Habituei-me a escrever enquanto seguro e aperto o coração com uma das mãos. Tudo o que escrevo é, por isso, carregado de excesso. Nem tudo o que escrevo é verdadeiro, obviamente. Experimentem escrever com o coração descompassado, comprimido e a pingar sangue e vejam se falam sempre verdade! Só tento ser brutalmente honesto quando sei que não poderei sê-lo nem um pouco. Os meus últimos dias interiores pareceram um foguetório de província: rebentaram-se-me na cara com estrondo mas não chegaram a inundar-me de luzes e cores e efeitos bonitos. Na terça-feira de Carnaval andei preocupado em afastar-me da plástica folia da data. Entrei no cinema e passou-me à frente dos olhos o "Slumdog Millionaire". Pensei que afinal o Carnaval não tinha ficado à porta, entrara comigo na sala. Há ali um irritante paternalismo de primeiro-mundistas a olharem o Terceiro Mundo com incómoda piedade, uma coisa que me provoca coceira na pele. Este filme lembrou-me o "Babel" de há alguns anos, que a inteligência crítica desancou, o público amou e o Óscar reconheceu. No "Slumdog" passou-se o mesmo. Só que, desta vez, se não te importas, ponho-me mais do lado da crítica que ataca aquele histerismo todo. Esta noite, vi na televisão o "Touch of Evil" do Orson Welles, um policial à antiga. Foi um regalo:
- Come on, read my future...
- You haven't got any!
Os passageiros do comboio fartam-se de ler coisas de uma ligeireza estupidificante (quando não é o Destak poluidor de estações), mas hoje havia uma senhora com o livro do Gonçalo Amaral, esse carroceiro armado em pê jota. Sorri e continuei a ler o meu Vladimir Nabokov (a "Lolita", que até agora só tinha visto adaptada ao cinema). No café lá estavas tu mais as tuas sandálias pretas. Tens um jeito muito seguro de cruzar e descruzar os pés enquanto lês esse livro grosso que trazes sempre, enquanto dás dentadas femininas na sandes de queijo e inundas tudo na boca com os golinhos que sorves do galão. A essa hora, já eu me debruço sobre o jornal e a torrente tragicómica de enredos cá do burgo e dos outros mundos, pequenos como o nosso. Nunca te direi isto mas, mesmo sabendo que não devo avaliar um livro pela capa, desconfio muito disso que andas a ler. Parece-me uma daquelas xaropadas esotéricas que provam por A mais B que há uma luz, uma força que nos guia, uma sombra que se arrasta connosco. O que te vale são as tuas bonitas sandálias pretas.
28/02/2009
Genius/GZA - Liquid Swords
Em "The Spirit of Apollo", o disco de estreia dos N.A.S.A., impressiona não ver, no meio da parada de estrelas mais ou menos obscuras, o nome de Genius/GZA. A falha é ainda maior quando se ouve por lá outros digníssimos membros do Wu-Tang Clan, Method Man, Ghostface Killah, RZA e Ol' Dirty Bastard, este último em investida póstuma. Desconhece-se se o convite foi feito e recusado ou não foi feito de todo. O que se conhece e sublima aqui é a lírica cerebral e informada de GZA.
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Cotonete Play
Chin Chin com novo disco em Março
Os Chin Chin lançam o álbum "The Flashing, The Fancing" no próximo dia 10 de Março. O disco é o segundo da formação de Brooklyn a ser lançado pela editora Definitive Jux.
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notícias
27/02/2009
Kuku e Courbet
Vergonhoso o texto de Fernanda Câncio no DN de hoje! Já a leio há muito tempo e leio-a com bastante interesse, mesmo quando não concordo com o que escreve. Mas hoje ela puxa de um argumentário reles e desonesto. Tem o mau gosto de falar, no mesmo texto, da pintura "pornográfica" de Braga e de Kuku, morto a tiro, como diz, "por um agente da mesmíssima PSP". Conclui ela que "todo o barulho que se fez a este propósito contrasta com todo o barulho que se não fez quando, a 5 de Janeiro, um rapaz de 14 anos foi morto com um tiro na cabeça". Se bem me recordo, houve bastante barulho sobre esse caso. E ainda bem. Eu até entendo que ela resista em ver censura neste país (acusa-nos aos outros, os que discutem, de ter uma "vontade descabelada de ver fascismo em tudo o que mexe"). Mas parece-me muito rasteiro puxar de sangue para esvaziar a discussão, perfeitamente legítima, sobre os limites que nos são impostos à liberdade. Como se fosse ela a única a discutir aquilo que realmente interessa. Como se se reservasse o direito exclusivo de chorar a morte de um miúdo. Ou então quer ver o país a discutir apenas a faca e o alguidar.
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Esplendor na Relva
26/02/2009
Aquaparque - É Isso Aí
O início da história é igual a tantos outros. André Abel e Pedro Magina conheceram-se em Santo Tirso, uma cidade pequena onde não se passa nada. Da parvónia os dois fizeram força e vontade de criar. Em conversa com o Cotonete, André explicou que essa vontade começou por se materializar nos Dance Damage, um projecto entretanto já extinto. Agora eles são os Aquaparque e acabam de lançar o disco de estreia, "É Isso Aí".
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discos
Mickey Gang com EP em Março
Os brasileiros Mickey Gang vão lançar o primeiro EP, "We Have Feelings Too", já no próximo mês. A informação foi avançada ao Cotonete por Arthur, um dos elementos do quarteto de electro-rock.
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notícias
Blur tocam em prémios do NME
Os Blur subiram ontem ao palco da cerimónia de entrega de prémios do NME. A informação é avançada no site da publicação britânica.
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notícias
Ondas de Brooklyn
É de Brooklyn que chega o novo som da frente. Tem sido assim na última década, foi assim no par de décadas anteriores. Importa não esquecer que foi em Brooklyn que Lou Reed nasceu, assim como os três principais cérebros do Wu-Tang Clan. Desses nomes não se fala neste especial, eles são apenas mencionados para abrir espaço para os outros, os emergentes e os já clássicos habitantes do hiperactivo povoado de Nova Iorque.
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Tal como Prince, Santi White é a artista anteriormente conhecida como Santogold. Agora, quando pisa os palcos, responde pelo nome de Santigold. A alteração da vogal deveu-se à existência de um anúncio a uma joalharia com o mesmo nome, que ameaçou Santi com uma acção judicial. A produtora começou por fazer parte dos Stiffed, uma banda punk de Filadélfia, mas, ao receber a proposta de um contrato a solo, mudou-se para Brooklyn.
