22/02/2009
Mira Calix - The Elephant in the Room: 3 Commissions
2008
Warp
O que fazem uma ópera, sons de rua e música de instalação no mesmo disco? Tiram um belo retrato sonoro da arte deste século.
O título é auto-explicativo mas não explica tudo: The Elephant in the Room: 3 Commissions reúne três trabalhos de Mira Calix comissariados por três entidades diferentes. Elephant and Castle foi composto para a 60ª edição do Aldeburgh Festival, no Reino Unido, e apresentado ao vivo em Junho de 2007. Memoryofamoment serviu de ingrediente à instalação “Faster Than Sound”, apresentada no Verão de 2008. E Dead Wedding, captado em Janeiro do ano passado, assinalou os quatro séculos do “Orfeo” de Monteverdi.
São assim três coisas distintas mas a sul-africana Chantal Passamonte (Mira Calix), a residir em Londres desde 2001, apresenta-as entrelaçadas umas nas outras. Ouvir este disco de uma ponta à outra é levar com sons captados na rua, excertos de ópera e música de laptop marado. Tudo isso é bom porque a nossa era é, na realidade, de contaminações infinitas. E, se nem todas as editoras (ou artistas) compreenderam as potencialidades deste Espaço Schengen na música, esse não é o caso da etiqueta Warp (ou de Mira Calix).
Com um passado que a liga geneticamente às sensibilidades de Colleen, Bibio ou Piano Magic, Passamonte começa por um “Roundabout” que faz os sons urbanos (essencialmente buzinas de carros) dialogar com um violoncelo, dois violinos e uma viola. De Elephant and Castle ainda se ouve, mais adiante, um incrível “Bowling4strings” (com sons de bowling colhidos num salão de jogos e tratados pelo jogo de cordas) e o despojamento de um violoncelo em “Laine” (estes 10 minutos chegam a ser deliciosamente aflitivos).
À segunda faixa descobre-se o primeiro de quatro excertos de ópera, com Monteverdi a servir de musa: “Wedding List” é uma aguarela pintada com clarinete, viola e violoncelo e salpicada pelos apontamentos de voz de Amy Freston, em registo operático. Depois, em “The Cord Is Cut” (cena 6) e “Death Below” (cena 11) sente-se o pulsar da narrativa, sobretudo na passagem da morte, com coros fantasmagóricos e arrastados a trazer a tragédia grega para o século XXI. Mas o clímax atinge-se em “A Ribbon Forgotten”, que também fecha o disco, ao longo dos seus 13 minutos de puro delírio (e deleite) em ópera para laptop.
“Memoryofamomentcertain” e, logo a seguir, “Memoryofamomentlost”, aqui atirados para o miolo do disco, suspendem por momentos a realidade criada na primeira parte e criam uma outra, temperada tão-só por um violoncelo. Serve de intervalo na ópera e nos sons lá de fora, mas não há dúvida que teve certamente melhor uso na instalação para que foi escrita. Numa avaliação geral, apetece dizer que há já muito tempo que não se ouvia um disco a misturar linguagens eruditas e colagens sonoras com esta simplicidade e leveza.
http://www.bodyspace.net/album.php?album_id=1506
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