É, de resto, nesse passado que não envergonha mas engrandece que eles encontram abrigo. Neste sentido, não são uma banda deste tempo, dominado por música servida em saquetas expresso, antes um excelente pretexto para tentar recuperar essa forma de estar no mundo. Há uns 20, 30 anos, formar uma banda punk significava vociferar a uma sociedade dormente e querer partir tudo ao pontapé. Agora não, agora tudo é mais seguro, é muito mais rede do que trapézio.
Ouvir os Act-Ups em 2008 é acreditar ainda na força explosiva e mobilizadora do punk (e da música). A voz de Nick Nicotine é como um despertador na mente, sobretudo nos temas mais curtos e frontais como 'Pride & Desperation' e '64 Stabs'. As três guitarras e o jogo de percussão despejam gasolina num fogo ateado pelo poderoso single 'Alive Again' e pela latinidade à Clash de 'Rumba Los Chicos'. As linhas do baixo de Tony Fetiche aguentam bem o desatino cortante de 'I Always Knew Your Game Was Wrong, Girl', mas é o fuzz de Johnny Intense que não deixa pedra sobre pedra quando o tema acaba.
A última faixa 'Sad Eyes', que se arrasta por uns surpreendentes oito minutos, tem o acordeão de The Drunk Reporter, tem Pistol Pete a chegar-se à frente na voz e até tem pandeireta. É um tema que parece feito de restos e colagens à boa maneira punk de outrora. Se na primeira metade há alguma coerência assente na pirâmide calma-ruído-calma, a partir da marca dos quatro minutos, o espírito é de jam session e autêntica libertação criativa. Que, mesmo assim, eles não se tenham perdido em amostras balofas de virtuosismo prova que destes Act-Ups ainda podemos esperar muito.
http://cotonete.clix.pt/quiosque/novos_discos/body.aspx?id=390
05/09/2008
Musik For Film
Burning Bowl Records
This compilation features elusively tight cuts. The kind that you could hear inside an independent movie theatre in Europe. But to call this a cinematic presentation of the finest downbeat and dub is nothing short of an understatement. Most of the artists here were either born in Austria or moved to the mountainous country at some point in their careers. Professor Oz, who brings us the opening number "Whatever the Sun", is one good example. Born in Paris, he eventually relocated to Vienna to meet Sugar B, also credited on the track, and Richard Dorfmeister of Tosca.
Following the inaugural track, punctuated by dub licks and languid beats, is the Viennese electronic scene at its most infatuated. Markus Dohelsky, also performing under the Shanti Roots moniker, lends his reggae-flavored approach to the good skills of Scheibosan, the musical equivalent of a nomad, having played before crowds not only in his native Austria but also in Hungary, Greece and Brazil. Moving up a notch, the record gets all trip-hoppy and scratchy with the Los Angeles-based band Lazy, which was founded by former members of Supreme Beings of Leisure.
But if "Love Robbery" sounds a lot like Portishead circa the 90s, Sin's "Game of Despise" has a true erotic vibe. From the cold Norwegian shores comes the Xploding Plastix (named after Andy Warhols' series of multimedia events that rocked the late 60s) with a furtive yet catchy "Treat Me Mean, I Need the Reputation". By the time the CD player hits two exquisite marks, namely via Stefan Obermaier's funkiness, and See-I's stylistic world journey (the link with Thievery Corporation is obvious), the record hits this listener's most eclectic nerve.
In less than two minutes, All India Radio, actually coming from down under, manages to deliver fat guitar lines and loose beats that exhale a perfume so gallantly pop and movie-like. And while "Tuf Luv Dub" is on it's not difficult to understand why multi-instrumentalist Jamie Saft has such a brilliant résumé, having worked with John Zorn, Laurie Anderson, and the Beastie Boys, among others. That, and the following track "Smoker's Funk", by the Italo-German ensemble The Waz Experience, seem to have been composed under the influence of the kind of weed smoked in spaceships – if smoking was allowed in such endeavors.
The record's final moments are more distractive and thus disruptive, ranging from the conscious sloppiness of Ohm's "Helium Voices" to the raggaready treatment of Austin's Canartic amicably challenging Austrian experimental wizard Karl Stirner, and the electronic dreams in color of Theremin-lovers Sundae Club. "Musik For Film" has so many stylistic deviations that make this material suitable for the most obscure western spaghetti, as well as the hypothetical next chapter of the intergalactic wars.
http://www.properlychilled.com/music/release/profile.php?view=606
This compilation features elusively tight cuts. The kind that you could hear inside an independent movie theatre in Europe. But to call this a cinematic presentation of the finest downbeat and dub is nothing short of an understatement. Most of the artists here were either born in Austria or moved to the mountainous country at some point in their careers. Professor Oz, who brings us the opening number "Whatever the Sun", is one good example. Born in Paris, he eventually relocated to Vienna to meet Sugar B, also credited on the track, and Richard Dorfmeister of Tosca.