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Um verdadeiro filho de Brooklyn, Talib Kweli foi, a partir do final dos anos 90, uma das faces mais conscientes do hip-hop de causas. Em entrevista recente à VIBE, Talib revelou que o seu próximo álbum vai chamar-se “Prisoner of Consciousness”, precisamente uma referência a esse rótulo de “rapper consciente” que a imprensa insiste em colocar na sua música. Mas o atributo vem-lhe do próprio nome: “talib” em árabe significa “estudante” e “kweli” é “verdadeiro” em swahili, um idioma falado por cerca de 50 milhões de africanos.
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Constituída em Brooklyn em 2002, a Akron/Family está agora reduzida a três elementos. Em 2007, o multi-instrumentista Ryan Vanderhoof retirou-se do clã para se juntar a um centro de Budismo. Na realidade, a religião sempre pertenceu ao imaginário que se foi criando em torno da banda. Chegou mesmo a especular-se que a Akron/Family praticava um culto religioso chamado AK.
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Quando se pensa em Biohazard, não se pensa necessariamente em Brooklyn, mas foi aí que eles se formaram em 1988. A banda foi uma das primeiras a misturar o hardcore com o metal e ainda com elementos de hip-hop. A primeira formação dos Biohazard alinhava Evan Seinfeld (que partilha o apelido com outro “new yorker” conhecido) no baixo e na voz, Bobby Hambel na guitarra, Anthony Meo na bateria e depois Billy Graziadei na guitarra e também na voz.
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A barulheira experimental tem em Brooklyn lugar cativo e nos Black Dice uma morada certa. A banda nasceu na Primavera de 1997, quando o guitarrista Bjorn Copeland e o baterista Hisham Bharoocha se conheceram numa escola de design. O irmão de Bjorn, Eric Copeland, assumiu depois as despesas vocais e Sebastian Blanck as linhas do baixo. Os primeiros meses foram passados a gravar vários sete polegadas e a fazer pequenas digressões, até que Blanck abandona os Black Dice e é substituído por Aaron Warren.
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especiais
24/02/2009
é a pintura, estúpido!
Um quadro de Gustave Courbet (na foto) pode estar exposto no Museu d'Orsay, em Paris, mas não reproduzido num livro de pintura numa feira (do livro) de Braga. Esse parece ser o entendimento da PSP, que no domingo apreendeu cinco exemplares de uma obra sobre pintura com esta imagem na capa. Ora isto acontece pouquíssimos dias depois do Ministério Público proibir uma sátira ao computador Magalhães no Carnaval de Torres Vedras. Nos dois casos, o argumento usado foi a "pornografia". Neste último, o MP voltou atrás. No outro, a polícia desculpou-se com a agitação popular que a imagem terá provocado. Começa a irritar o estado securitário e puritano a que este Estado chegou.
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Esplendor na Relva
23/02/2009
Danica Patrick
Ainda não é certo mas, no próximo ano, podemos ter mulher na Fórmula 1.
Quando era miúdo, punha o despertador para horas adiantadas da madrugada para ver os primeiros Grandes Prémios da época, que eram sempre na Malásia ou no Japão, eu sei lá! Desinteressava-me ao longo da temporada mas as primeiras corridas eram sagradas. Depois voltava para a cama com a sensação de dever cumprido.
Tenho para mim que vou voltar a acompanhar aquilo com interesse.
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Esplendor na Relva
Black Lips - 200 Million Thousand
A morte recente de Lux Interior acabou com mais um dos poucos redutos de exuberância extrema em cima de um palco. Claro que os Black Lips não são nem nunca foram os Cramps. Menos ainda agora que reduziram bastante a descarga de excesso ao vivo. Mas importa lembrar que muito do nome dos Lips foi conseguido em concerto, com sessões de vómito, nudez, guitarras incendiadas e beijos trocados entre a banda, que, de resto, frequentemente fez do palco um urinol.
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discos
Buraka Som Sistema no El Mundo
Os Buraka Som Sistema são destaque esta segunda-feira no El Mundo. Na sua edição online, o jornal espanhol escreve, em título, "terramoto português com ritmo africano".
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Nota: É um prazer postar isto. Por todas as razões.
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notícias
22/02/2009
um americano em paris
Leio em título que "Elza Soares voltou a cantar para não enlouquecer". Eu, que não tenho especial talento para nada, não sei o que fazer para não voltar a enlouquecer. Por isso, mato horas a ouvir podcasts, a ler sobre as cidades do imperador mongol Kublai Kan nos relatos de Marco Polo, a comer chocolate para combater a depressão. Ainda arranjo tempo para inventar novos ódios. O mais recente é André Murraças, o rapaz do calendário da Radar. Não há paciência para aquilo!
E que se lixem os Óscares! Em noites assim, lembro-me sempre do belíssimo título do lendário Tiger Man: "Fuck Christmas, I got the blues". (link)
Ontem passou "Um Americano em Paris" na televisão. Aprendi a gostar de musicais e de Vincente Minnelli numa aula de cinema em que vi "Brigadoon":
Quanto aos Óscares, devo dizer que nunca vi um filme de Gus van Sant de que não tivesse gostado. Por isso, "Milk" ganha sempre. Nem que seja para mim:
E que se lixem os Óscares! Em noites assim, lembro-me sempre do belíssimo título do lendário Tiger Man: "Fuck Christmas, I got the blues". (link)
Ontem passou "Um Americano em Paris" na televisão. Aprendi a gostar de musicais e de Vincente Minnelli numa aula de cinema em que vi "Brigadoon":
Quanto aos Óscares, devo dizer que nunca vi um filme de Gus van Sant de que não tivesse gostado. Por isso, "Milk" ganha sempre. Nem que seja para mim:
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filmes
Dälek e as notas do subterrâneo
Começamos na Babilónia com Horace Andy e Ashley Beedle, depois Londres, Brooklyn, Zimbabwe e Peru. Paramos em Newark para conhecer o novo disco "Gutter Tactics" dos Dälek (na foto) mas rumamos logo até à Copacabana de Marcelo Camelo. Ainda Chicago de Andrew Bird, País de Gales e Nova Iorque. Vamos também conhecer o elo perdido entre Nairobi e a América profunda e, de novo, Brooklyn e depois Massachusetts. Vai ser a melhor edição de sempre do Coffee Breakz. Ou então, vai ser mais uma edição banal. Não percam!
