12/12/2008

já Morrissey não sou




Num dia do Outono de 2003, um amigo disse que eu era como Morrissey: armava confusão, punha as pessoas a falar, mas saía de fininho como se nada se tivesse passado e não tivesse sido eu o causador da intriga. Tudo por causa de uma crítica a um disco que eu escrevi e que mereceu ataques virulentos por pessoas sem nada que fazer. (Gosto imenso quando as pessoas são virulentas na crítica, significa que respiram, sentem e não têm as mentes adormecidas. Isso é bom!)

Morrissey

Achei piada ao comentário desse meu amigo. Sempre me fascinou a ambiguidade sexual de Morrissey, o seu culto da literatura (o Oscar Wilde como maior referência) e do cinema, a lírica apaixonadamente desapaixonada que o faz cantar sobre namoradas em coma ou sobre fazer cartões de Natal com doentes mentais. Mas estou longe de ser como Morrissey. Para isso, teria que escrever isto:

There's a club, if you'd like to go
You could meet somebody who really loves you
So you go, and you stand on your own
And you leave on your own
And you go home
And you cry
And you want to die


ou isto:

Life is very long, when you're lonely

(Dá-me um gozo diabólico ouvir "The Queen Is Dead". Sempre que passo junto a um Palácio Real, apetece-me cuspir na porta de entrada! Faz-me imensa confusão que o poder corra na família. Com todos os defeitos, a República, representada por uma mulher de peito descoberto, parece-me mais ajustada e democrática.)

ou ainda isto:

And if a double-decker bus
Crashes in to us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well the pleasure, the privilege is mine


(Esta é a mais bonita declaração de amor que alguma vez ouvi!)

E eu não sou capaz de escrever isto! Eu não sou Morrissey. Não passo de poeira cósmica.


2 comentários:

Unknown disse...

Não sou grande fã da música dos The Smiths, nem do Morrissey all by himself.. Mas a verdade é que há aí demasiada poesia. Isso há.


"Não passo de poeira cósmica." Pelos vistos há demasiada poesia também em ti, meu caro. =)

Helder Gomes disse...

As pessoas são poesia em potência. Obrigado, Rute!