Following the inaugural track, punctuated by dub licks and languid beats, is the Viennese electronic scene at its most infatuated. Markus Dohelsky, also performing under the Shanti Roots moniker, lends his reggae-flavored approach to the good skills of Scheibosan, the musical equivalent of a nomad, having played before crowds not only in his native Austria but also in Hungary, Greece and Brazil. Moving up a notch, the record gets all trip-hoppy and scratchy with the Los Angeles-based band Lazy, which was founded by former members of Supreme Beings of Leisure.
But if "Love Robbery" sounds a lot like Portishead circa the 90s, Sin's "Game of Despise" has a true erotic vibe. From the cold Norwegian shores comes the Xploding Plastix (named after Andy Warhols' series of multimedia events that rocked the late 60s) with a furtive yet catchy "Treat Me Mean, I Need the Reputation". By the time the CD player hits two exquisite marks, namely via Stefan Obermaier's funkiness, and See-I's stylistic world journey (the link with Thievery Corporation is obvious), the record hits this listener's most eclectic nerve.
In less than two minutes, All India Radio, actually coming from down under, manages to deliver fat guitar lines and loose beats that exhale a perfume so gallantly pop and movie-like. And while "Tuf Luv Dub" is on it's not difficult to understand why multi-instrumentalist Jamie Saft has such a brilliant résumé, having worked with John Zorn, Laurie Anderson, and the Beastie Boys, among others. That, and the following track "Smoker's Funk", by the Italo-German ensemble The Waz Experience, seem to have been composed under the influence of the kind of weed smoked in spaceships – if smoking was allowed in such endeavors.
The record's final moments are more distractive and thus disruptive, ranging from the conscious sloppiness of Ohm's "Helium Voices" to the raggaready treatment of Austin's Canartic amicably challenging Austrian experimental wizard Karl Stirner, and the electronic dreams in color of Theremin-lovers Sundae Club. "Musik For Film" has so many stylistic deviations that make this material suitable for the most obscure western spaghetti, as well as the hypothetical next chapter of the intergalactic wars.
http://www.properlychilled.com/music/release/profile.php?view=606
04/09/2008
Lil Wayne - Tha Carter III
Enquanto o hip-hop se tornava moeda corrente entre os miúdos das costas leste e ocidental dos Estados Unidos, florescia uma cena mais localizada a sul do país. O rap sulista despontou em Miami, no final dos anos 80, apoiado em dengosas linhas de baixo e num grande cuidado lírico, e cedo contaminou as cidades vizinhas. Atlanta torna-se o epicentro criativo mas é Nova Orleães que arrecada mais dólares ao estabelecer uma lucrativa linha de montagem. Lil Wayne torna-se filho dessa subcultura ao integrar, ainda adolescente, os Hot Boys.
De então para cá, Wayne foi intervalando as suas edições a solo com uma fervorosa produção de mixtapes, o que lhe valeu um assinalável estatuto junto das bases mais fiéis. Esse culto underground não mais descolou dele até mesmo quando vendeu muito: foi o caso da estreia em nome próprio, com "Tha Block Is Hot" de 1999. Então como agora, o rapper do subsolo pega na tradição soul de Nova Orleães, adiciona-lhe frondosas e suadas batidas e serve tudo numa produção gordurosa e desafiante. Em 2004, começava a escrever o seu "Tha Carter", que vai agora no terceiro capítulo.
Aqui, ele rodeia-se de outros executores da palavra cantada, como Jay-Z (num sonolento 'Mr. Carter'), T-Pain ('Got Money' cresce a partir de um beat que parece retirado do funk carioca e posto de molho num bairro de Luanda) e Babyface (em 'Comfortable', onde só a voz de tinto velho de Wayne rompe a soul feita de veludo e plumas). Há outras mas as restantes colaborações são mais pálidas - a excepção é 'Tie My Hands', a meias com Robin Thicke, que assume a direcção de um petardo lançado às mãos da Administração Bush. É o retrato ora magoado ora acusador de uma Nova Orleães varrida pelo furacão Katrina.
Em 'Dr. Carter', Lil Wayne sampla David Axelrod, reputado produtor que fica entre a pop mais barroca e o jazz infectado pelo funk, o que diz muito da cultura musical do senhor. Wayne é dono de um conhecimento transversal que lhe permite desaparecer num jogo de arqueologia para, algumas faixas depois, reaparecer sob a forma de 'Lollipop', num electro viciante mas que se mastiga e cospe como pastilha elástica.