01 Horace Andy & Ashley Beedle Babylon You Lose
02 Nitin Sawhney Daybreak (feat. Faheem Bazhaar)
03 Matt & Kim Daylight
04 Chiwoniso Matsotsi
05 Novalima Ruperta/Puede Ser
06 Dälek
6.1 A Collection of Miserable Thoughts Laced With Wit
6.2 Los Macheteros/Spear of a Nation
6.3 No Question
07 Marcelo Camelo Copacabana
08 Andrew Bird Fitz and the Dizzyspells
09 Threatmantics Big Man
10 Cymbals Eat Guitars Wind Phoenix
11 Extra Golden Anyango
12 Santogold Unstoppable (feat. Lil Wayne & Drake)
13 Shuttle Rotten Guts (feat. Cadence Weapon)
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emitido a 17 Fevereiro
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Rádio Zero
Lily Allen em nova polémica
Lily Allen pode vir a processar o tablóide britânico News of the World, por causa de uma alegada má tradução de declarações suas sobre o consumo de drogas.
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notícias
The Golden Filter editam single
O duo de electropop The Golden Filter acaba de lançar o single de estreia, "Solid Gold", através da Dummy. A edição, que é também o primeiro título da etiqueta, é um sete polegadas que inclui o single no lado A e o tema 'Favourite Things' no lado B.
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notícias
The Presidents of the USA no iPhone
Os Presidents of the United States of America acabam de lançar uma aplicação para iPhone que permite ouvir quatro discos da banda, raridades e canções ao vivo.
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notícias
Mira Calix - The Elephant in the Room: 3 Commissions
2008
Warp
O que fazem uma ópera, sons de rua e música de instalação no mesmo disco? Tiram um belo retrato sonoro da arte deste século.
O título é auto-explicativo mas não explica tudo: The Elephant in the Room: 3 Commissions reúne três trabalhos de Mira Calix comissariados por três entidades diferentes. Elephant and Castle foi composto para a 60ª edição do Aldeburgh Festival, no Reino Unido, e apresentado ao vivo em Junho de 2007. Memoryofamoment serviu de ingrediente à instalação “Faster Than Sound”, apresentada no Verão de 2008. E Dead Wedding, captado em Janeiro do ano passado, assinalou os quatro séculos do “Orfeo” de Monteverdi.
São assim três coisas distintas mas a sul-africana Chantal Passamonte (Mira Calix), a residir em Londres desde 2001, apresenta-as entrelaçadas umas nas outras. Ouvir este disco de uma ponta à outra é levar com sons captados na rua, excertos de ópera e música de laptop marado. Tudo isso é bom porque a nossa era é, na realidade, de contaminações infinitas. E, se nem todas as editoras (ou artistas) compreenderam as potencialidades deste Espaço Schengen na música, esse não é o caso da etiqueta Warp (ou de Mira Calix).
Com um passado que a liga geneticamente às sensibilidades de Colleen, Bibio ou Piano Magic, Passamonte começa por um “Roundabout” que faz os sons urbanos (essencialmente buzinas de carros) dialogar com um violoncelo, dois violinos e uma viola. De Elephant and Castle ainda se ouve, mais adiante, um incrível “Bowling4strings” (com sons de bowling colhidos num salão de jogos e tratados pelo jogo de cordas) e o despojamento de um violoncelo em “Laine” (estes 10 minutos chegam a ser deliciosamente aflitivos).
À segunda faixa descobre-se o primeiro de quatro excertos de ópera, com Monteverdi a servir de musa: “Wedding List” é uma aguarela pintada com clarinete, viola e violoncelo e salpicada pelos apontamentos de voz de Amy Freston, em registo operático. Depois, em “The Cord Is Cut” (cena 6) e “Death Below” (cena 11) sente-se o pulsar da narrativa, sobretudo na passagem da morte, com coros fantasmagóricos e arrastados a trazer a tragédia grega para o século XXI. Mas o clímax atinge-se em “A Ribbon Forgotten”, que também fecha o disco, ao longo dos seus 13 minutos de puro delírio (e deleite) em ópera para laptop.
“Memoryofamomentcertain” e, logo a seguir, “Memoryofamomentlost”, aqui atirados para o miolo do disco, suspendem por momentos a realidade criada na primeira parte e criam uma outra, temperada tão-só por um violoncelo. Serve de intervalo na ópera e nos sons lá de fora, mas não há dúvida que teve certamente melhor uso na instalação para que foi escrita. Numa avaliação geral, apetece dizer que há já muito tempo que não se ouvia um disco a misturar linguagens eruditas e colagens sonoras com esta simplicidade e leveza.
http://www.bodyspace.net/album.php?album_id=1506
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discos
Ex-NIN em campanha insólita
O antigo baterista dos Nine Inch Nails, Josh Freese (na foto), prepara-se para lançar o segundo álbum a solo com uma campanha, no mínimo, insólita.
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notícias
Blog da Semana: Kraak FM
No ar desde Maio de 2005, o Kraak FM é um blog com nome de rádio, criado por Carlos Machado, um «matemático de carreira, mestre em engenharia de sistemas» e «há 20 anos a trabalhar como engenheiro ferroviário». Ao Cotonete, o autor explica que o blog tenta «ocupar algum espaço na web, no campo da música alternativa, frequentemente chamada indie».
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Blog da Semana
21/02/2009
no metro
Era sexta-feira na hora de ponta da manhã. O metro percorria as estações entre Entrecampos e o Marquês de Pombal. E, sem que coisa alguma o activasse (além talvez de mais uma noite de sonsa insónia), o meu cérebro começou a produzir este diálogo:
- Não, não, agora a sério, vamos é dinamitar a linha de fronteira com Espanha e deixar afundar este rectângulo de esterco...
- Mas o esterco não afunda!
- Humm, pois... Então, deixamo-lo à deriva no Atlântico!
- E depois?
- Bom, depois talvez um dia ele dê à costa na Venezuela.
- Porquê a Venezuela?
- Ora, porque...
A vida chega-nos e interrompe o sonho. E o sono também.
Quando Beth Orton lançou "Comfort of Strangers", identifiquei-me logo com o título. Sempre senti um enorme conforto entre estranhos. As caras dos desconhecidos têm uma familiaridade que me sossega. Olho para as pessoas, imagino vidas cheias, outras tão vazias que impressiona. Os olhos dos estranhos dizem muito mas escondem ainda mais.
