Estou a ler "As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino. Vi o livro na quinta-feira no primeiro quiosque que visito de manhã, antes de apanhar o comboio. Estava a um euro (sim, um euro!) mais o preço da revista. Comprei e recuei até ao meu nono ano, quando tinha 13, 14 aninhos. Havia um dia da semana em que fazíamos o clube de leitura nas aulas de Português. Andava por lá um título, "Se numa Noite de Inverno um Viajante", que me intrigava por duas razões: 1) o título prometia muito mas nem sequer tinha verbo, 2) o livro pertencia à Ana, uma miúda gira e enigmática. Num desses dias, peguei no livro e levei-o para casa para ler. Aí estava uma óptima desculpa para meter conversa com ela. Acho que nem cheguei a meio e desconfio que percebi muito pouco da escrita deste italiano nascido em Cuba. Eu e a Ana ficámos amigos, claro. Mas nada mais do que isso. Sempre fui muito tímido.
Um dia, depois de uma visita de estudo, fiquei a saber por um colega nosso que a Ana não tinha pai. Havia outra mulher além da mãe, uma traição ou uma série delas e, numa bela manhã, o irmão da Ana foi encontrá-lo na garagem, dentro do carro. Morto. Tinha-se enforcado. No Dia do Pai do ano lectivo em que nos conhecemos, a Ana disse que queria falar comigo. Eu fui falar com ela, temendo que o assunto fosse o pai. Era mesmo. Demos muitas voltas ao campo de futebol. Ela falou, falou, torcia as mãos enquanto falava. E eu ao lado dela, chocado e sem saber o que dizer. Pergunto-me o que andará ela a fazer agora. Gostávamos os dois de Nirvana, muito! As minhas memórias da adolescência são quase excessivamente trágicas.
15/02/2009
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