No entanto, ao contrário de um 50 Cent, que invariavelmente rapa sobre os tiros que levou acima da cintura, Wayne domina a arte da graçola bem engatilhada: em 'Phone Home', jura com voz metalizada que compra o nosso cérebro por uma ninharia. Já sentíamos saudades do hip-hop sem o peso do mundo em cima. Não quer isto dizer que Lil Wayne não tem histórias de pólvora para contar. Aos 12 anos, atirou acidentalmente sobre si próprio quando brincava com uma arma de fogo à frente do espelho. Ele recorda isso em 'Shoot Me Down' com a ajuda de D. Smith, mas não faz desses episódios o que eles não são.
É refrescante ouvir um rapper assim, que se distancia do rótulo de gangster enquanto se aproxima de uma noção quase perfeita de ritmo.
http://cotonete.clix.pt/quiosque/novos_discos/body.aspx?id=388
02/09/2008
Vários - O Melhor do Pop Rock Português 1980-1989
Olha-se para a capa do disco, lê-se o título e logo nos vêm à memória aquelas edições de hipermercado, vendidas a preço de saldo, que o pai de família compra por atacado apenas para acumularem pó na estante da sala de estar. E assim se fazem colecções com os grandes mestres do jazz, os maiores êxitos da revista portuguesa e sons do oceano para descanso zen. Poderia este ser um desses discos, que têm a relevância de um pequeno grão de areia numa imensa praia? Sim, mas pelo menos aqui houve algum rigor e critério na selecção, qualidades que escasseiam nas edições do género.
Pressiona-se o botão e o disco começa a devolver aquelas canções estafadíssimas que podemos ouvir nas rádios estacionadas nos anos 80 - ou seja, quase todas. Assinado pelo jornalista e profissional de rádio Nuno Galopim, este é o quarto volume de uma série que começou em 2003. Por ser uma compilação de pop/rock, mais ainda por ser um trabalho de retrospectiva, compreende-se a inclusão dos GNR (com um 'Efectivamente' algo datado) e de António Variações (com a sempre actual 'Canção de Engate').
Quando Lena d'Água nos oferece um doce, torcemos o nariz mas continuamos a perceber. Afinal, isto é pop/rock, ainda que nos tenham prometido "o melhor do pop/rock português", mas enfim suporta-se. No entanto, já custa mais levar com os 'Dias Atlânticos' dos Ban ou com 'Só Gosto de Ti' dos Heróis do Mar. Esse é um passado que preferíamos esquecer.
Para sempre queremos lembrar a irrepreensível prestação de Anabela Duarte em 'L'Amour Va Bien Merci' dos Mler Ife Dada, quando Cascais chegou a Paris e se perdeu de amores pela "chanson" lustrosa de Serge Gainsbourg. O tema recupera também o imaginário retro e deliciosamente nostálgico do Rock Rendez-Vous. Importa perguntar onde pára um concurso deste tipo nos dias de hoje.
A 'Paulinha' dos Peste e Sida, o 'Júlio é um Duro' dos Albatroz e até 'O Negro do Rádio de Pilhas' de Rui Veloso são todos personagens de uma malha social que no essencial vê passar e não intervém. Valem enquanto retratos de vidas mesmo que não nos aconcheguem com a manta quentinha da memória a que não custa nada voltar. E como os Rádio Macau regressaram já não temos que tomar 'O Elevador da Glória' de cada vez que a saudade aperta. Mas a viagem é sempre muito compensadora, menos compensador é sermos apanhados pelo Radar Kadafi e 'Eu Sei que Não Sou Sincero', uma história de amor que faz corar de vergonha.
Para o final ficaram reservados dois temas que conseguiram romper a membrana do pop/rock para paisagens mais alternativas. Anamar e os Golpe de Estado foram pop e rock sem o serem verdadeiramente. A nossa Ana Maria Alfacinha, que saiu de Lisboa e acabou a cantar numa banda punk em Gotemburgo antes de regressar, canta 'Feia Bonita' com uma voz que tacteia o ar em vez de se desprender num sopro. Raramente a pop portuguesa soube cantar tão bem e tão solta! E os Golpe de Estado fecham o disco com 'Rev 25', que mete numa trituradora rítmica e cerebral as vozes de Abril difundidas pela rádio. Impressionante exercício de electrónica descomplexada que lida com um episódio formador da nossa história contemporânea.
No que interessa, este é um disco cumpridor mas que arrisca muito pouco. Por isso, tirando o surpreendente final e um ou outro tema lá mais para cima, isto é música que facilmente se ouve no FM actual. É um documento histórico mas sem o peso de um documento histórico, que se perde na espuma dos dias. Talvez porque o travo vagamente revisionista sabe a amargo em mais de metade do disco.
http://cotonete.clix.pt/quiosque/novos_discos/body.aspx?id=386
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