E está quase a chegar:
- Não, não, agora a sério, vamos é dinamitar a linha de fronteira com Espanha e deixar afundar este rectângulo de esterco...
- Mas o esterco não afunda!
- Humm, pois... Então, deixamo-lo à deriva no Atlântico!
- E depois?
- Bom, depois talvez um dia ele dê à costa na Venezuela.
- Porquê a Venezuela?
- Ora, porque...
A vida chega-nos e interrompe o sonho. E o sono também.
Quando Beth Orton lançou "Comfort of Strangers", identifiquei-me logo com o título. Sempre senti um enorme conforto entre estranhos. As caras dos desconhecidos têm uma familiaridade que me sossega. Olho para as pessoas, imagino vidas cheias, outras tão vazias que impressiona. Os olhos dos estranhos dizem muito mas escondem ainda mais.
E está quase a chegar:
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Esplendor na Relva
Little Boots com disco quase pronto
Little Boots está na fase final de gravação do seu álbum de estreia. A informação é avançada pela mailing list da artista, que adianta ainda que esta quarta-feira foi o último dia de trabalho em Brighton, no Reino Unido.
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notícias
Aquaparque ao vivo em Março
Os Aquaparque vão apresentar o disco de estreia "É Isso Aí" em três cidades no próximo mês. No dia 6 de Março, tocam no Passos Manuel, no Porto. No dia seguinte, é a vez do Salão Brazil, em Coimbra, e no dia 20, o Alla Scala, em Braga.
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notícias
Soulfly demolidores no Coliseu
Quando uma banda faz as outras duas perderem, por comparação, como os meninos de coro perdem para o rufia do liceu, temos Soulfly no Coliseu. Numa noite de segunda-feira que foi uma barrigada de metal, os portugueses W.A.K.O. e depois os norte-americanos Incite foram mais do que competentes nas respectivas actuações. Mas, após o aquecimento, tínhamos um portento chamado Max Cavalera com o seu thrash metal vindo dos desertos do Arizona, via Brasil.
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Foto: Vanessa Krithinas
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concertos
Nine Inch Nails perto do fim
A digressão deste ano dos Nine Inch Nails pode vir a ser a última. O anúncio foi feito pelo líder da banda Trent Reznor, em mensagem no site oficial dos NIN.
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notícias
20/02/2009
Noiserv ao vivo este fim-de-semana
O projecto nacional Noiserv apresenta-se ao vivo esta sexta-feira, no Vale Pandora, em Vale de Cambra, a partir das nove da noite. Para o fim-de-semana estão agendadas ainda duas datas em Braga: amanhã e à mesma hora, é a vez de tocar no Festival Sonopólis e, no domingo às cinco da tarde, na Fnac.
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notícias
M. Ward - Never Had Nobody Like You
Matt Ward (M. Ward nos discos) tem o bom gosto de andar sempre rodeado de mulheres bonitas. Em 2004, juntou-se na guitarra a Cat Power para gravar 'Willie Deadwilder', uma canção com 18 minutos que acompanha a edição do DVD "Speaking For Trees". Dois anos depois, lançava "Post-War" onde aparecia a deslumbrante Neko Case. E já no ano passado, lançou "Volume One", com a actriz Zooey Deschanel, como She & Him.
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Cotonete Play
N.A.S.A. - The Spirit of Apollo
N.A.S.A. é daqueles nomes complicados de googlar: com ou sem os quatro pontinhos, os primeiros resultados pertencem sempre à agência espacial norte-americana. Mas o que aqui se escreve é sobre um supergrupo de hip-hop, idealizado por Squeak E. Clean e pelo DJ brasileiro Zegon, e com um batalhão de convidados que incluem os suspeitos do costume, M.I.A., Kanye West e Spank Rock, e outros altamente insuspeitos como David Byrne, Tom Waits e Lykke Li.
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discos
Natty - Man Like I
Nascido em Londres e com raízes na Jamaica, Natty faz um reggae desbotado, muito conforme com um espírito festivaleiro, que nunca chega, no entanto, a impressionar. "Man Like I" é um primeiro disco carregado de canções solarengas que apetece ouvir num final de tarde de Verão. Mas, ao contrário de Marley, de Lee Perry ou, de forma distinta, de Peter Tosh, que convocam todos os mandamentos da causa rastafari a cada audição, Natty não vai além de um reggae chique.
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discos
apontamentos
A gargalhada solta de uma mulher é das melhores músicas do mundo.
......
Numa altura em que a sociedade portuguesa até já aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, se não ainda como algo normal, pelo menos como algo inevitável e essencialmente uma questão de justiça,
quando, esmagados pela marcha da humanidade no sentido da tolerância, até os mais conservadores vão encolhendo os ombros,
é sempre interessante perceber que é a Igreja a produzir enunciados como este
"a homossexualidade não é normal"
e este
"[os homossexuais] não podem providenciar a formação das crianças".
Acho sempre fascinante quando os padres, cardeais e outros beatos que tais se põem a falar de sexo, educação de crianças e outros assuntos de que se julgam profundos sabedores.
Pois bem, a humanidade, por muito podre que esteja, vai seguindo o seu caminho em direcção a uma maior e mais saudável inclusão das diferenças. É pena que alguns não estejam interessados em acompanhá-la.
......
Se Kurt Cobain fosse vivo, faria hoje 42 anos!
......
Numa altura em que a sociedade portuguesa até já aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, se não ainda como algo normal, pelo menos como algo inevitável e essencialmente uma questão de justiça,
quando, esmagados pela marcha da humanidade no sentido da tolerância, até os mais conservadores vão encolhendo os ombros,
é sempre interessante perceber que é a Igreja a produzir enunciados como este
"a homossexualidade não é normal"
e este
"[os homossexuais] não podem providenciar a formação das crianças".
Acho sempre fascinante quando os padres, cardeais e outros beatos que tais se põem a falar de sexo, educação de crianças e outros assuntos de que se julgam profundos sabedores.
Pois bem, a humanidade, por muito podre que esteja, vai seguindo o seu caminho em direcção a uma maior e mais saudável inclusão das diferenças. É pena que alguns não estejam interessados em acompanhá-la.
......
Se Kurt Cobain fosse vivo, faria hoje 42 anos!
