31/12/2008
discos nacionais 2008 (#1-10)
#1: Buraka Som Sistema - Black Diamond
#2: Supa - Shift
Os Supa são actualmente um dos trios mais vigorosos do hip-hop português. O formato de dois MCs (no caso, Gab e Núcleo, dois Factos Reais) e um DJ (nada menos do que DJ Ride, um jovem campeão do scratching) revela-se ganhador num primeiro disco enxuto e sem o colesterol habitual no género. As vozes convidadas deixam um rasto de mel, como em “Nem Sempre Dá” com Jair e “Antes e Agora” com Tamin, o que empresta a Shift uma terna vocação soul. E Núcleo canta crioulo em “Sima Ta Da”, um inesperado número pintado com tintas country e até blues. Este disco é um risco num país adormecido pelo lixo televisivo e pela estupidez como instituição pública de interesses privados. E, no entanto, é também de beats arriscados que se fazem novos amanhãs que cantam.
(texto publicado na lista dos melhores discos nacionais do Bodyspace)
Texto completo (Cotonete)
#3: Alla Polacca - We're Metal and Fire in the Pliers of Time
O que faz um título enigmático como este na lista dos melhores discos de 2008? Primeiro, faz todo o sentido: os Alla Polacca são das coisinhas mais interessantes que a pop portuguesa produziu nos últimos anos. Segundo, faz o que muitos outros não conseguem nem que o Papa faça o pino durante a Quaresma: canções que são narrativas de filmes que são ainda canções. E terceiro, não faz rigorosamente nada para agradar a ninguém, acabando por agradar a quase todos. As letras são do Old Jerusalem Francisco Silva, um tipo que nos ensinou toda a métrica do amor tímido mas avassalador, em April de 2003. A pop abstracta dos Spiritualized mais tenrinhos, a instrumentália vagante dos Mogwai e o experimentalismo de calção a meia perna dos Slint andam todos por aqui, sem que a inspiração seja colhida a papel químico. Longe disso! Os Alla Polacca são metal incandescente mas contentam-se com uma existência pequena de madeiro quase extinto. Ainda bem.
(texto publicado na lista dos melhores discos nacionais do Bodyspace)
Texto completo (Cotonete)
#4: Dead Combo - Lusitânia Playboys
#5: Mafalda Arnauth - Flor de Fado
#6: Rocky Marsiano - Outside the Pyramid
#7: The Guys From the Caravan - Noah's Ark of Pain
"é a tradição do rock n' roll posta de molho num banho quente, que tem uma concertina, um kazoo e um ukelele como principais óleos balsâmicos e um sintetizador analógico como sal perfumado"
"um declarado gosto pelo burlesco (o tema 'Guy From the Caravan' tem todo o ar de pintas que desliza os polegares nos suspensórios enquanto assobia para o lado) e pelo leste europeu"
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#8: The Act-Ups - Play the Old Psychedelic Sounds of Today
"o som deles é sujo e directo, aliando a soul encorpada dos Zen Guerrilla à pose glam dos Black Halos"
as três guitarras e o jogo de percussão despejam gasolina num fogo ateado pelo poderoso single 'Alive Again' e pela latinidade à Clash de 'Rumba Los Chicos'
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#9: Nel'Assassin – Reconstrução
#10: Os Pontos Negros - Magnífico Material Inútil
"por vezes, dá-se o caso dos fenómenos do Entroncamento se deslocalizarem alguns quilómetros, sem qualquer prejuízo da dimensão invulgar da coisa. Com Os Pontos Negros, o fenómeno fica em plena linha de Sintra"
"o adereço maior deste altar de cartão do rock é a fina ironia da palavra, uma técnica que começa logo nos títulos das canções"
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4 comentários:
Azevedo Silva, Mariza, NBC e Riding Panico! (Buraka a kuiar bué, agrada-me.. e Alla Polacca.. e Rocky Marsiano..)
E não podemos fazer uma lista com albuns de outros anos? =X
Podemos pois, força nisso! :)
À Noite do Carlos do Carmo.. é de 2007, mas foi um dos meus álbuns deste ano. Soberbo!
Tive a sorte de o ver, no final deste ano, no Pavilhão Atlântico, no concerto de comemoração dos 45 anos de carreira. E, algumas semanas depois, de o conhecer. É um tipo simpático mas sente um gozo enorme, quase obsceno, em entalar as pessoas! Acho alguma piada a isso. É um dos maiores fadistas vivos.
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