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Esplendor na Relva
15/02/2009
italo calvino
Estou a ler "As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino. Vi o livro na quinta-feira no primeiro quiosque que visito de manhã, antes de apanhar o comboio. Estava a um euro (sim, um euro!) mais o preço da revista. Comprei e recuei até ao meu nono ano, quando tinha 13, 14 aninhos. Havia um dia da semana em que fazíamos o clube de leitura nas aulas de Português. Andava por lá um título, "Se numa Noite de Inverno um Viajante", que me intrigava por duas razões: 1) o título prometia muito mas nem sequer tinha verbo, 2) o livro pertencia à Ana, uma miúda gira e enigmática. Num desses dias, peguei no livro e levei-o para casa para ler. Aí estava uma óptima desculpa para meter conversa com ela. Acho que nem cheguei a meio e desconfio que percebi muito pouco da escrita deste italiano nascido em Cuba. Eu e a Ana ficámos amigos, claro. Mas nada mais do que isso. Sempre fui muito tímido.
Um dia, depois de uma visita de estudo, fiquei a saber por um colega nosso que a Ana não tinha pai. Havia outra mulher além da mãe, uma traição ou uma série delas e, numa bela manhã, o irmão da Ana foi encontrá-lo na garagem, dentro do carro. Morto. Tinha-se enforcado. No Dia do Pai do ano lectivo em que nos conhecemos, a Ana disse que queria falar comigo. Eu fui falar com ela, temendo que o assunto fosse o pai. Era mesmo. Demos muitas voltas ao campo de futebol. Ela falou, falou, torcia as mãos enquanto falava. E eu ao lado dela, chocado e sem saber o que dizer. Pergunto-me o que andará ela a fazer agora. Gostávamos os dois de Nirvana, muito! As minhas memórias da adolescência são quase excessivamente trágicas.
Um dia, depois de uma visita de estudo, fiquei a saber por um colega nosso que a Ana não tinha pai. Havia outra mulher além da mãe, uma traição ou uma série delas e, numa bela manhã, o irmão da Ana foi encontrá-lo na garagem, dentro do carro. Morto. Tinha-se enforcado. No Dia do Pai do ano lectivo em que nos conhecemos, a Ana disse que queria falar comigo. Eu fui falar com ela, temendo que o assunto fosse o pai. Era mesmo. Demos muitas voltas ao campo de futebol. Ela falou, falou, torcia as mãos enquanto falava. E eu ao lado dela, chocado e sem saber o que dizer. Pergunto-me o que andará ela a fazer agora. Gostávamos os dois de Nirvana, muito! As minhas memórias da adolescência são quase excessivamente trágicas.
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livros
The shuffle sessions
Nunca devemos desvalorizar as potencialidades do modo aleatório no nosso leitor de músicas portátil. Esse é o primeiro mandamento da primeira das sessões do Coffee Breakz em modo "shuffle". Foi isto que nos tocou nos ouvidos numa sexta-feira em que Lisboa estava debaixo de uma chuva miudinha – e nós com ela: Portishead, My Bloody Valentine, The Roots, Louis Armstrong e Jeff Buckley. E mais.
01 Cat Power No Matter
02 The Smiths What Difference Does It Make? (Peel Session version)
03 Portishead Small
04 Nneka Mind vs. Heart
05 Tricky Slow
06 The Roots Datskat
07 Louis Armstrong Yellow Dog Blues
08 My Bloody Valentine Sometimes
09 Guided by Voices The Official Ironmen Rally Song
10 Buraka Som Sistema Kurum
11 Genius/GZA Labels
12 Wu-Tang Clan C.R.E.A.M.
13 Jeff Buckley Parchman Farm Blues
14 Thievery Corporation Sweet Tides
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emitido a 10 Fevereiro
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Rádio Zero
Matt & Kim - Daylight
Está encontrado o primeiro parzinho deste ano: Matt & Kim. Pouco interessa se o par é romântico ou não. 2008 esteve dominado por três casais na música: She & Him, Beach House e High Places. Matt Johnson (na voz e nas teclas) e Kim Schifino (na bateria e também na voz) partilham com estes últimos o "distrito" de Brooklyn como terra natal. A geografia não engana - de há uns anos para cá, aqueles 251 quilómetros quadrados têm sido o maior viveiro do novo som da frente.
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Cotonete Play
13/02/2009
de madrid com amor
Saímos do metro juntos mas só reparei em ti quando já subíamos as escadas para o Marquês. Lá fora, estava um bonito dia de sol. Olhei para ti, pareceste-me logo uma daquelas miúdas francesas que fazem da rua passerele. (Não concordo nada com o Tom Waits quando ele canta que não há raparigas bonitas em França). Mas parecias discreta, muito discreta. Desviei logo o olhar, tive medo de gastar a beleza do teu rosto. Por isso, quando parámos no sinal, antes de atravessar, e tu estavas ligeiramente atrás de mim, aproveitei para ver o teu reflexo nos carros que passavam. Ficavas cortada pela cintura no sítio onde o vidro acabava. Hoje foi a primeira vez que te vi. Talvez nunca mais te volte a ver. Mas isso é totalmente irrelevante porque, durante os próximos dias, o meu coração vai palpitar por esta menina:
Russian Red é Lourdes Hernandez, vive em Madrid e a música que faz é bonita como ela! Canta este fim-de-semana no Festival para Gente Sentada, em Santa Maria da Feira. Mas eu vou ficar confortavelmente sentado em Lisboa. Não convém conhecermos logo as nossas sereias.
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Como o tigre Hobbes diz numa tira do Calvin, Deus tem um estranho sentido de humor. Há poucas semanas, um avião foi forçado a aterrar em pleno rio Hudson, na bela Nova Iorque, e todos sobreviveram. Agora, cai um outro avião, já não na cidade mas ainda no estado, e morrem todos, incluindo um desgraçado que estava em terra. Requinte de malvadez e ironia: entre os passageiros estava uma viúva do 11 de Setembro.
Russian Red é Lourdes Hernandez, vive em Madrid e a música que faz é bonita como ela! Canta este fim-de-semana no Festival para Gente Sentada, em Santa Maria da Feira. Mas eu vou ficar confortavelmente sentado em Lisboa. Não convém conhecermos logo as nossas sereias.
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Como o tigre Hobbes diz numa tira do Calvin, Deus tem um estranho sentido de humor. Há poucas semanas, um avião foi forçado a aterrar em pleno rio Hudson, na bela Nova Iorque, e todos sobreviveram. Agora, cai um outro avião, já não na cidade mas ainda no estado, e morrem todos, incluindo um desgraçado que estava em terra. Requinte de malvadez e ironia: entre os passageiros estava uma viúva do 11 de Setembro.
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12/02/2009
Dälek - Gutter Tactics
Era noite no final da Primavera de 2005 quando os Dälek subiram à Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, para uma actuação ruidosa e demolidora. O duo (às vezes, trio) de hip-hop progressivo, natural de Newark, no estado norte-americano de New Jersey, tinha gravado o essencial "Absence" um ano antes. O disco é um verdadeiro manual de instruções para compreender um som que mistura a virilidade do hip-hop, a agressividade do metal, a complexidade do krautrock e a nebulosa do shoegazing.
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discos
Theophilus London em Portugal
Theophilus London vai estrear-se ao vivo em Portugal no próximo dia 24 de Abril no Musicbox, em Lisboa. O Cotonete é "media partner" do evento e pode adiantar que está a ser negociada uma segunda data, que deve acontecer no Porto.
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notícias
a foto da semana
é de M.I.A. nos Grammys no próprio dia em que o filho devia nascer. Ela cantou, teve contracções mas saiu de lá ainda grávida e sem grafonola dourada. Foi pena!
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Esplendor na Relva
a leste do paraíso
Um filme maravilhoso e cheio de luz. Como tudo o que vi de Elia Kazan. Acabei de o rever. O James Dean foi um dos meus primeiros actores preferidos. Lembro-me de ver os filmes dele há muitos anos, quando a RTP2 passava cinco filmes de segunda a sexta-feira (a rubrica chamava-se "Cinco Noites, Cinco Filmes"). Bons tempos. Um dos planos que eu mais gosto e que foi um gozo recordar é o de James Dean deitado na plantação de feijões para os ver crescer. Genial!
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Esplendor na Relva
11/02/2009
o salazar
O Miguel Esteves Cardoso influenciou pelo menos duas gerações de críticos, os contemporâneos da sua escrita e os que, por correias de transmissão, posteriormente conheceram o seu trabalho. Há coisa de um mês o MEC voltou a ter um espaço regular na imprensa, ainda para mais diário e no Público. Confesso que, por diversas vezes, me questionei sobre a relevância deste regresso. O que ia lendo (e li-o quase todos os dias) era tão sem graça que quase desbaratava anos passados a galgar barreiras com uma escrita destemida. Mas esta terça-feira voltei a ler o MEC de antigamente. Transcrevo três dos cinco parágrafos:
"Folgo em ver que Salazar - o velho estupor que há pouco tempo foi eleito o mais sexy de todas as figuras históricas portuguesas - já entrou no carrossel. Na SIC já se revelou que afinal não caiu na cadeira. Foi na banheira. Lá se foram as metáforas todas da cadeira - ou mesmo da tripeça - do poder.
Faz sentido. As casas de banho são autênticos matadouros. Os acidentes de viação são um pingo de duche comparados com os perigos escorregadios duma casa de banho. Ou das casas em geral. As nossas casas, pode dizer-se, são um meio de controlo populacional que não desejaríamos às ratazanas do Convento de Mafra.
Salazar era afinal um galã das dúzias - não havia estrangeira ou doméstica que lhe escapasse. Entre amigos - há-de saber-se - não só não era nada facho, como tinha simpatia pelos sistemas políticos dos países escandinavos. Ria-se muito e, pela calada, viajava de jacto pelo mundo inteiro, onde amealhava conquistas e manjava conquilhas com um à-vontade que fariam James Bond parecer um matarruano."
E feliz pela boa forma escrita do MEC, eu digo que me enoja o revisionismo saloio desta gente. Qualquer dia ainda se põem a dizer que o Salazar tinha coração! Há um entendimento psicológico (sociológico ou antropológico) que defende a bondade de se humanizar os nossos ditadores. Consigo ver o fundamento disto: afinal, é bom saber que é uma nesga que separa o recto do abjecto. Mas há uma grande diferença entre reconhecer humanidade numa criatura desprezível e preparar o caminho para o seu endeusamento. Deus nos livre! Só mais uma palavra para os fracos de memória: Tarrafal.
"Folgo em ver que Salazar - o velho estupor que há pouco tempo foi eleito o mais sexy de todas as figuras históricas portuguesas - já entrou no carrossel. Na SIC já se revelou que afinal não caiu na cadeira. Foi na banheira. Lá se foram as metáforas todas da cadeira - ou mesmo da tripeça - do poder.
Faz sentido. As casas de banho são autênticos matadouros. Os acidentes de viação são um pingo de duche comparados com os perigos escorregadios duma casa de banho. Ou das casas em geral. As nossas casas, pode dizer-se, são um meio de controlo populacional que não desejaríamos às ratazanas do Convento de Mafra.
Salazar era afinal um galã das dúzias - não havia estrangeira ou doméstica que lhe escapasse. Entre amigos - há-de saber-se - não só não era nada facho, como tinha simpatia pelos sistemas políticos dos países escandinavos. Ria-se muito e, pela calada, viajava de jacto pelo mundo inteiro, onde amealhava conquistas e manjava conquilhas com um à-vontade que fariam James Bond parecer um matarruano."
E feliz pela boa forma escrita do MEC, eu digo que me enoja o revisionismo saloio desta gente. Qualquer dia ainda se põem a dizer que o Salazar tinha coração! Há um entendimento psicológico (sociológico ou antropológico) que defende a bondade de se humanizar os nossos ditadores. Consigo ver o fundamento disto: afinal, é bom saber que é uma nesga que separa o recto do abjecto. Mas há uma grande diferença entre reconhecer humanidade numa criatura desprezível e preparar o caminho para o seu endeusamento. Deus nos livre! Só mais uma palavra para os fracos de memória: Tarrafal.
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Esplendor na Relva
Morrissey - Years of Refusal
O rapaz que usava gladíolos no bolso de trás das calças e se movia como um pavão é agora um homem, prestes a abandonar a ternura dos 40. Mas nem por isso deixa de aliar genialidade a uma ligeira perversão, já sem a militância dos Smiths, ainda com imensa graça. No interior de 'I'm Throwing My Arms Around Paris', o primeiro single deste "Years of Refusal", Morrissey aparece em nu quase integral, apenas com um disco de vinil a cobrir a genitália.
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discos
A Filial lança disco no Brasil
O quinteto carioca A Filial prepara-se para lançar "$1,99" no Brasil, depois de uma bem recebida edição nos Estados Unidos, em Dezembro passado. Em conversa com o Cotonete, Edu Lopes explicou que o processo de gravação do terceiro disco, que mereceu destaque no jornal New York Times e na rádio pública NPR, foi «um pouco diferente dos outros».
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notícias
08/02/2009
a grande família da humanidade
Lisboa é uma cidade romântica só porque existe. Existe, sabe que existe assim e, para sermos justos, não faz rigorosamente nada para continuar a merecer esse estatuto. É esse o lugar mítico que reservamos para as deusas, para as mulheres bonitas. As mulheres bonitas não precisam de ser simpáticas. Mas, quando o são, levam-nos a tocar o céu. Lisboa é um pequeno segredo, sussurrado aos ouvidos do mundo. É referida no início do Casablanca, o filme mais romântico de sempre, naquela voz de narrador de rádio como só o cinema clássico soube dar-nos. Às vezes, pergunto-me por que ando por aqui. Por que volto sempre depois de deixar Lisboa pelas costas. Cheguei recentemente a uma belíssima conclusão: volto a esta cidade e a este país porque gosto de lixar a cabeça destas pessoas. De me fazer passar por homossexual quando detecto traços grossos de homofobia do outro lado. De me fazer passar por muçulmano quando alguém concorda com o infeliz conselho sentimental do cardeal-patriarca. De inventar uma família de imigrantes quando alguém culpa os estrangeiros pelos males do mundo. Gosto de malhar nesta gente lusa - "malhar", esse termo cunhado na política recente por essa besta de ministro Augusto Santos Silva.
Ontem foi noite de juntar a grande família da humanidade. De deambular por Lisboa à noite e acabar num bar do Bairro Alto com uma legião de espanhóis. Nos últimos anos, desenvolvi a bonita capacidade de começar a falar com a pessoa que se senta ao meu lado. Ontem a Margarita foi a vítima. Falámos muito, ela em castelhano, eu em português. Falou mais ela, eu não falo muito. Mas dei por mim a dizer coisas interessantes. Acontece muito quando me ponho a falar. Acontece mais o contrário. No regresso a Alvalade, onde tinha ficado o carro, a inevitável conversa com o taxista. Ainda uma série de abraços de uma miúda querida, abraços que já dizem tudo sem palavras. O último regresso a casa foi já sozinho e só mesmo quando saí do carro, às quatro e tal da madrugada, é que percebi que Lisboa estava debaixo de uma lua imensa.
Ontem foi noite de juntar a grande família da humanidade. De deambular por Lisboa à noite e acabar num bar do Bairro Alto com uma legião de espanhóis. Nos últimos anos, desenvolvi a bonita capacidade de começar a falar com a pessoa que se senta ao meu lado. Ontem a Margarita foi a vítima. Falámos muito, ela em castelhano, eu em português. Falou mais ela, eu não falo muito. Mas dei por mim a dizer coisas interessantes. Acontece muito quando me ponho a falar. Acontece mais o contrário. No regresso a Alvalade, onde tinha ficado o carro, a inevitável conversa com o taxista. Ainda uma série de abraços de uma miúda querida, abraços que já dizem tudo sem palavras. O último regresso a casa foi já sozinho e só mesmo quando saí do carro, às quatro e tal da madrugada, é que percebi que Lisboa estava debaixo de uma lua imensa.
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Esplendor na Relva
O trânsito dub na Babilónia
Munido de um minúsculo transístor e lanternas, o Coffee Breakz parte em aventura dub pelas estradas da Babilónia. É o Dub Traffik Control a tomar de assalto as ondas da rádio. E ainda há tempo para sintonizar os Mogwai em onda média, na semana em que voltam a Lisboa.
01 Dub Traffik Control
1.1 I'll Dub You There
1.2 Session 'n Sway
1.3 Bring the Dub
1.4 Snake Charmer
1.5 Keep on Skanking
1.6 Revolutionary Agriculture
1.7 Crazy Dub
1.8 Slick Chick
1.9 Dub Traffik Jam
1.10 Soul Jah (Dr. Bomb Turbank rework)
1.11 Bless
1.12 Lady Chaka Mash-Op
1.13 Too Late to Pass the Time
1.14 Maw-e-Wah
1.15 Now Dis One
1.16 Blabbermouth
1.17 Banger Dub
1.18 Remove Ya Bag-a-Wire
1.19 Jah Children
1.20 King Buddzy
02 Mogwai Xmas Steps
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emitido a 03 Fevereiro
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Rádio Zero
07/02/2009
Telepathe - Lights Go Down
A pop disposta em várias camadas de electrónica, como uma lasanha bem servida, não é novidade. Também não é um dado novo que em Brooklyn mora uma das células mais excitantes da música actual, em vários géneros. Sendo assim, como se explica que as Telepathe, que cumprem essas duas premissas (fazem pop electrizante e são de Brooklyn), estejam a ser recebidas como uma das mais frescas propostas para 2009? Simples, não se explica. Ouve-se, gosta-se e pronto.
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Cotonete Play
One Hundred Steps - Human Clouds
Talvez seja do peixinho apanhado nas águas do rio Sado. A verdade é que as gentes de Setúbal encontram sempre renovadas formas de superação. Ou não tivesse o Vitória da cidade "parado" o Benfica na final da Taça de Portugal, em 2005, mesmo com salários em atraso. Já se conhecia a agitada cena rock no Barreiro, já se conhecia a forte militância hip-hop da Arrentela. Junte-se agora uma cada vez mais poderosa cena de metal hardcore em Setúbal.
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discos
Death Cab For Cutie no iPhone
Os Death Cab For Cutie (na foto) acabam de lançar uma aplicação para iPhone, com notícias e outras informações sobre a banda. A aplicação, exclusiva para o telefone da Apple, permite consultar notícias, a discografia completa, além de fotos e vídeos da banda norte-americana.
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notícias
Blog da Semana: Depeche Mode Fanclub Portugal
Como qualquer fenómeno que existia no papel, os clubes de fãs também migraram para a Internet. Aí, cresceram e assumiram proporções verdadeiramente globais, enquanto outros são já pensados apenas para o ciberespaço. O blog desta semana cabe na primeira categoria. Começou por ser uma fanzine de papel, editada quatro vezes por ano, desde Maio de 1995, data da fundação do clube de fãs dos Depeche Mode.
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Blog da Semana
05/02/2009
04/02/2009
badly drawn boy
Era madrugada de Verão. E era absolutamente proibido dormir. O carro ia cheio com amigos da faculdade e amigos de amigos da faculdade. Tínhamos acabado de ver um Beck endiabrado como sempre, muito bom como sempre! Foi talvez o último Sudoeste a valer. Depois aquilo ficou enxameado de adolescentes e respectivas moranguices. Foi também o primeiro e último para mim. Nessa noite (acho que foi nessa noite) apertei a mão da Beth Gibbons, vi uma Beth Orton rigorosa e gloriosamente ébria em cima do palco.
E espreitei este tipo, ainda em pleno dia. Odeio concertos de dia! Mas, como todos sabem, o Badly Drawn Boy tem os gorros mais fixes da música. E esta canção tem muita, muita graça:
Tenho um bocadinho o complexo do rapaz mal desenhado.
Nesta música, o Badly Drawn Boy, para além de ser casado com a Rainha de Inglaterra e de ter a Madonna a seus pés, lembra-se de não ter feito nada na noite em que o Sinatra, o Jeff Buckley, o Kurt Cobain e o John Lennon morreram.
(Todos bonitos, todos mortos.)
Voltando ao litoral alentejano, era absolutamente proibido dormir no regresso a Lisboa porque a madrugada já ia bem alta. Porque estávamos todos cansados e era preciso manter o condutor acordado. Por solidariedade. Sei lá, por tudo isso e mais! Era mesmo necessário ficar desperto.
Adormeci pouco depois da primeira curva...
E espreitei este tipo, ainda em pleno dia. Odeio concertos de dia! Mas, como todos sabem, o Badly Drawn Boy tem os gorros mais fixes da música. E esta canção tem muita, muita graça:
Tenho um bocadinho o complexo do rapaz mal desenhado.
Nesta música, o Badly Drawn Boy, para além de ser casado com a Rainha de Inglaterra e de ter a Madonna a seus pés, lembra-se de não ter feito nada na noite em que o Sinatra, o Jeff Buckley, o Kurt Cobain e o John Lennon morreram.
(Todos bonitos, todos mortos.)
Voltando ao litoral alentejano, era absolutamente proibido dormir no regresso a Lisboa porque a madrugada já ia bem alta. Porque estávamos todos cansados e era preciso manter o condutor acordado. Por solidariedade. Sei lá, por tudo isso e mais! Era mesmo necessário ficar desperto.
Adormeci pouco depois da primeira curva...
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Esplendor na Relva
03/02/2009
verão que não vale a pena
Se eu gritar, estou quase certo de que ninguém me ouve. Realmente. Porque eu não grito. Nem choro. Mas queixo-me muito. Estou sempre a queixar-me. Estou um bocado farto de me queixar e de estar farto. De me queixar. Nunca mais chega o Verão. Devia era migrar para o Hemisfério Sul quando é Inverno no Norte. E o contrário. Sempre com sol. Com esplanadas e música e sumos de fruta. Sem açúcar. E gelados às 11 e meia da noite. E viagens de carro com a janela toda aberta e o bracinho apoiado. Na janela. Sinto-me como um recém-nascido nos primeiros minutos de vida. "Então foi para isto que me tiraram dali?" Não consigo disfarçar a desilusão. E os filmes do Woody Allen que não ajudam. Estão quase a tornar-se irrelevantes. E não é disso que todos fugimos, da irrelevância? Mas 2009 vai ser bom. Vai ser. Bom. Não sei. Sou feliz. Só não estou.
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Esplendor na Relva
Glasvegas - Glasvegas
Da recente fornada de bandas a irromper de solo britânico, os Glasvegas são talvez a mais esquecida mas também a mais consequente. O quarteto de Glasgow (que junta no nome a cidade natal e a capital do jogo, Las Vegas) tem o melhor da pop sintetizada dos Ting Tings e evita o pior da pop inofensiva dos Script. Nesta era em que o revivalismo é o novo chique, os Glasvegas tomam a poção mágica do rockabilly de 50 e deixam-se inebriar pelos vapores do shoegazing de finais de 80.
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discos
01/02/2009
noites em branco
Odeio dormir sozinho. Quem me conhece e a alguns dos meus vícios diários talvez nem desconfie mas é verdade. O facto de ter dormido sozinho a esmagadora parte da minha vida devia, mas não serve de grande consolo. Serve até mais de desconsolo, para dizer a verdade. Como dizia, os meus vícios do quotidiano não fariam prever tal atitude perante o sono. Sou um individualista, como já muitos me acusaram. Reconheço, é verdade. Mas se soubesses como cansa ser assim! Todos os dias. Não funciono sem uma chávena de café e um jornal para ler. O barulho das luzes e da publicidade e das televisões do metro e do rádio do comboio obriga-me a procurar refúgio no meu barulho, na minha música e a subtrair-me do mundo, como já meio mundo faz. Não resta portanto muito mundo por aí. Mas à noite, quando encontro os lençóis frios e sós, invento sempre mais um disco para ouvir, um filme para rever ou um post imbecil para escrever. Sou patético. Mas continuo a sorrir. Também porque sorrio.
I can get along without you very well
except sometimes
I can get along without you very well
except sometimes
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Esplendor na Relva
Animal Collective e a toca do lobo
Em mais uma edição atípica, o Coffee Breakz traz à antena uma mix alinhada pelos Animal Collective, que inclui passagens por J. Dilla, Syd Barrett, Arthur Russell e Spiritualized. Antes, vamos sentar-nos à lareira com M. Ward, Julie Doiron e David Byrne. Depois, fazemos café e bolachas para a menina Marissa Nadler e essa coisa estranhíssima que dá pelo nome de I.U.D., um cruzamento entre Gang Gang Dance e Growing.
01 Julie Doiron Consolation Prize
02 M. Ward Never Had Nobody Like You
03 David Byrne and Dirty Projectors Knotty Pine
04 Animal Collective mix (by Josh Deacon)
05 Marissa Nadler River of Dirt
06 Handsome Furs I'm Confused
07 I.U.D. Daddy
08 Peter Bjorn and John Lay It Down (The Golden Filter remix)
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emitido a 27 Janeiro
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Rádio Zero
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